Heloisa Pires Ferreira (Teresópolis RJ 1943)
Gravadora e professora.
Estuda xilogravura com José Altino, de 1969 a 1971, desenho com Zaluar, gravura em metal com Marília Rodrigues, entre 1972 e 1976, e com Anna Letycia e Mario Dóglio, em 1978, na Oficina de Gravura do Ingá, em Niterói. De 1969 a 1972, leciona na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro. Com bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, viaja em 1978 para Espanha e Portugal, onde freqüenta a Cooperativa de Gravadores Portugueses. Em 1983, é convidada especial do 2º Encontro de Animadores Culturais, em Monaga, Venezuela. No mesmo ano, assessora a montagem da Oficina de Gravura Sesc Tijuca, no Rio, onde é coordenadora e professora, de 1984 a 1999. Participa do projeto e da organização do livro Gravura Brasileira Hoje: Depoimentos.
Críticas
"Admirável, a gravura de Heloisa Pires Ferreira: do gênero alto, epidítico, ela acolhe a duplicidade que, habitualmente formulada como oposição, pertence, contudo, a uma única vidência. Para lá da divisão entre o cósmico e o político, a intermetaforização: descrevendo o sol que se metamorfoseia em cores e seres, Heloisa exibe a multiplicidade devinda como anelante de unificação não da unidade de que procedeu, mas da que está por vir. Sóis, luas, pavões, ramagens, que devêm, ora como agregações, ora como metamorfoses, são efeito, metaforicamente, da expansão e retração cósmicas, irisando-se, a um tempo, metafísica e moralmente. O Múltiplo anseia pelo Um, obra do amor e da justiça; o fracionamento do Um como Múltiplo não é, porém, obra do ódio ou da injustiça, mas devir, devir do próprio Amor, enquanto provido de muitas faces, que, no sensível, contempla o perfeito semblante do Um. O discurso cósmico é imediatamente político como alegoria do que Heloisa Ferreira denuncia na América Latina, o ódio, a injustiça, que produzem uma unificação sádica, exemplar na canalha chafurdante, mas não menos uma divisão perversa, operada pela mesma canalha do Bocaça nativo, porque, aí, sem medida. O que se propõe na alegoria e na gravura, que delicadamente expõe os aspectos da metamorfose, é o desejo em conflito com a violência: em Heloisa, a estética e a moral cruzam-se na gravura, contemplativas e ativas a um só tempo".
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna
GRAVURA : arte brasileira do século XX. Apresentação Ricardo Ribenboim; texto Leon Kossovitch, Mayra Laudanna, Ricardo Resende; design Rodney Schunck, Ricardo Ribenboim; fotografia da capa Romulo Fialdini. São Paulo : Itaú Cultural : Cosac & Naify, 2000, p. 22.
Depoimentos
"Eu mesma, nascida numa família de elite, tinha como espelho meus pais, donos de uma consciência política invejável. (...) O questionamento dos valores de vida era colocado à mesa todo dia, discutíamos esses valores. Era muito natural, então, que sendo uma pessoa sensível, apaixonada pelo desenho e pela pintura, me deixasse envolver com as questões da favela vizinha a minha casa. (...)
Foi em 1966 que veio a proibição de continuar utilizando o espaço das favelas para questionar coisas. Então, me desliguei. (...) Fui para São Paulo, trabalhei na Escola Antroposófica. Voltei, fui dar aula na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues e Noêmia Varella.
Mas o fato de ter trabalhado com os jovens favelados mexeu muito com minha cabeça. Eu via todas as pessoas irem fazer faculdade, levando adiante os estudos e tal, eu só me animava a desenhar e pintar. (...) Fiz vestibular para serviço social, uma coisa interessante. . . Cheguei a passar para a faculdade e não suportei. (...) Como eu gostava de tocar flauta na mata, isto é, tinha tanto prazer com isso como pintar e desenhar, surgiu a possibilidade de eu ir dar aula numa escola em São Paulo, na Rudolf Steiner. Lá, eu dava aula de arte para as crianças no período da manhã e recebia aula de pintura à tarde. Fiz escultura, mexi com minha voz, aperfeiçoei a flauta, aprendi tapeçaria, carpintaria e xilo. (...) Quando voltei, fui imediatamente dar aula na Escolinha de Arte do Brasil e fazer xilogravura com José Altino.
