Quirino Campofiorito (Belém PA 1902 - Niterói RJ 1993)
Pintor, desenhista, gravador, crítico e historiador da arte, ilustrador, caricaturista, professor.
Em 1917, no Rio de Janeiro, trabalha como ilustrador nas revistas Tico-Tico e Revista Infantil, e como caricaturista nos periódicos A Maçã, O Malho, D. Quixote e A Máscara. Inicia um curso de pintura na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, em 1920, e tem como professores Modesto Brocos, Baptista da Costa, Augusto Bracet e Rodolfo Chambelland. Recebe o prêmio viagem ao exterior em 1929, vai para Paris e lá permanece até 1932, estudando no Ateliê de Pongheon da Académie Julien e na Académie de la Grande Chaumière. Entre 1932 e 1934, reside em Roma e frequenta o curso de pintura da Scuola di Belle Arti di Roma [Escola de Belas Artes de Roma] e o curso de desenho do Círculo Artístico e da Academia Inglesa de Roma. Retorna ao Brasil em 1935, vai morar no Rio de Janeiro, onde publica e dirige, entre outros, o mensário Belas Artes, primeiro jornal brasileiro a tratar exclusivamente de arte, fechado em 1940 por pressão do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP. Após um curto tempo no Rio, passa a viver no interior do Estado de São Paulo, período em que organiza e dirige a Escola de Belas Artes de Araraquara, na qual leciona pintura até 1937. Volta para o Rio de Janeiro em 1938, dá aulas de desenho e artes decorativas até 1949 na Enba. Torna-se vice-diretor da Enba e, em 1950, é efetivado na cátedra de artes decorativas. Em 1940, integra a comissão organizadora da Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes - SNBA, no Rio de Janeiro. Também participa do Núcleo Bernardelli, e é eleito seu presidente em 1942. Visando à reforma do regulamento dessa instituição, em 1957, viaja pela Europa em missão cultural da Universidade do Brasil para observar os programas de ensino de artes decorativas, e aproveita a ocasião para estudar a técnica de mosaico em Ravena, Itália. Entre 1961 e 1963, integra a Comissão Nacional de Belas Artes. Ganha o título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, em 1981. É autor, entre outros, do livro História da Pintura Brasileira no Século XIX, lançado pelas Edições Pinakotheke em 1983, e com ele recebe o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
Comentário Crítico
As obras iniciais de Quirino Campofiorito revelam preocupação com questões sociais, como o cotidiano dos trabalhadores. Também pinta cenas urbanas, figuras e naturezas-mortas, que se destacam pelas composições despojadas e líricas. Durante a década de 1940, integra o Núcleo Bernardelli, apresentando obras figurativas que, em alguns casos, revelam afinidades com a pintura metafísica de Giorgio de Chirico (1888-1978). Como nota o historiador da arte Tadeu Chiarelli, sua produção, como a de outros artistas ligados ao Núcleo Bernardelli, pode ser compreendida dentro dos propósitos do retorno à ordem. No tríptico Café (1940), pode ser percebida a afinidade com a pintura do Renascimento Italiano, com obras de Mario Sironi (1885-1961) e ainda com Candido Portinari.
Paralelamente à sua carreira artística, Quirino Campofiorito tem relevante atuação como historiador da arte e publica, em 1983, o livro História da Pintura Brasileira no Século XIX.
Acervos
Museo de La Plata - La Plata (Argentina)
Museu de Belas Artes - Belém PA
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA - Rio de Janeiro RJ
Críticas
"Na verdade, e desde o início, a carreira do pintor Quirino Campofiorito é contraditória e curiosamente ´pós-moderna´. Em plena década dos vinte, o seu aprendizado figurativo nasce de duas fontes, naquele tempo, antagônicas. Do academismo disciplinado e apático da Escola de Belas Artes, e, ao mesmo tempo, da revigorante atividade de ilustrador cartunista e desenhista publicitário da Metro Goldwin Meyer. Explica-se a facilidade com que compreendeu, em seguida, o modernismo de Paris dos anos trinta e, três décadas mais tarde, a apropriação ´pop´ dos EEUU. Durante os quarenta anos que se seguiram à volta da Europa, um temperamento naturalmente modesto levou a uma constante agressividade crítica, sempre dedicada à renovação do meio artístico, a compensar uma pintura retraída (...). Data do fim dos anos sessenta, o que chamamos de retomada ostensiva da pintura. E, como se fosse para lembrar o início de sua vida profissional, Quirino Campofiorito apresentou em 1971 - sua primeira exposição desde 1935 - um dos dois aspectos de sua pintura atual. ´Poster-painting´, cartazes deliberadamente alegóricos, mas pintados a óleo e concebidos como homenagens a Miguel Angelo, De Chirico, Brecht, Charlie-Chaplin e Malevitch (...)".
Ítalo Campofiorito
CAMPOFIORITO. Apresentação de Italo Campofiorito. Rio de Janeiro: Bolsa de Arte, 1977.
"Se bem que o magistério e a atividade crítica tenham sem dúvida roubado ao artista tempo precioso, Campofiorito é autor de considerável bagagem, destacando-se como autor de vistas urbanas, estudos de nu e figuras, naturezas-mortas e alegorias, nas quais repercute muito intensa a influência de De Chirico e do Metafisicismo. Talvez a parte mais perdurável de sua obra pictórica sejam as naturezas-mortas, em algumas das quais alcançou o pintor efeitos admiráveis de lirismo, uma nota pessoal e uma composição despojada, inconfundível".
