Marília Rodrigues (Belo Horizonte MG 1937 - Rio Acima MG 2009)
Gravadora, desenhista e professora.
Estuda desenho com Haroldo Mattos (1926) na Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte, na qual, mais tarde, trabalha com xilogravura. Consegue bolsa para estudar gravura em metal no Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), com Edith Behring (1916-1996), Anna Letycia (1929) e Rossini Perez (1932), entre 1959 e 1962. Estuda também com Oswaldo Goeldi (1895-1961), na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Em 1963, leciona gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, até 1965, e na Universidade de Brasília (UnB), pela qual se aposenta em 1993. Em 1983, leciona na Escola Guignard e, entre 1985 e 1986, na Oficina de Gravura Sesc Tijuca, no Rio de Janeiro.
Críticas
"Suas obras evidenciam o interesse pela conjunção de técnicas diversas. Nesse sentido, sua gravura abstrata explicita o interesse que, já em Minas, Marília tinha pela reunião de técnicas, ainda que em âmbito figurativo. Outros gravadores do começo dos anos 60 entram na abstração movidos por interesses semelhantes, como Anna Letycia, com quem, aliás, Marília aprende o metal. Conquanto seus percursos não coincidam, ambas deslizam na fronteira da figuração e da abstração, que, em alguma extensão, anulam-se enquanto diferença. Nas obras intituladas Montanha, Marília Rodrigues alude a uma dimensão figurativa de sua abstração: feita com água-forte e ponta-seca, Montanha, de 1961, abstraída a alusão do título, induz o observador a reunir os claros que a compõem como forma, que também poderia representar um bicho; todavia, o título levanta e abaixa a visão nesses claros, escrevendo orografias".
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna
In: GRAVURA: arte brasileira do século XX. Apresentação Ricardo Ribenboim; texto Leon Kossovitch, Mayra Laudanna, Ricardo Resende; design Rodney Schunck, Ricardo Ribenboim; fotografia da capa Romulo Fialdini. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000, p. 18-19.
Depoimentos
"Havia uma incipiente Escola de Belas Artes em Minas Gerais; aliás, duas. Era uma situação muito engraçada, coisas de Minas. Existiam dois artistas proeminentes em Belo Horizonte, na época: Aníbal Mattos e Guignard. Aníbal, pai de Haroldo, era de formação acadêmica tanto no seu trabalho como artista quanto na orientação pedagógica. E Guignard era aquela poesia ambulante. Os dois, obviamente, não deram certo na mesma escola e cada um fundou a sua.
Fui parar na do acadêmico que tinha um filho que não era acadêmico. Ótima pessoa, inteligente e divertido, Haroldo tinha um sistema de trabalho que incentivava a curiosidade permanente do aluno. O envolvimento com técnicas diversas, a experimentação constante e a fuga à estrutura escolar rígida foram muito importantes, no meu caso. Nenhuma das duas escolas era boa; essa divisão foi prejudicial para ambas.
Os alunos das duas escolas se davam muitíssimo bem. Toda uma geração de artistas mineiros foi formada nessa época, apesar das dificuldades. Enquanto os maiorais brigavam, nós dávamos festas memoráveis, numa ou noutra escola. Todo mundo ia, se divertia, havia trocas espontâneas de informação sobre resultados obtidos em trabalho, solidariedade e amizade. Portanto, minha formação foi muito livre, com um grupo de pessoas que aprendia e crescia junto.
Comecei a trabalhar com xilogravura. Era uma técnica bastante divulgada, não havia necessidade de prensas, vernizes etc. Fiz uma boa base de desenho e uma série de xilogravuras focalizando o mistério das cidades históricas mineiras. (...)
Com o resultado precário aumentaram as ansiedades para prosseguir no trabalho. Naquele momento havia um grande rebuliço quanto à inauguração do ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Tinha sido inaugurado com grande pompa por Friedlaender, gravador radicado na França, e era dirigido por Edith Behring. Consegui uma bolsa do MAM e vim para o Rio aprender gravura em metal e voltar para ensinar. (...)
Goeldi foi uma pessoa que me impressionou muito. Foi um contato de apenas um ano, mas muito forte. Estava em férias em Minas quando ele morreu, em fevereiro. Era uma pessoa fantástica; tinha o maior respeito pelo trabalho dos alunos. Apesar de ser um gravador consagrado, um artista muito solicitado, tinha a maior atenção com os trabalhos dos iniciantes. Quando vim para o Rio, avisaram que era muito difícil ser aceita no ateliê na Escola Nacional de Belas Artes porque era muito solicitado e eu não era aluna regular da Escola. Fui assim mesmo, mostrei os meus desenhos para ele e fui convidada a participar do seu grupo. (...)
