Lia Menna Barreto (Rio de Janeiro RJ 1959)
Artista plástica.
Entre 1975 e 1978, Lia Mascarenhas Menna Barreto cursa artes e desenho no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Estuda pintura com Luiz Paulo Baravelli (1942) e desenho com Rubens Gerchman (1942 - 2008), em 1984. No ano seguinte forma-se bacharel em desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e realiza exposição individual no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em Porto Alegre. Participa do 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1988, na Fundação Nacional de Arte (Funarte), no Rio de Janeiro, no qual é contemplada com o prêmio aquisição. Entre 1993 e 1994, vive em São Francisco, nos Estados Unidos, e estuda na Stanford University com bolsa concedida pelo programa International Fellowship in the Visual Arts, da America Arts Alliance. Em 1997, expõe trabalhos na 6ª Bienal de Havana, na Bienal de Los Angeles e na 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre, da qual volta a participar, em 2003, em sua 4ª edição.
Comentário Crítico
No início da década de 1980, Lia Menna Barreto realiza diversos trabalhos com espuma, utilizada para dar forma a sólidos de aspecto orgânico. É também nesse período que começa a usar brinquedos infantis, principalmente bonecas, em suas obras. Essa produção confere destaque à então jovem artista no circuito artístico nacional e passa a ser seu traço distintivo.
Nos anos 1990, amplia seu repertório e compõe trabalhos que utilizam bonecos de plástico, animais de borracha, bichos de pelúcia e outros brinquedos. Também realiza, nos primeiros anos dessa década, obras revestidas de tecidos diversos, num desdobramento de seus trabalhos com espuma, que exploram procedimentos escultóricos por meio de formas costuradas.
Em obras produzidas entre 1993 e 1994, Lia desmembra diversos bonecos, separando, por exemplo, cabeças e braços, que são costurados com pelúcia em montagens inusitadas; realiza aberturas no interior dos corpos dos bonecos, expondo seu enchimento; ou, então, acrescenta braços e pernas de bonecas em ursos de pelúcia, criando outros e estranhos arranjos. Montagens como essas, promove uma operação de deslocamento de significado e de transformação das relações habituais que são estabelecidas com os objetos.
O interesse pelos simulacros, bonecas, carrinhos, brinquedos de animais, flores artificiais se mostra em grande parte de sua produção. A artista elege esses símbolos da infância e do afeto e, por meio de operações formais de desmontagem e montagem, os recoloca em um outro plano de representação.
A partir de meados da década de 1990 desenvolve trabalhos com derretimento de bonecos de plástico. Muitas vezes a artista mescla bonecas com animais, flores e folhas de plásticos, que são fundidos com o calor e se fixam ao tecido de seda, em obras que são expostas na vertical, na parede.
Na 4ª Bienal do Mercosul, em 2003, apresenta a instalação Fábrica, em que expõe seu processo de criação dos trabalhos com animais de borracha. No espaço expositivo, com diversas mesas, instrumentos de trabalho e inúmeros sapos, ratos, lagartixas, formigas, aranhas, cobras e outros animais de borracha espalhados pelo chão, o público pode observar como são formados os trabalhos por meio do derretimento caseiro dos objetos com ferro de passar.
Críticas
"É impossível separar o caráter orgânico das obras de Lia, de sua materialidade. Um nasce do outro simultaneamente. Os sólidos feitos quatro anos atrás resultavam de um processo nitidamente escultórico. Grossos blocos de espuma eram desbastados, esculpidos e, em alguns casos, recebiam em seguida uma coloração escura. A espuma, estrutura dos trabalhos, era apenas carne, sem ossos e pele, uma vez que não recebia revestimento. Daí, embora não aludissem a nenhuma forma viva identificável, eram inevitavelmente associados a organismos.
A nudez estrutural dos sólidos iniciais indicava, virtualmente, um dentro que ainda não existia, porque o trabalho se concluía na carne do material utilizado. As obras agora mostradas demonstram um amadurecimento das entranhas para a superfície das peças que atualmente possuem pele, sendo todas revestidas de tecidos diversos.
Não há no caso nenhuma alteração nos procedimentos escultóricos de antes, que continuam a desempenhar papel estrutural das peças. A novidade reside na adoção de métodos construtivos na feitura da superfície dos objetos. O revestimento da maioria deles resulta na costura de partes, cuja articulação se assemelha à idéia que os construtivistas estabeleceram a respeito da especialidade de seu processo em face da tradição da escultura: seu trabalho decorria da articulação de partes - o que se afastava das técnicas tradicionais desta última, aproximando-os dos métodos de construção da engenharia moderna".
Fernando Cocchiarale
COCCHIARALE, Fernando. Lia Menna Barreto. Galeria: Revista de Arte, São Paulo, n. 23, p. 82, 1990.