Tive umas aulas de desenho com Abelardo Zaluar, e imprimi na casa da Edith Behring todos os sábados durante um ano. Essa experiência foi fantástica: ela precisava, por causa da idade avançada, de um impressor que fosse calmo e não a perturbasse. Minha gravura é muito minuciosa, sou 'alta estação' e, ao mesmo tempo, profundamente concentrada. (...) A cada sábado, ela me dava chapas diferentes para imprimir e eu aprendia muito. Terminei recebendo um senhor curso de gravura! (...)
Sempre usei duzentas mil ferramentas. De ácido, só o percloreto, com a chapa virada para baixo para dar certos efeitos. E ninguém pode mexer, senão não dá a renda lindíssima na textura da chapa. Na escolinha, eles diziam que aquilo precisava de paciência chinesa. Isso pode ser fruto da meditação, pois eu já fazia meditação antes de fazer gravura. (...) Para mim, análise, arte e meditação têm muita coisa em comum. (...)
De repente, começaram a surgir figuras humanas, sempre ligadas a algum centro. Os labirintos desapareceram, surgiram no lugar deles as figuras em busca de um centro e depois começaram a vir os bichos que iam para algum centro também. Eram uns pavões bem elegantes e todos cheios de penugem. (...) Eram pássaros imensos, todos cheios. Sempre havia centros em volta e esses centros se tornaram centro mesmo. Depois eles se tornaram sóis e luas. Eu tinha gravuras chamadas Sol Negro, Sol Vermelho, Sol Amarelo. (...) Os bichos começaram a ficar quase sem plumagens e as plumagens se transferiram para os galhos que surgiam interferindo com os bichos. Esses bichos continuaram, desapareceram todos os galhos, ficaram sozinhos e ficaram os sóis sozinhos. Comecei a trabalhar nos sóis que apareceram em céus. (...) Esses sóis se expandiram no espaço. Falei da morte da América Latina, com suas divisões, dilaceramentos e incomunicabilidade, quase todos os países chorando o sofrimento de seus povos sob o domínio da ganância e do poder, tendo o sol como símbolo de vida e de esperança".
Heloisa Pires Ferreira - Sesc Tijuca, 22 de agosto de 1986 e 2 de agosto de 1997
GRAVURA : arte brasileira do século XX. Apresentação Ricardo Ribenboim; texto Leon Kossovitch, Mayra Laudanna, Ricardo Resende; design Rodney Schunck, Ricardo Ribenboim; fotografia da capa Romulo Fialdini. São Paulo : Itaú Cultural : Cosac & Naify, 2000, p. 142.