Houve um debate na Galeria do Banerj, durante a exposição de Axl Leskoschek, em que Frederico Morais levantou uma questão: o porquê de a xilogravura ser uma técnica muito ilustrativa e descritiva enquanto o metal se presta a outra forma de expressão.
No Brasil a gravura em madeira tem uma força muito localizada e uma área de influência bem definida em todo o Nordeste. A literatura de cordel foi durante muito tempo o modo de informação adotado entre as cidades daquela região. Outro aspecto importante a ser considerado é o fato de a xilogravura ser muito mais acessível para a impressão. (...)
Na região centro-sul a divulgação da gravura em metal foi maior. (...)
No caso específico da gravura em metal a inauguração do ateliê do MAM/RJ na década de 60 foi definitiva para essa divulgação".
Marília Rodrigues - Sesc Tijuca, 31 de agosto de 1986
In: TAVORA, Maria Luisa Luz (Org.); FERREIRA, Heloisa Pires (Org.). Gravura brasileira hoje: depoimentos. Rio de Janeiro: Oficina de Gravura SESC Tijuca, 1995. v. 1, 196 p., p.41-42, 55-56.
Exposições Individuais
1962 - Belo Horizonte MG - Primeira individual, na Galeria da UFMG
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAM/BH
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Piccola Galeria de Arte
1967 - Brasília DF - Individual, no Teatro Nacional de Brasília
1969 - Salvador BA - Individual, no MAM/BA
1970 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de colagens, na Galeria do Ibeu
1973 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Chica da Silva
1977 - Brasília DF - Marília Rodrigues: gravuras e colagens, na Oscar Seraphico Galeria de Arte
1978 - Vitória ES - Marília Rodrigues: gravuras, na Galeria de Arte e Pesquisa da UFES
1979 - Porto Alegre RS - Individual, no Centro de Arte Cambona
1982 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na AM Niemayer Galeria de Arte
1986 - Lima (Peru) - Individual, na Galeria Trapezio
1987 - Ouro Preto MG - Individual, no Museu da Inconfidência
1988 - Rio de Janeiro RJ - Marília Rodrigues, no MNBA
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na GB Arte
1993 - Brasília DF - Trajetória, no Museu de Arte de Brasília
1998 - Petrópolis RJ - Individual, na Galeria Sesc Petrópolis
Exposições Coletivas
1961 - Lima (Peru) - Coletiva, no Museu de Reproduciones
1961 - Recife PE - 20º Salão Anual de Pintura, no Museu do Estado de Pernambuco
1962 - Belo Horizonte MG - Dois Gravadores Mineiros, na Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras
1962 - Cuba - 1º Congresso Latino-Americano de Grabado
1963 - Cuba - 2º Congresso Latino-Americano de Grabado
1963 - Rio de Janeiro RJ - 12º Salão Nacional de Arte Moderna - prêmio aquisição
1965 - Curitiba PR - 22º Salão Paranaense de Belas Artes, na Biblioteca Pública do Paraná
1965 - Santiago (Chile) - 2ª Bienal Americana de Grabado
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Londres (Inglaterra) - Brazilian Art Today, no Royal College of Arts
1966 - Rio de Janeiro RJ - 15º Salão Nacional de Arte Moderna
1966 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão de Abril, no Museu de Arte Moderna
1966 - São Paulo SP - 2ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - prêmio aquisição
1967 - Rio de Janeiro RJ - 3ª O Rosto e a Obra, na Galeria Ibeu Copacabana
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1968 - Amsterdã (Holanda) - Kunstenaars Van Nuit Brazilie
1968 - Campo Grande MS - 28 Artistas do Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no Diário da Serra
1968 - Gênova (Itália) - Sept Artistes Brésiliens, na Galerie 5
1968 - Rio de Janeiro RJ - 17º Salão Nacional de Arte Moderna, no Museu de Arte Moderna
1969 - Bradford (Inglaterra) - Bristish Internacional Print Bienniale
1969 - Fortaleza CE - 28 Artistas do Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela
1969 - Grechen (Suíça) - Trienal da Gravura em Cor
1969 - Rio de Janeiro RJ - 18º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no Museu de Arte Moderna - prêmio de viagem ao país
1970 - San Juan (Porto Rico) - 1ª Bienal Latinoamericana de Grabado
1970 - Santiago (Chile) - 4ª Bienal Americana de Grabado
1970 - São Paulo SP - A Gravura Brasileira, no Paço das Artes
1971 - Colombia - 1ª Bienal Americana de Artes Gráficas, no Museu La Tertulia
