Levino Fânzeres (Cachoeiro de Itapemirim ES 1884 - Rio de Janeiro RJ 1956)
Pintor e professor.
Levino de Araújo Vasconcelos Fanzeres muda-se para o Rio de Janeiro jovem, levado pelo pai, Salvador Fanzeres. Estuda no Liceu de Artes e Ofícios com Artur Machado e Evêncio Nunes (1870-s.d.). Em 1910, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), onde torna-se discípulo de João Zeferino da Costa (1840-1915) e Baptista da Costa (1865-1926). No ano seguinte, participa pela primeira vez da Exposição Geral de Belas Artes e recebe uma menção honrosa. Em 1912, ganha o prêmio de viagem à Europa com a tela Remorso de Judas. Passa quatro anos em Paris, onde tem aulas com Fernand Cormon (1845-1924), Henri Chartier (1859-1924) e Gustave Debrié. Pinta paisagens dos arredores da cidade. Quando retorna, em 1916, faz uma exposição individual no Rio de Janeiro e funda a Colméia dos Pintores do Brasil, curso gratuito de pintura de paisagem ao ar livre, que funciona na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Ali orienta vários alunos, como Garcia Bento (1897-1929), Jurema Albernaz, Codro Palissy, Antônio Cotias, Miguel d'Ambra e Alfredo Rodrigues. Em 1921, recebe a grande medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes. Há quadros seus nas coleções das prefeituras de São Paulo, de Belém e de Belo Horizonte, assim como no palácio de governo do Espírito Santo. A Colméia continua funcionando após sua morte.
Comentário Crítico
Levino Fanzeres recebe o prêmio de viagem à Exterior graças a uma pintura histórica, no segundo ano em que participa da Exposição Geral de Belas Artes. Entretanto, ele é quase exclusivamente um pintor de paisagens.
Vai a Paris, mas não se deixa influenciar pelas novidades artísticas da época. Estuda em ateliês de pintores acadêmicos1 e sai para pintar os arredores da cidade. O impressionismo gera nele apenas um interesse tardio e efêmero2. Os únicos pontos em comum com o movimento são o fato de ele pintar ao ar livre e de representar por vezes a mesma paisagem em diversos horários, registrando as mudanças de luz.
Volta ao Brasil em 1916, mas não à Escola Nacional de Belas Artes (Enba). É desprezado por não inovar, não expressar algo de particular e pessoal em sua obra. O crítico e jornalista Angyone Costa, ao tratar de Edgar Parreiras, desaprova Fanzeres: "...sua paisagem é bem estudada, mas a sua interpretação carece de individualidade e de renovação... [é um lástima] que elle venha a confinar-se pintando coisas com tendências a oleografias, como os quadros de molduras sumptuosas, do Sr. Levino Fanzeres."3 O crítico José Roberto Teixeira Leite considera ser essa a mais exata definição da obra do pintor.4
No entanto, a cor nas telas de Fanzeres é elogiada, tida por mais vívida5 e menos monótona6 do que a do seu mestre João Baptista da Costa (1865-1926). Geralmente usa cores luminosas, mas por vezes transmite um sentimento angustiado em razão dos tons rebaixados e soturnos, marrons e avermelhados, que emprega nos crepúsculos.7 De fato, são fortes e vibrantes os verdes das paisagens de colinas com vegetação. Já nas vistas com água, mar ou rio, os tons são pastéis e mais claros.
O desenho é sempre correto, mas a composição é conservadora. Muitas vezes se repete o esquema de um primeiro plano de onde parte um rio ou um caminho que atravessa o médio plano e faz a ligação com uma linha do horizonte cortada por montanhas ou árvores. Tudo muito centrado.
Assim, reúnem-se em Fanzeres o academicismo das técnicas de pintura e o modernismo da pintura ao ar livre e dos ideais românticos do artista artesão em comunhão com a natureza, que ele realiza ao criar o curso de pintura na Quinta da Boa Vista, a Colméia dos Pintores do Brasil.
Notas
1 LOPES, Almerinda da Silva. PASSAGENS e itinerários da arte: Homero Massena, Levino Fanzeres e Orlando da Rosa Farya. Vilha Velha: Fundação Vale do Rio Doce, 2005, s/ p.
2 Idem.
3 COSTA, Angyone. A inquietação das abelhas. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello & Cia, 1927, p. 16.
