Miguel Bakun

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Biografia

Miguel Bakun (Marechal Mallet PR 1909 - Curitiba PR 1963)

Pintor e desenhista.

É considerado um dos pioneiros da arte moderna no Paraná. Filho de imigrantes eslavos, ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, em 1926. Transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro em 1928, conhece o marinheiro e artista José Pancetti, que o estimula a desenhar. Em 1930 é desligado da Marinha e volta para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante e, mesmo sem formação sistemática, dedica-se à pintura. Para manter-se financeiramente, executa anúncios, letreiros e decorações de interiores. Mais tarde, conhece os pintores Guido Viaro e João Baptista Groff. Em busca de um ambiente cultural mais propício, volta ao Rio de Janeiro em 1939, reencontrando o pintor José Pancetti. Mas, diante das dificuldades encontradas em se estabelecer como pintor, retorna em definitivo para Curitiba no início de 1940. Instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura a vários artistas, onde convive com os pintores Alcy Xavier, Loio-Pérsio, Marcel Leite e Nilo Previdi. A década de 1950 é a mais produtiva do artista: dedica-se à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, e, sobretudo, à pintura de paisagem. A partir de 1960, realiza obras de temática religiosa. Nessa época, há um predomínio do abstracionismo nas poucas exposições da cidade, marginalizando os artistas figurativos. Miguel Bakun sente esse processo e sofre com sua precária situação econômica. Na ocasião, recebe tratamento médico por causa de forte depressão. No início de 1963, aos 54 anos, o artista suicida-se em seu ateliê.

Comentário crítico

Com uma pintura de acentos pós-impressionistas e expressionistas, Miguel Bakun é considerado um dos pioneiros da arte moderna no Paraná. Filho de imigrantes eslavos, ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, no ano de 1926. É transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro em 1928, onde conhece o jovem marinheiro e artista ainda desconhecido José Pancetti (1902 - 1958). Estimulado pelo amigo, começa a desenhar, seguindo sua inclinação de infância. Realiza desenhos nos diversos períodos em que precisa ficar de repouso por causa de acidentes. Em 1930 é desligado da Marinha por incapacidade física, em conseqüência de uma queda do mastro do navio. Transfere-se para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante. Logo conhece os pintores Guido Viaro (1897 - 1971) e João Baptista Groff (1897 - 1970), que o incentivam a pintar. Autodidata, dedica-se profissionalmente à pintura até o fim de sua vida.

Em busca de um ambiente cultural mais propício, volta ao Rio de Janeiro em 1939. Reencontra Pancetti e realiza uma série de paisagens da cidade, principalmente no morro Santa Tereza. Mas diante das dificuldades encontradas em se estabelecer como pintor, retorna em definitivo para Curitiba no início de 1940. Instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura e passa a conviver com outros artistas avessos ao academismo, como Alcy Xavier (1933), Loio-Pérsio (1927), Marcel Leite e Nilo Previdi (1913 - 1982). Esse contato permite que Bakun conheça os valores plásticos da pintura. A surpreendente emotividade dos quadros que pinta supera as deficiências de sua formação, sendo logo notado pela crítica. Em texto de 1948, o crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966), após visita à cidade, aponta para o espírito van-goghiano de Bakun, ressaltando que lhe falta noção da tela como um todo e há excesso de empastamento. Contudo, conclui sua crítica dizendo: "o entusiasmo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos".

A partir de então a comparação com o artista holandês se torna recorrente, tanto com relação à pintura de Bakun quanto por seu temperamento melancólico e depressivo. O próprio artista a aceita, reconhecendo sua admiração por Vincent van Gogh (1853 - 1890), cujos quadros conhecia em reproduções ou pessoalmente. Outro ponto de semelhança entre ambos é uma certa religiosidade mística em conflito com um sentimento de profunda solidão, que de modo e intensidade diversos manifestam-se em suas obras.

A década de 1950 é a mais produtiva de Bakun, que se dedica à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, mas, sobretudo, à pintura de paisagem, cuja temática mais recorrente são os arredores de Curitiba, com suas matas e casas simples e a intimidade dos fundos de quintal. É nesse último gênero que encontra seu melhor desempenho artístico. O desconhecimento das leis canônicas da perspectiva para a construção do espaço pictórico faz com que o artista invente de modo prático e intuitivo suas próprias soluções. A elaboração de um espaço quase sem profundidade e pontos de fuga, construído pela corporeidade da tinta, singulariza suas paisagens.