Exposições Individuais
1977 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria de Arte Palácio Farroupilha
1979 - Quito (Equador) - Individual, na Galeria de Arte Caspicara
1980 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1982 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no CCCM
1983 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria de Arte Arecip
1988 - Barra Mansa RJ - Individual, na Galeria do Sesc Barra Mansa
1989 - Campo Grande MS - Individual, no Centro Cultural Mato Grosso do Sul
1992 - Rio de Janeiro RJ - Espaço Partido, no Mnba
1993 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ
1995 - Rio de Janeiro, Petrópolis e Teresópolis RJ - 25 Anos de Gravura, na Galeria do Sesc Tijuca, Petrópolis e Teresópolis
1999 - Rio de Janeiro RJ - Artes de Portas Abertas, em Santa Teresa
2000 - Rio de Janeiro RJ - Painel da Paz - Usina da Cidadania
Exposições Coletivas
1973 - Niterói RJ - Mostra de Artes Visuais do Rio de Janeiro
1974 - Niterói RJ - Mostra de Artes Visuais do Rio de Janeiro
1974 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Coletiva, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1974 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Arte Moderna, no Palácio da Cultura
1974 - San Juan (Porto Rico) - 3ª Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Carybe
1975 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Arte Moderna
1976 - Rio de Janeiro RJ - Quatro Gravadores, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1977 - Assunção (Paraguai) - Quatro Grabadores y Tres Dibujantes Brasileños, no Centro de Estudios Brasileños
1977 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Carioca de Arte, na Funarte - prêmio aquisição
1977 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Casa da Bahia, no MEC - Prêmio Casa da Bahia
1978 - Niterói RJ - Oficina de Gravura, Um Ano de Trabalho, no Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro
1978 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Carioca, 16 Novos Gravadores, no Mnba
1978 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Mnba
1978 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Carioca de Arte
1978 - Rio de Janeiro RJ - 18º Arte e Pensamento Ecológico, na Biblioteca Euclides da Cunha
1979 - Brasília DF - Gravadores Cariocas, na Galeria de Arte Oswaldo Goeldi
1979 - Curitiba PR - 2ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Centro de Criatividade de Curitiba - premiada
1979 - Mendoza (Argentina) - 27 Grabadores Brasileños, no Museo Municipal de Arte Moderno
1979 - Quito (Equador) - Quatro Gravadores Brasileiros, no Centro de Estudios Brasileños
1979 - Rio de Janeiro RJ - Gravura, no CCCM
1979 - Rio de Janeiro RJ - Salão Carioca
1979 - San Juan (Porto Rico) - 4ª Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Carybe
1980 - Rio de Janeiro RJ - Salão Carioca de Arte
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1981 - Rio de Janeiro RJ - Destaque Hilton de Gravura, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Gravuras, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa
1981 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem a Anna Letycia, no Ibeu
1981 - Rio de Janeiro RJ - Salão Carioca
1981 - San Juan (Porto Rico) - 5ª Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Carybe
1982 - Curitiba PR - 5ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, no Casa da Gravura Solar do Barão
1982 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Belas Artes, no MAM/RJ
1982 - Rio de Janeiro RJ - Salão Carioca de Arte - premiada
1983 - San Juan (Porto Rico) - 6ª Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Carybe
1983 - Taipen (Taiwan) - International Print Exhibit
1985 - Taipen (Taiwan) - International Print Exhibit
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1978 a 1985, Acervo, no CCCM
1987 - Rio de Janeiro RJ - Dez Anos de Trabalhos da Oficina de Gravura do Ingá, no Espaço Cultural Petrobrás
1987 - Tiradentes MG - Acervo, na Casa de Gravura Largo do Ó
1992 - Rio de Janeiro RJ - ELAEA 92, Encontro Latino-Americano de Educação Através da Arte, no Palácio da Cultura
1992 - Rio de Janeiro RJ - Encontros com Brasileiros, na Casa de Cultura Laura Alvim
1994 - Rio de Janeiro RJ - Gravura Brasileira, na GB Artes
1994 - Rio de Janeiro RJ - Oficina de Gravura Sesc Tijuca 10º Ano, na Sala Cândido Portinari/UERJ
1994 - Teresópolis RJ - Oficina de Gravura Sesc Tijuca 10º Ano, na Galeria de Arte do Sesc Teresópolis
1994 - Petrópolis RJ - Oficina de Gravura Sesc Tijuca 10º Ano, na Galeria de Arte do Sesc Petrópolis
1994 - Barra Mansa RJ - Oficina de Gravura Sesc Tijuca 10º Ano, na Barra Mansa
1994 - Nova Iguaçu RJ - Oficina de Gravura Sesc Tijuca 10º Ano, na Galeria de Arte do Sesc Nova Iguaçu
1995 - Rio de Janeiro RJ - Quatro Gravadores, no CCCM
1996 - Rio de Janeiro RJ - Setenta Anos de Arte em Santa Teresa, no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo
1997 - Rio de Janeiro RJ - Universidade III, na Universidade Estácio de Sá
1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. Gravura Moderna Brasileira: Acervo Museu Nacional de Belas Artes, no Mnba
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Alex Flemming e Heloisa Pires Ferreira, no Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP
Fonte: Itaú Cultural