4 LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988, p. 190.
5 Idem.
6 Silva, Nogueira da; in: PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969, p. 201-202.
7 LOPES, Almerinda da Silva. PASSAGENS e itinerários da arte: Homero Massena, Levino Fanzeres e Orlando da Rosa Farya. Vilha Velha: Fundação Vale do Rio Doce, 2005, s/ p.
Críticas
"Paisagista e figurista, Levino Fanzeres tanto apresentava a paisagem que procurava fazer como o seu mestre Batista da Costa, de quem guarda maior influência, aprendendo com ele toda a poesia, como fixava a história e o gênero. Nogueira da Silva dizia em 1912: ´Levino Fanzeres, que se mostra um perfeito conhecedor de nossa paisagem, é igualmente forte na marinha. ´ (...) Trabalhador destemido, não parou nunca, produziu sempre, expôs sempre aqui, no Norte como no Sul. Espalha pelo Brasil, que tanto tem pintado, as suas paisagens, as suas marinhas, os seus interiores".
Carlos Rubens
RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Nacional, 1941.
"Fanzeres foi paisagista, um pouco à maneira de Batista da Costa, se bem que possuísse um sentimento mais vívido da cor e da textura. Como os impressionistas, chegou a dar, de um mesmo sítio natural, diferentes versões, conforme a variação atmosférica do momento da execução: manhã, tarde, cair da noite. Sob tal aspecto, afastou-se da execução minuciosa e realista do antigo mestre, embora lhe faltassem os dons de paisagista que naquele abundavam. Na verdade, Levino Fanzeres foi artista medíocre".
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Acervos
Acervo Cultural da Assembléia Legislativa - Vitória ES
Acervo Cultural do Palácio Anchieta - Vitória ES
Associação Brasileira de Imprensa - ABI - Rio de Janeiro RJ
Museu Antônio Parreiras - Niterói RJ
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Palácio Rio Negro - Petrópolis RJ
Pinacoteca da Independência de Belém - Pará
Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp - São Paulo SP
Pinacoteca do Palácio do Governo - Belém PA
Pinacoteca do Palácio do Governo do Paraná
Palácio Guanabara - Rio de Janeiro RJ
Palácio Rio Negro - Petrópolis RJ
Prefeitura de Belo Horizonte - Minas Gerais
Prefeitura de Paranaguá - Paraná
Prefeitura Municipal de Cachoeiro do Itapemirim - Espírito Santo
Prefeitura Municipal de Santa Leopoldina - ES
Prefeitura Municipal de Vitória - ES
Exposições Individuais
1902 - Rio de janeiro RJ - Individual, no Palácio Petit-Trianon, sede da Academia Brasileira de Letras, ABL
1912 - Vitória ES - Individual, no Instituto de Belas Artes
1916 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1916 - São Paulo SP - Individual, na Rua Líbero Badaró, 66
1920 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na sede da ABL
1923 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1923 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Jorge
1923 - São Paulo SP - Individual, no Grêmio Literário "Colméia"
1927 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Jorge
1932 - Cachoeiro do Itapemirim ES - Individual
1934 - Rio de Janeiro RJ - Individual
1936 - Buenos Aires (Argentina) - Individual
Exposições Coletivas
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa
1912 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem à Europa
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1920 - Rio de Janeiro RJ - 27ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de prata
1922 - Rio de Janeiro RJ - 29ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba|
1923 - Rio de Janeiro RJ - 30ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1924 - Rio de Janeiro RJ - 31ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1930 - Nova York (Estados Unidos) - The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no Nicholas Roerich Museum
1933 - Rio de Janeiro RJ - 39ª Exposição Geral de Belas Artes, na Escola Nacional de Belas Artes
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Nova York (Estados Unidos) - Coletiva de artistas brasileiros
1935 - Rio de Janeiro RJ - Salão da Sociedade Brasileira de Belas Artes
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - Porto Alegre RS - 2º Salão do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1949 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Municipal de Belas Artes
Exposições Póstumas
1989 - Vitória ES - Individual, na Galeria de Arte Álvaro Conde
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pesp
1995 - Belém PA - Caminho das Águas, no Museu de Arte de Belém
2005 - Vitória ES - Passagens e Itinerário da Arte, no Museu Vale do Rio Doce
2010 - São Paulo SP - 6ª sp-arte, na Fundação Bienal
Fonte: Itaú Cultural