Apesar de utilizar esboços a lápis na tela ou no papel, o desenho não comparece em suas pinturas. As formas são criadas mediante o manejo da própria matéria pictórica. Sua paleta restringe-se a tons de azul, verde, branco, por vezes laranja e vermelho e, a cor preferida, amarelo. A variação entre áreas densas e outras ralas, chegando às vezes à ausência de tinta, constitui a espacialização rítmica de suas obras. Os ambientes, em geral familiares e cotidianos como árvores no fundo do quintal, cercas, portas de madeira gastas em casas simples, beiras de estrada, bosques, adquirem um ar de mistério.

O misticismo panteísta de Miguel Bakun leva-o a uma profunda vinculação com a natureza. Para ele, Deus está presente em todos os elementos vivos, animais ou vegetais, e as cores podem revelar esse componente sagrado. É nesse sentido que se devem fazer restrições aos críticos que vêem em seus trabalhos um viés puramente expressionista. Se por um lado seu olhar singular manifesta-se com liberdade, por outro o respeito pela natureza não o afasta da vontade de representação do real. O que vemos é um envolvimento entre o artista e a paisagem, no qual homem e natureza são permeáveis um ao outro. Isso se revela na sensação de proximidade espacial proporcionada por suas telas.

Em fins do anos 1950 o artista introduz estranhas criaturas no quadro, numa visão animista da natureza ainda que alguns críticos, equivocadamente, vejam influência do surrealismo em seu trabalho. No início dos anos 1960 realiza obras de temática religiosa. Sente-se marginalizado com a chegada do abstracionismo, que começa a dominar as poucas exposições em Curitiba. Sua situação econômica também se torna cada vez mais precária. Esses fatores contribuem para o agravamento de sua depressão, apegando-se como nunca à religião. Em fevereiro de 1963 suicida-se em seu ateliê.

Críticas

"Oscar Wilde dizia que a natureza é a criação da arte. (...) Miguel Bakun era um artista que não pertencia a nenhum movimento. A sua arte fluía com naturalidade, mas não sem um aparente sofrimento. As dúvidas, as perquirições, o misticismo de Miguel Bakun tinham a ver com a sua arte unicamente porque se tratava da mesma pessoa. Não há dúvida que, dentro daquele conceito de Oscar Wilde, Miguel Bakun é fértil exemplo de que a natureza foi sua criação. Era a maneira de fazer as coisas e não porque assim se desejasse conscientemente, ou culturalmente, executa-la. Ou antes, não era um programa. Era uma maneira de interpretar o mundo, através dos ângulos de sua própria expressão. Não se busque, pois, misticismo, angustia no trabalho, mas sim no homem. Essa angústia, porém, também tinha o seu aspecto mais simples. Muito dela derivada de uma ânsia de saber. Talvez se as respostas fossem mais convincentes, ou se lhe dessem trabalho e estímulo relativos às respostas que pretendia obter, não teria havido o desenlace. Porque não havia, em Miguel Bakun, uma expectativa de inutilidade, ou um auto-desencorajamento. Tudo o que Miguel Bakun fez foi derivado de uma decisiva deliberação, em sua arte, em sua vida. As dúvidas que o assaltavam e a angústia que carregava consigo não eram de molde a impedi-lo de executar o que estivesse dentro de sua deliberação. Por isso a sua arte é uma pintura forte, enérgica. Ao mesmo tempo lírica. Bakun gostava da vida e tanto que era, o centro de suas atenções. O seu ato final está a demonstrar esta circunstância".
Eduardo Rocha Virmond
VIRMOND, Eduardo Rocha. [Texto]. In: BAKUN, Miguel. Miguel Bakun, 25 anos depois. Curitiba: Sala Miguel Bakun/Secretaria de Estado da Cultura, 1989. p. 8.

"Estranhando a qualidade da gravura em pintores ainda bisonhos no óleo ou na aquarela, ouvi de Viaro, essa afirmação comovedora: 'é que a gravura vem de dentro'. Nela se exprime anseios e emoções que não tem sua pureza desviada pela sensualidade da cor, nem pelas injunções do mundo objetivo. A falta de mercado para as telas comuns e a ausência de crítica, talvez expliquem a relativa insignificância da pintura propriamente dita. Bakun tem qualidades, entretanto, é um temperamento van-goghano. É um impulsivo a quem falta a noção da tela como todo e que abusa das cores quentes sem nenhum contrapeso. Por outro lado está ainda preso a uma concepção perigosa de matéria. O empastamento excessivo confunde os valores e atenua a limpeza do colorido. O entusiamo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos".
Sérgio Milliet
MILLIET, Sérgio. Artistas do Paraná. In. PROLIK, Eliane. A Natureza do destino: Miguel Bakun. 2000. 59 f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização - História da Arte)-Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, 2000. p. 47. [Texto publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, fevereiro de 1948]