"O procedimento normal da artista é seccionar os bonecos, possibilitando novas e múltiplas montagens, como se operasse com a liberdade criativa da fábula, plasmando seus objetos de acordo com jogos lingüísticos, que têm uma ´narrativa´ paralela que é quase um chiste lingüístico. Bom exemplo é um de seus trabalhos mais desconcertantes, em que aglutina um bebê a seu carrinho num só objeto, despejando sua ação corrosiva sobre a dupla significante carrinho-bebê, consagrada pelo hábito.
O espaço condensado, que aglutina formas, criando objetos inesperados, age criticamente sobre uma equação perceptiva cotidiana, automática, de modo a revelar seu absurdo e estranheza. Com o mesmo humor bolas coloridas e partes de bonecas se juntam em Boneca Acrobata. Em Ordem Noturna, Lia permuta partes de bonecos com corpo de pelúcia, resultando em aleijões que lembram o gosto pelo grotesco nos circos ou mesmo em cortes antigos, onde anões deformados eram ciosamente mantidos para deleite geral. Para a artista, essas deformações lembram a ordem oculta do mundo, a ordem noturna, ou ainda o universo do não dito, dos automatismos perceptivos e das incongruências afetivas".
Carlos E. Uchôa Fagundes
FAGUNDES, Carlos E. Uchôa. Lia Menna Barreto e a ordem oculta do mundo. In: Salão Arte Pará, 14, Belém, 1995.
"Lia Menna Barreto confronta-se com imagens de representação e simulacros do afeto. Sua obra tem em conta a capacidade do brinquedo de ativação do imaginário infantil e, agora, por seu uso, recuperar essa possibilidade do jogo afetivo. Arte, diz-nos Argan, é um momento preciso de relação de alteridade, momento em que o Outro colhe significados na estrutura significante, a obra de arte, constituída pelo artista. Brinquedo e arte - estamos diante não de duplos, mas de instâncias do real.
Não se trata, ademais, de um processo de monstrificação por meio da brutalização dos brinquedos. E em nenhum momento Menna Barreto parece estar interessada em que brinquedos se reduzam a metáforas antropomórficas. O que lhe interessa, de fato, são as possibilidades de, em trabalhando com brinquedos, intervir numa ordem dos objetos e operar no campo da falência da razão e de sua crise. Lia Menna Barreto trabalha, pois, sobre o campo dos desejos. O caráter abjeto de algumas de suas obras aponta ainda para uma economia da ordem simbólica. Uma sobrecarga do inconsciente circula nos meandros de uma funcionalidade em pânico. A matéria abjeta produz significados no processo de formação da subjetividade. Na obra, o brinquedo revela-se, então, como jogo de linguagem. Na obra de Menna Barreto, a experiência é a do desaprendizado e da transgressão. A crise, mais precisamente, é a do próprio sujeito".
Paulo Herkenhoff
HERKENHOFF, Paulo. Quase brinquedos de Lia Menna Barreto. In: BARRETO, Lia Menna. Lia Menna Barreto: ordem noturna. Rio de Janeiro: Thomas Cohn Arte Contemporânea, 1995.
Exposições Individuais
1985 - Porto Alegre RS - Individual, no Margs
1987 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Arte & Fato
1990 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1992 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1993 - São Paulo - Individual, na Galeria Camargo Vilaça
1994 - Porto Alegre RS - Individual, na Galeria Iberê Camargo
1994 - São Paulo - Individual, na Galeria Camargo Vilaça
1995 - Rio de Janeiro RJ - Ordem Noturna, na Thomas Cohn Arte Contemporânea
1996 - São Paulo SP - Origem do Afeto, na Galeria Camargo Vilaça
1997 - Porto Alegre RS - Kit Afetivo, no Torreão
1998 - Porto Alegre RS - Exercícios Afetivos, no Margs
2000 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Camargo Vilaça
2000 - Porto Alegre RS - Diário de uma Boneca, na Galeria de Arte Contemporânea Obra Aberta
2000 - Lisboa (Portugal) - Individual, na Galeria Pedro Cera
2003 - Porto Alegre RS - Individual, na Bolsa de Arte
Exposições Coletivas
1983 - Porto Alegre RS - 12º Salão do Jovem Artista
1984 - Curitiba PR - 3ª Mostra do Desenho Brasileiro
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, na Funarte - prêmio aquisição
1988 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Macunaíma 88
1989 - Brasília DF - Novos Valores da Arte Latino-Americana, no MAB/DF - artista convidada
1989 - Porto Alegre RS - Arte Sul 89, no Margs
1991 - São Paulo SP - 22º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP - artista convidada
1992 - Porto Alegre RS - 2ª Mostra de Escultura, no Centro Municipal de Cultura
1992 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Brazilian Contemporany Art, na Funarte e na EAV/Parque Lage
1992 - São Paulo SP - Um Olhar sobre o Figurativo, na Casa Triângulo
