França Júnior (Rio de Janeiro RJ 1838 - Poços de Caldas MG 1890)
Pintor, dramaturgo, advogado, jornalista, político.
Em 1862, reside em São Paulo, Joaquim José da França Júnior forma-se na Faculdade de Direito de São Paulo. De 1863 a 1867, é secretário da presidência do Estado da Bahia. Em 1873, participa da comissão que representa o Brasil na Exposição Universal de Viena. No Rio de Janeiro, em 1880, faz curso de pintura com o aquarelista alemão Benno Treidler (1857 - 1931). Entre 1882 e 1884, freqüenta as aulas de paisagem na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, como amador, estuda com Georg Grimm (1846 - 1887) e participa das excursões do Grupo Grimm para realizar pinturas ao ar livre. Em 1887, exerce o cargo de juiz de órfãos e ausentes da 2ª Vara do Rio de Janeiro. Nesse ano, expõe na casa Glace Elegante, no Rio de Janeiro. Em 1888, viaja para a Europa e ao retornar, no ano seguinte, realiza exposição na Casa De Wilde, na Glace Elegante e no Atelier Moderno. Recebe orientação artística de Caron (1862 - 1892). Paralelamente às atividades como artista, destaca-se como escritor de peças teatrais e colabora com crônicas e crítica de arte nos jornais Correio Mercantil, O Paiz, Gazeta de Notícias e Vida Fluminense.
Comentário Crítico
Pintar não é a atividade principal de Joaquim José da França Júnior. Ele assiste às aulas da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba como aluno livre e participa da Exposição Geral de Belas Artes como amador. Nos estudos de teatro, sua atividade de paisagista sequer é mencionada.
O crítico Carlos Rubens considera que a pintura é para ele mera recreação.1 Segundo o historiador Quirino Campofiorito, sua obra pictórica é sacrificada pela literatura.2 Entretanto, para o crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911), sua atividade de letrado só serve para destacá-lo positivamente no contexto do Grupo Grimm. O escritor considera que, em face da rudeza de expressão e muda resignação ao trabalho de Georg Grimm (1846 - 1887), França Júnior seria o verdadeiro artista, capaz de ver, sentir e expressar-se com a emoção e o nervosismo que o mero homem de talento não sente. Ele é, diz, o "typo brasileiro e bem educado, homem de sociedade e de talento perfeitamente culto."3
São essas características que desencadeiam críticas de seu colega pintor Antônio Parreiras (1860 - 1937). Segundo este, França Júnior é vaidoso e irônico como suas comédias; precisa de público para pintar, o que só faz em lugares limpos; e sempre pinta elegantemente vestido4. Isso contrasta com a simplicidade dos outros integrantes do grupo.
Para o historiador Carlos Roberto Maciel Levy, apesar de reduzida, a obra de França Júnior é uma importante manifestação da nova visão da pintura de paisagem,5 surgida com o Grupo Grimm, que ressalta o naturalismo sem acentos cromáticos de origem romântica.6
Sua tela Morro da Viúva ilustra bem tal afirmação. É uma bela vista, nada dramática, com vegetação rasteira no primeiro plano, árvores e uma pedreira no plano médio e uma montanha no fundo, deixando ver um céu calmo. Apresenta um bom e elegante desenho, com cores claras e naturais aplicadas por uma pincelada pouco espessa, mas precisa.
A natureza brasileira é muitas vezes opressora para os pintores, por suas cores e texturas exuberantes. Nesse quadro, ela passa uma impressão leve e fresca e não carregada e irônica como de fato podiam ser as peças do artista.
Notas
1 Carlos Rubens in: CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MDC/INL, 1973-1980. v. 2, p. 206.
2 CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX: a proteção do Imperador e os pintores no Segundo Reinado 1850 - 1890, vol. 4. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983, p. 104.
3 GONZAGA-DUQUE. Arte brasileira. Rio de Janeiro: s. n., 1888, p 212-213.
4 Antônio Parreiras in: LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988, p. 206.
5 LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980, p. 49.
6 ZANINI, Walter (Coord.). História Geral da Arte no Brasil. V - II. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, p. 422.
Críticas
"(...) França Júnior aplicou-se à pintura com pouca persistência, principalmente em razão das demais atividades que definiram sua vida profissional entre os cargos públicos e a criação literária. Homem de personalidade e cultura bastante refinadas em relação aos padrões habituais que caracterizavam os pintores do período, e mais ainda em relação ao espírito rude e autêntico dos jovens que estudaram com Grimm, terá sido até impossível conviver mais proximamente com seus colegas de então. Contudo, desenvolveu uma obra que, apesar de limitada em termos numéricos, possuiu sem dúvida valor e qualidade enquanto decorrência da nova visão da pintura de paisagem que a partir da década de 80 se tornava a cada instante mais presente e evoluída. O momento mais importante de seu trabalho como pintor foi o ano de 1888, quando atingiu um ponto de maturidade que lhe permitiu dominar os meios expressivos com bastante suficiência (...)"
Carlos Roberto Maciel Levy
LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm:paisagismo brasileiro no século XIX. Prefácio Quirino Campofiorito. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980. 112 p. , il. color.
Exposições Coletivas
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - menção honrosa
1885 - Rio de Janeiro RJ - Castagneto e França Júnior, na Casa Vieitas
1887 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Glace Elégante
1889 - Rio de Janeiro RJ - Mostra, na Casa de Wilde, Glace Elégante e Atelier Moderno
1889 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Atelier Livre
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes
Exposições Póstumas
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - Rio de Janeiro RJ - O Grupo Grimm: paisagismo brasileiro no século XIX, na Acervo Galeria de Arte
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
Fonte: Itaú Cultural