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Depoimentos
"Minha vida de pintor é diferente da vida comum dos pintores. Estes fazem-se sempre comprometidos com as estritas atividades do ateliê. Assiduidade exclusiva à oficina de trabalho, para que seja alcançada a totalidade do que possa dar à sua obra. Eu sou daqueles raros exemplos que sempre atropelaram a assiduidade do ateliê de pintor com uma dedicação, igualmente assídua, a outras atividades que me movimentavam em espaços bem exigentes. Contudo, não neguei um só instante uma grande e responsável aplicação à arte realmente indicada por minha autêntica vocação: a pintura. As demais atividades resultam decorrências que se foram apresentando, desdobramentos de minhas convicções de pintor, que abriam caminhos que terminam por se fazer tão comprometedores de minha sensibilidade pelos problemas inerentes às artes plásticas conforme, particularmente, se demostrava em nosso país. Foi impossível para meu temperamento ser só pintor. (...) A pintura, as artes gráficas (na totalidade de suas variações), o jornalismo e o ensino, traçam o eixo de minha vida artística. Em torno, desse comportamento em retilíneo desenvolvimento, tendo sido o pintor que sou, o artista gráfico sempre empolgado com uma sedutora variedade de afazeres, o jornalista sempre voltado para a divulgação e o comentário artístico (da singela informação ao responsável ensaio crítico) e o ensino que não escapa aos objetivos que regem os entendimentos e a formação profissional do artista, o rigor da obra de arte (sua tecnicidade)".
Quirino Campofiorito
CAMPOFIORITO, Quirino. Retrospectiva comemorativa dos 90 anos do artista. Rio de Janeiro : MNBA, 1992. p. 13.
Exposições Individuais
1935 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação dos Artistas Brasileiros
1936 - Araraguara SP - Individual
1973 - Brasília DF - Retrospectiva, na Fundação Cultural do Distrito Federal
1973 - Rio de Janeiro RJ - Sumário Restrospectivo 1920-1973, no MIS/RJ
1977 - Rio de Janeiro RJ - Retrostectiva: 50 Anos de Pintura, na Bolsa de Arte
1978 - Rio de Janeiro RJ - Desenhos dos Anos 30, na Galeria Estampa
1979 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria AM Niemeyer
1982 - Rio de Janeiro RJ - Quirino Campofiorito - 80 anos, na EAV Parque Lage
1984 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Acervo Galeria de Arte
1992 - Niterói RJ - Retrospectiva, no Museu Antonio Parreiras
1992 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva comemorativa dos 90 Anos do Artista, no MNBA
1993 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva 80 Anos de Paixão Gráfica: Quirino Campofiorito, na Biblioteca Nacional
Exposições Coletivas
1927 - Rio de Janeiro RJ - 34ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - grande medalha de prata
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes - grande medalha de ouro
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1932 - Paris (França) - Salon de la Societé Nationale
1933 - Paris (França) - Salão de Outono
1935 - Rio de Janeiro RJ - 41º Salão Nacional de Belas Artes - medalha de prata
1937 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Belas Artes
1938 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão de Maio
1938 - São Francisco (Estados Unidos) - Exposição Internacional da Califórnia
1943 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Anti-Eixo, no Museu Histórico e Diplomático. Palácio Itamaraty
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1944 - Londres (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - Norwich (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - Baht (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Buenos Aires (Argentina) - 20 Artistas Brasileños, no Salas Nacionales de Exposición
1945 - Edimburgo (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Escócia) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Kelingrove Art Gallery
1945 - La Plata (Argentina) - 20 Artistas Brasileños, no Museo Provincial de Bellas Artes
1945 - Manchester (Inglaterra) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Manchester Art Gallery
1945 - Montevidéu (Uruguai) - 20 Artistas Brasileños, na Comisión Municipal de Cultura
1946 - Londres (Inglaterra) - Exposição dos Artistas Brasileiros ao Povo de Londres
1946 - Rio de Janeiro RJ - Os Pintores vão à Escola do Povo, no Diretório Acadêmico da Enba
1952 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Arte Moderna
1953 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão de Naturezas Mortas, no Theatro Municipal
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Preto e Branco, no Palácio da Cultura
1955 - Porto Alegre RS - 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea, no Margs
1956 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Ferroviário, no MEC
1956 - Rio de Janeiro RJ - 5º Salão Nacional de Arte Moderna
1956 - Rio de Janeiro RJ - 50 Anos de Paisagem Brasileira, no MNBA
1958 - Rio de Janeiro RJ - O Trabalho na Arte, no MNBA
1967 - Rio de Janeiro RJ - 16º Salão Nacional de Arte Moderna
1970 - Rio de Janeiro RJ - 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1973 - Rio de Janeiro RJ - 22º Salão Nacional de Arte Moderna
1976 - Rio de Janeiro RJ - 25º Salão Nacional de Arte Moderna
1982 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Futebol, no MAM/RJ
1982 - São Paulo SP - Exposição Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40, no Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1988 - Rio de Janeiro RJ - Visões do trabalho, no MNBA
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, Galeria de Arte do Sesi
Exposições Póstumas
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
2000 - Belém PA - Arte Pará 2000, no Museu de Arte Sacra
2000 - Rio de Janeiro RJ - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma, na Fundação Casa França-Brasil
2000 - Rio de Janeiro RJ - Quando o Brasil era Moderno: artes plásticas no Rio de Janeiro de 1905 a 1960, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Ars Erótica: sexo e erotismo na arte brasileira, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2002 - São Paulo SP - Arte e Política, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Arte e Sociedade: uma relação polêmica, no Itaú Cultural
Fonte: Itaú Cultural