Marcio Périgo (São Paulo SP 1949)
Gravador e desenhista.
Marcio Donato Périgo conheceu a técnica da gravura em metal em 1972, na Fundação Armando Álvares Penteado - Faap, onde estuda comunicação visual e tem aulas com Evandro Carlos Jardim. Realiza sua primeira exposição individual de desenhos e gravuras no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp em 1977. No ano seguinte, termina o curso de graduação na Faap e começa a dar aulas de gravura e desenho. Leciona gravura e desenho de observação na Faculdade de Artes Alcântara Machado - Faam, entre 1982 e 1984. Em 1984, participa das exposições Tórculos - Exposição de Prensas de Gravuristas Contemporâneos, no Espaço de Exposições Eugénie Villen, em São Paulo, e 3rd Mini Print International de Cadaqués, em Barcelona, Espanha. Recebe a Bolsa Vitae de artes, com o projeto Caos Aparente, em 1988, que apresenta exposição individual no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, em 1989. Recebe prêmio aquisição no 12º Salão Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte de Brasília - MAB/DF, em 1991. Em 2001, conclui mestrado no Instituto de Artes da Universidade de Campinas - Unicamp, apresentando 50 gravuras em metal e também o livro de artista Zés. Realiza exposição individual na Estação Pinacoteca em São Paulo, em 2005. É professor da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, e do Instituto de Artes e Centro de Pesquisa em Gravura da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp.
Comentário crítico
Uma forte dimensão tátil percorre as gravuras de Marcio Périgo. Os objetos ou volumes indefinidos de suas estampas parecem surgir da escuridão. Na história da gravura, o artista holandês Rembrandt já havia trabalhado com cenas no limite do visível, mergulhadas na sombra, quase indistinguíveis. Mas, no caso de Périgo, em vez de desafiar a sombra, suas imagens parecem antes formadas graças a ela, devendo seu estofo a uma matéria densa e escura, como se a visão necessitasse mais do escuro que da luz. Longe de se opor à luz, a escuridão é sua gêmea siamesa e condição de existência.
Périgo transita pelas possibilidades de combinação desses dois elementos por ter o domínio de técnicas da gravação em metal - o artista faz uso de água-forte, água-tinta, ponta-seca, maneira-negra -, colocando sua técnica apurada a serviço do rigor compositivo e da investigação da linguagem gráfica. A interpenetração dessas diversas técnicas abre um campo de potencialidades no qual branco e preto abandonam a simplicidade da oposição para ganhar a força das combinações infinitas, resultando muitos pretos e múltiplos brancos, rebatendo-se. Os volumes assim formados esgueiram-se devagar, atraindo o olhar que, em vão, busca abarcá-los por completo.
Críticas
"Se o artista plástico Marcio Périgo, no ano já distante de 1977, era uma promessa que surgia após um tempo sem promessas, como avaliou Geraldo Ferraz, hoje é uma promessa que não cessa de continuamente se cumprir, nessa busca rigorosa de equilíbrio entre criação e execução. Marcio é atualmente um gravador exímio, que procura resgatar a imagem corrompida e desgastada. Entre a luz alva e a sombra, ele cria um mundo luminoso de minúcias e efeitos que delineiam um trabalho singular entre a figura e a abstração. Marcio, operário da gravura, desconhece a destruição do ofício pela produção capitalista. Todas as fases do seu ofício ele domina, concebe e executa; Marcio criador, paulistano da cidade-bairro de Santo Amaro, tira do cotidiano memória e matéria-prima para os gestos e intenções simultâneos que produzem poemas gravados pelas mãos de um malabarista. Goya, Dürer e Rembrandt são testemunho de antiga perícia na arte ocidental no campo da gravura. O expressionismo alemão também nele deixou sua marca. Marcio entrega-se com paixão a um tipo de manifestação no qual tem ilustres antecessores e contemporâneos e o faz relatando momentos únicos e irreversíveis de um jovem e arrojado inconsciente ancestral. Entre nós a gravura já registrou parte importante de nossa história. Lasar Segall, Goeldi e Lívio Abramo já são parte dessa história e da história da gravura. É a marca do talento nessa arte da obra gravada que traz Marcio Périgo, que constrói por inteiro e, literalmente, com as próprias mãos, esse mundo original que representa o sonho sobre os elementos que se apresentam. Evandro Jardim deve sentir a alegria do mestre que vê o antigo discípulo que alçou vôo numa direção talvez possível de suspeitar, mas que, melhor que realidade concreta, é agora realidade em processo de concretização contínua, como é próprio da arte".
Fernando Prestes Motta - São Paulo, setembro 1989.
SALÃO NACIONAL DE ARTES PLÁSTICAS (11. : 1989 : Rio de Janeiro), TELES, Leila Cristina (coord. ). 11º Salão Nacional de Artes Plásticas. Rio de Janeiro: Funarte, 1989.