"Na elaboração de suas paisagens, algumas imagens chegaram a ser realizadas em pequena escala, e posteriormente engrandecidas e reelaboradas com mais preciosismo e detalhes. Mas, no todo, a produção de Bakun se apropria da qualidade de pequena escala, recorrendo ao intimismo, a delicadeza e a possibilidade de discurso que daí provem, uma superfície circunscrita que nos faz olhar dentro e sobre a tela. Uma arte cujo espaço sugere certo acanhamento e, simultaneamente, uma sabedoria das possibilidades e dos limites de seu meio, sem que lhe pesem a monumentalidade e a oficialidade ou a frouxidão que algumas pinturas quase murais demonstram com suas pinceladas de caráter ilustrativo. Esse tamanho de visualidade e ação escolhido pelo artista permite a formulação de um todo enriquecedor, problematizado e instável, que lhe cabe no manejo das mão. Fazendo do tempo de sua realização um único impulso, inteiro, sem paradas e retomadas da pintura. O caráter não vibrante da luz, não transparente da matéria, e a espacialidade não fluída e extensa propõem-nos um transitar justo, apertado e escorregadio. O artista se põe a construir a espessura do mundo, e o pequeno formato nos apresenta a condensação de tal energia".
Eliane Prolik
PROLIK, Eliane. Pequena dimensão - espessamento da pintura. In. ______. A Natureza do destino: Miguel Bakun. 2000. 59 f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização - História da Arte)-Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, 2000. p. 20.

Exposições Individuais

1946 - Marechal Mallet PR - Individual, no Salão da Prefeitura
1949 - Curitiba PR - Individual, no Teatro Guaíra
1957 - Curitiba PR - Individual, na sala de exposição da Biblioteca Pública do Paraná

Exposições Coletivas

1944 - Rio de Janeiro RJ - Exposição de Arte Paranaense
1946 - Curitiba PR - 3º Salão Paranaense de Belas Artes
1947 - Curitiba PR - 4º Salão Paranaense de Belas Artes, no Edifício do Orfeão da Escola Normal de Curitiba - medalha de ouro
1947 - Paraná - Expõe no Clube Concórdia - medalha de ouro
1948 - Curitiba PR - 5º Salão Paranaense de Belas Artes, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná - menção honrosa
1948 - Paranaguá PR - Arte do Paraná, no Clube Literário
1949 - Curitiba PR - 6º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto - medalha de bronze
1950 - Curitiba PR - 7º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto - medalha de prata
1951 - Curitiba PR - 8º Salão Paranaense de Belas Artes, no Departamento de Cultura - Sala de Exposições
1952 - Curitiba PR - Mostra Permanente de Artistas Paranaenses
1953 - Paraná - Centenário da Emancipação Política do Paraná
1953 - Paraná - 6º Salão de Belas Artes da Primavera - medalha de bronze
1956 - Curitiba PR - 12º Salão Paranaense
1956 - s.l. - 9º Salão da Primavera do Clube Concórdia
1957 - São Paulo SP - Pintores do Paraná, no Masp
1958 - Curitiba PR - 6 Pintores do Paraná, na Galeria Cocaco
1959 - Curitiba PR - 16º Salão Paranaense
1959 - s.l. - 11º Salão da Primavera do Clube Concórdia
1960 - Curitiba PR - 12º Salão da Primavera - prêmio aquisição
1960 - Curitiba PR - 1º Salão Anual de Curitiba - menção honrosa
1960 - Curitiba PR - 17º Salão Paranaense
1961 - Curitiba PR - 13º Salão da Primavera - medalha de prata
1961 - Curitiba PR - 2º Salão Anual de Curitiba
1961 - Curitiba PR - 18º Salão Paranaense
1962 - Curitiba PR - Salão do Paraná, na Biblioteca Pública do Paraná - medalha de ouro

Exposições Póstumas

1963 - Curitiba PR - 20º Salão Paranaense de Belas Artes. Sala Especial, na Biblioteca Pública do Paraná
1974 - Curitiba PR - Retrospectiva Miguel Bakun, no Salão de Exposições do BADEP
1978 - Curitiba PR - Tributo à Bakun, no Clube Curitibano
1980 - Curitiba PR - Miguel Bakun: retrospectiva, na Sala Miguel Bakun
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal de São Paulo
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - Curitiba PR - Obras Inéditas, no Studio R. Krieger
1989 - Curitiba PR - Miguel Bakun, 25 Anos Depois, na Secretaria de Estado da Cultura
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - Curitiba PR - A Arte Contemporânea da Gravura, no Museu Metropolitano de Arte de Curitiba
1998 - Curitiba PR - Arte Paranaense: movimento de renovação, no Conjunto Cultural da Caixa
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy

Fonte: Itaú Cultural