1971 - São Paulo SP - 3º Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna
1972 - São Paulo SP - 2ª Exposição Internacional de Gravura, no Museu de Arte Moderna
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - Firenze (Itália) - 4ª Bienal Internacional de Arte Grafica
1974 - Madri (Espanha) - Grabadores y dibuyantes Brasileños en el Museo de Arte Contemporaneo de Madrid
1974 - São Paulo SP - 6º Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna
1975 - Paris (França) - Art Grafique Brasilien, no Musée Galliera
1975 - Spoleto (Itália) - Grafica Brasiliana, no Festival dei due Monde
1977 - São Paulo SP - 9º Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna
1978 - Curitiba PR - 1ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade
1978 - Sydney (Austrália) - Exhibition of Ten Brazilian Printmakers
1979 - Argentina - Trienal Latinoamericana Del Grabado
1979 - Tóquio (Japão) - The Ilth Internacional Bienal Exhibition of Prints in Tokyo
1980 - México - 2ª Bienal Ibero-Americana de Arte
1981 - Nova York (Estados Unidos) - Prints of Brazilian Women Artists, no The Brazilian Cultural Foundation
1981 - Valparaiso (Chile) - 5ª Bienal Internacional de Valparaiso
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna
1984 - Curitiba PR - 6ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba. A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Casa Romário Martins
1984 - Rio de Janeiro RJ - A Xilogravura na História da Arte Brasileira, na Galeria Sérgio Milliet
1984 - Rio de Janeiro RJ - Doações Recentes 82-84, no Museu Nacional de Belas Artes
1989 - Belo Horizonte MG - Gravura em Metal no Brasil, no Espaço Mascarenhas
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos Oitenta, na Casa de Cultura Laura Alvim
1989 - Rio de Janeiro RJ - Nossos Anos Oitenta, na GB Arte
1990 - Brasília DF - Arte Brasília, no Museu de Arte de Brasília
1990 - Curitiba PR - 9ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura
1991 - Brasília DF - Arte Pra Rua, Fundação Cultural do Distrito Federal, painel afixado no Hospital de Taguatinga
1991 - São Paulo SP - O Que Faz Você Agora Geração 60?: jovem arte contemporânea dos anos 60 revisitada, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
1992 - Curitiba PR - 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba/Mostra América, no Museu da Gravura
1992 - Rio de Janeiro RJ - Gravura de Arte no Brasil: proposta para um mapeamento, no Centro Cultural Banco do Brasil
1993 - Brasília DF - Trajetória, no Museu de Arte de Brasília
1994 - Rio de Janeiro RJ - A Xilogravura na Historia da Arte Brasileira, na Rio Arte
1994 - Rio de Janeiro RJ - Poética da Resistência: aspectos da gravura brasileira, no Museu de Arte Moderna
1994 - São Paulo SP - Poética da Resistência: aspectos da gravura brasileira, na Galeria de Arte do Sesi
1995 - Brasília DF - 2ª Revisão da Gravura. Testemunhos da Utopia, no Espaço Cultural 508 Sul. Galeria Rubem Valentim
1996 - Rio de Janeiro RJ - Amigos do Calouste, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian
1997 - Barra Mansa RJ - Traços Contemporâneos: homenagem a gravura brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Florianópolis SC - Encontros à Beira do Cais, no Museu Victor Meirelles
1999 - Niterói RJ - Mostra Rio Gravura. Acervo Banerj, no Museu do Ingá
1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. Gravura Moderna Brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no Museu Nacional de Belas Artes
2000 - Rio de Janeiro RJ - Sessenta Anos de Arte, no Ibeu, Galerias Copacana e Madureira
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - Anna Letycia, Alex Gama, Marília Rodrigues, Uiara Bartira, no Centro Cultural Correios
2003 - Rio de Janeiro RJ - Tesouros da Caixa: arte moderna brasileira no acervo da Caixa, na Caixa Cultural
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
2006 - Recife PE - Arte Moderna em Contexto: coleção ABN AMRO Real, no Instituto Cultural Banco Real
2006 - Rio de Janeiro RJ - Arte Moderna em Contexto: coleção ABN AMRO Real, no Museu de Arte Moderna
2006 - São Paulo SP - Arte Moderna em Contexto: coleção ABN AMRO Real, no Banco Real
2007 - Belo Horizonte MG - Neovanguardas, no Museu de Arte da Pampulha
Fonte: Itaú Cultural