"Em Márcio Périgo, também pesquisadíssimo, o metal abre-se em leque, estendendo-se da paisagem, ou de sua reminiscência sígnica, com passagem pelas coisas próximas, este bule, à abstração, tal jogo de formas, luzes, texturas. Muito embora possam ser seqüenciadas no tempo, essas gravuras evidenciam em conjunto a prevalência do procedimento: técnicas diretas, como o buril e a ponta-seca, ou indiretas, como a água-forte e a água-tinta, podem combinar-se, gerando tatilidade. Há, na suficiência do procedimental, a prevalência da técnica: em Márcio Périgo, o que se grava, e não exclusivamente o tema, dá-se como causa ocasional da gravura, exibida como destreza, direção nas artes gráficas que remonta ao abstracionismo e, além, ao sentido emprestado à composição por Lívio Abramo. Márcio Périgo instrumentaliza as coisas figuradas na demonstração do repertório dos procedimentos técnicos da gravura".
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna
KOSSOVITCH, Leon e LAUDANNA, Mayra. Técnica e Procedimento. In: Gravura: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000. p. 25.
Acervos
Casa da Gravura de Curitiba - Paraná
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp - São Paulo SP
Exposições Individuais
1977 - São Paulo SP - Individual, no Masp
1979 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Sesc Paulista
1979 - Campinas SP - Individual, na Galeria do Teatro Castro Mendes
1984 - São Paulo SP - Individual, no CCSP
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Estampa
1985 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Monica Filgueiras de Almeida
1985 - Curitiba PR - Individual, no Museu da Gravura
1989 - São Paulo SP - Caos Aparente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
2005 - São Paulo SP - Individual, na Estação Pinacoteca
Exposições Coletivas
1972 - São Paulo SP - 6º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP
1975 - São Paulo SP - 1º Salão de Arte Universitária, no MAB/Faap
1976 - Campo Limpo Paulista SP - 2º Salão Campolimpense de Arte - prêmio aquisição em gravura
1976 - Limeira SP - 6º Salão Limeirense de Arte Contemporânea - premiado
1976 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Universitário de Artes Plásticas, na Funarte - 2º prêmio em gravura
1976 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Paço das Artes - prêmio aquisição em gravura
1977 - Santos SP - 5º Salão de Arte Jovem
1978 - Itu SP - 3º Salão de Artes Plásticas de Itu
1978 - Rio de Janeiro RJ - 1º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MNBA
1979 - Mendonza (Argentina) - Mostra de Gravadores Brasileiros
1979 - Rio de Janeiro RJ - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1979 - São Caetano do Sul SP - 10º Salão de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul
1980 - Curitiba PR - 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1981 - Pelotas RS - 5º Salão de Artes de Pelotas
1981 - Rio de Janeiro RJ - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1981 - San Juan (Porto Rico) - 5ª Bienal de San Juan del Grabado latino-americano y del Caribe
1981 - São Paulo SP - 15 Artistas, na Galeria Sesc Paulista
1981 - São Paulo SP - Arte sobre Papel, na Galeria Suzanna Sassoun
1982 - Curitiba PR - 5ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão - prêmio aquisição
1984 - Belo Horizonte MG - 16º Salão Nacional de Arte
1984 - Cadaques (Espanha) - 3ª Mini Print International Cadaques
1984 - Presidente Prudente SP - 6º Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente
1984 - São Paulo SP - Xilo Lignun Lenho, na Galeria Tenda
1985 - Kentucky (Estados Unidos) - Brazilian Printmakers
1985 - São Paulo SP - Seis Gravadores, Galeria Paulo Figueiredo
1986 - Curitiba PR - Acervo do Museu Nacional da Gravura - Casa da Gravura, no Museu Guido Viaro
1987 - Liubliana (Iugoslávia, atual Eslovênia) - Bienal Internacional de Gravura
1987 - São Paulo SP - Destaque do mês, na Pinacoteca do Estado
1988 - Curitiba PR - 8ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1988 - Veneza (Itália) - Exposição de Gravuras, no Centro Internazionale della Grafica
1989 - Liubliana (Iugoslávia, atual Eslovênia) - Bienal Internacional de Gravura
1989 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte
1990 - Curitiba PR - Coletiva, na Casa da Gravura
1990 - São Paulo SP - 21º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1991 - Brasília DF - 2º Prêmio Brasília de Artes Plásticas/12º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAB/DF - prêmio aquisição
1992 - Rio de Janeiro RJ - 2º Prêmio Brasília de Artes Plásticas e 12º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte/Centro de Artes
1993 - Lisboa (Portugal) - Matrizes e Gravuras Brasileiras: Coleção Guita e José Mindlin, na Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1995 - Curitiba PR - 52º Salão Paranaense, no MAC/PR
1995 - São Paulo SP - Coletiva 34, na Galeria Adriana Penteado
1995 - São Paulo SP - Gravura Paulista, na Galeria de Arte São Paulo
1996 - São Paulo SP - Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
1998 - São Paulo SP - Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. Coleção Guita e José Mindlin, no Espaço Cultural dos Correios
1999 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Rio Gravura. São Paulo: gravura hoje, no Palácio Gustavo Capanema
2000 - Campinas SP - Coletiva, na Galeria de Arte da Unicamp
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Complexo Cultural Júlio Prestes
2003 - São Paulo SP - Entre Aberto, na Gravura Brasileira
Fonte: Itaú Cultural