1993 - Bogotá (Colômbia) - Brazil Hoy, na Valenzuela & Klenner Galeria
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, na Fundação Athos Bulcão
1993 - Porto Alegre RS - Coletiva, na Casa de Cultura Mario Quitana
1993 - Porto Alegre RS - O Espírito Pop - Influências na Arte Atual do Rio Grande do Sul, no MAC/RS
1993 - São Paulo SP - A Presença do Ready-Made, 80 Anos, no MAC/USP
1993 - Washington (Estados Unidos) - Brazil, Images of the 80´s & 90´s, no Art Museum of the Americas
1994 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: imagens dos anos 80 e 90, no MAM/RJ
1994 - San Juan (Porto Rico) - Pequeno Formato latino-americano 94, na Luigi Marrozzini Gallery
1994 - São Paulo SP - Brasil: imagens dos anos 80 e 90, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Coleção Gilberto Chateaubriand, na Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Coletiva de Escultura, no Espaço Namour
1995 - Belém PA - 14º Salão Arte Pará - artista convidada
1995 - Porto Alegre RS - GesamtKunstwerk, no Instituto Goethe
1995 - Rio de Janeiro RJ - A Infância Perversa: fábulas sobre a memória e o tempo, no MAM/RJ
1995 - Salvador BA - A Infância Perversa: fábulas sobre a memória e o tempo, no MAM/BA
1995 - São Paulo SP - Anos 80: o palco da diversidade, na Galeria de Arte do Sesi
1996 - Buenos Aires (Argentina) - América Latina 96, no Museo Nacional de Belas Artes
1996 - Buenos Aires (Argentina) - Objetos: 8 artistas de los países del Mercosur
1996 - São Paulo SP - 15 Artistas Brasileiros, no MAM/SP
1997 - Cidade do México (México) - Asi esta la cosa, Instalacion y arte objeto en América Latina, no Centro Cultural Arte Contemporáneo
1997 - Havana (Cuba) - 6ª Bienal de la Hahana, no Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam
1997 - Lisboa (Portugal) - Projeto 15 Bandeiras, no Culturgest
1997 - Los Angeles (Estados Unidos) - Bienal de Los Angeles
1997 - Porto Alegre RS - 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, na Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1997 - Porto Alegre RS - Último Lustro, no DC-Navegantes
1997 - Rio de Janeiro RJ - 15 Artistas Brasileiros, no MAM/RJ
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Aachen (Alemanha) - Der Brasilianisch Blick, no Ludwig Forum íur Internationale Kunst
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Berlim (Alemanha) - Der Brasilianisch Blick, no Haus der Kulturen der Welt
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Itaugaleria
1998 - Heidenheim (Alemanha) - Der Brasilianisch Blick, no Kunstmuseum
1998 - Lisboa (Portugal) - Das Vanguardas ao Fim do Milênio, no Culturgest
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Itaugaleria
1998 - São Paulo SP - Cohntemporânea, na Galeria Thomas Cohn
1998 - São Paulo SP - Der Brasilianisch Blick, na Galeria Camargo Vilaça
1998 - Wiesbaden (Alemanha) - Quase Nada, no Nassauischer Kunstverein Wiesbaden
1999 - Graz (Alemanha) - The Anagrammatical Body, na Neue Galerie Graz/Kunsthaus Múrzzuschlag
1999 - Rio de Janeiro RJ - Cotidiano/Arte. Objeto Anos 60/90, no MAM/RJ
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. Objeto Anos 60/90, no Itaú Cultural
2000 - Novo Hamburgo RS - Mostra Itinerante do Acervo do MAC, no Centro Universitário Feevale
2000 - San Diego (Estados Unidos) - Ultrabaroque, no Museum of Contemporany Art
2001 - Lisboa (Portugal) - Playground, na Galeria Pedro Cera
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no Paço Imperial
2001 - São Paulo SP - 27º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Caminhos da Forma, na Galeria de Arte do Sesi
2001 - São Paulo SP - Chelpa Ferro e Lia Menna Barreto, na Galeria Fortes Vilaça
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, no MAM/SP
2002 - Rio de Janeiro RJ - 27º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/RJ
2002 - Salvador BA - 27º Panorama de Arte Brasileira, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Insólitos, no Espaço MAM/Villa-Lobos
2002 - São Paulo SP - Paralela, no Galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2002 - São Paulo SP - Rotativa Fase 2, na Galeria Fortes Vilaça
2002 - São Paulo SP - Territórios, no Instituto Tomie Ohtake
2002 - Toronto (Canadá) - Ultrabaroque: aspects of post-Latin American Art, na Art Gallery of Ontario
2003 - Porto Alegre RS - 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, no Cais do Porto
2003 - São Paulo SP - Meus Amigos, no Espaço MAM/Villa-Lobos
2003 - São Paulo SP - Ordenação e Vertigem, no CCBB
2004 - Rio de Janeiro RJ - Novas Aquisições 2003: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
Fonte: Itaú Cultural