Jorge de Lima

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Biografia

Jorge de Lima (União dos Palmares AL 1893 - Rio de Janeiro RJ 1953)

Pintor, desenhista, ilustrador, escultor, poeta, romancista e professor.

Jorge Mateus de Lima concluiu o curso de medicina no Rio de Janeiro, em 1914. Durante seus estudos, escreve e publica poemas em pequenos jornais, dentro e fora das escolas que freqüenta. Em 1921 é eleito Príncipe dos Poetas Alagoanos. Enquanto trabalha como professor de história natural e depois de literatura brasileira em colégios de Maceió, envolve-se com a política e ocupa os cargos de deputado e vereador. Inicia-se nas artes plásticas ilustrando o livro O Mundo do Menino Impossível no ano de 1927. Em 1931, muda-se para o Rio de Janeiro, onde exerce a medicina em seu próprio consultório - que também funciona como ateliê e local de reunião de artistas e intelectuais. Em 1939, aprimora-se em pintura freqüentando o ateliê da pintora Sylvia Meyer (1889 - 1955). Nesse mesmo ano, pinta a sua primeira tela Quadro com Mulher ou Mulher Sonhando. Em paralelo, continua dedicando-se à literatura e publica, entre outros, Poemas Escolhidos, 1932; o romance surrealista O Anjo, 1934; Tempo e Eternidade, 1935, dedicado a Ismael Nery (1900 - 1934); Quatro Poemas Negros, 1937; A Túnica Inconsútil, 1938; A Pintura em Pânico, álbum de fotomontagens com prefácio de Murilo Mendes (1901 - 1975), 1943; e Invenção de Orfeu, 1952. É homenageado com o Grande Prêmio de Poesia, em 1940, concedido pela Academia Brasileira de Letras - ABL. Após sua morte, o poema O Grande Circo Místico dá nome a um espetáculo de dança de Naum Alves de Souza (1942) e a um disco, incluindo músicas de Edu Lobo (1943) e Chico Buarque (1944), em 1983.

Comentário Crítico

Jorge de Lima forma-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1914. Vive em Maceió de 1915 até 1930, quando se muda definitivamente para o Rio de Janeiro. Torna-se um escritor muito conhecido, e desenvolve, em paralelo, significativa produção em pintura. Por volta de 1927, começa a pintar de maneira autodidata e aperfeiçoa-se no ateliê da pintora Sylvia Meyer (1889 - 1955). Essa atividade mantém até 1953, ano de sua morte.

Como aponta a estudiosa Ana Maria Paulino, Jorge de Lima não se detém em um estilo único. A temática religiosa, que aparece em sua poesia, está presente também na pintura, em trabalhos em que dialoga com o expressionismo e em especial com a obra de Candido Portinari (1903 - 1962). Outra constante é a figura da mulher, retratada sobretudo como uma personagem contemplativa. Várias de suas obras apresentam ainda proximidades com o surrealismo, principalmente pelo clima onírico.

Jorge de Lima dedica-se também à fotomontagem. Essa atividade é mostrada pela primeira vez por Mário de Andrade (1893 - 1945) no texto Fantasias de um Poeta, publicado em 1939, no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1943, o artista publica o livro A Pintura em Pânico, que reúne várias de suas colagens. No prefácio do livro, o crítico e poeta Murilo Mendes (1901 - 1975) relaciona sua obra aos movimentos artísticos contemporâneos, como o surrealismo, e aos trabalhos de Max Ernst (1891 - 1976) e de Salvador Dali (1904 - 1989), entre outros.

Para o historiador da arte Tadeu Chiarelli, as fotomontagens do artista são muito próximas às de Ernst: compõem-se de cenas insólitas que ocorrem em espaços contínuos. As imagens, porém, são tratadas dentro dos rigores da representação. Segundo Ana Maria Paulino, é provável que Jorge de Lima estivesse interessado na pintura metafísica de Giorgio de Chirico (1888 - 1978) e também nos escritos de Sigmund Freud (1856 - 1939) e Carl G. Jung (1875 - 1961) sobre o inconsciente. Ele canaliza esse conhecimento para a realização de suas colagens, apresentando seres fantásticos, híbridos e misteriosos, como, por exemplo, uma figura feminina vestida com suntuosidade, mas com a cabeça de animal, ou, ainda, um misto de mulher, manequim e móvel. Em outro trabalho, sobrepõe duas personagens femininas, invertendo-as à maneira de cartas de baralho. Uma delas porta um escafandro à cabeça e a outra possui longos cabelos que caem até o chão. A associação criada remete a uma espécie de ampulheta, que evoca a passagem do tempo. Em outras obras, o artista gera uma atmosfera opressiva, em imagens como as de pássaros voando em lugares fechados.

Para Paulino, Jorge de Lima apresenta um processo similar ao da colagem. Cria em seus poemas cenas plásticas em que os elementos, personagens e objetos interagem entre si, gerando um certo estranhamento, que instiga a sensibilidade do leitor.

Críticas

"Elegendo o homem como tema mais frequente de sua pintura, Jorge de Lima tinha plena consciência da função criadora e transformadora da arte. Declarou que suas figuras humanas 'não se integram absolutamente em qualquer aparência fotográfica da realidade, nem têm nenhuma preocupação de objetividade', uma vez que são ' vistas de um ângulo poético' e apresentam a realidade sob outro aspecto. Essa consciência aliada à sua vontade de criar no terreno plástico, tornou-o um pintor. Muitas de suas obras apresentam a marca do surrealismo, do expressionismo e da pintura metafísica. (...). Sua pintura, assim como sua poesia, segundo declarou, tomaram um caminho independente dele mesmo, seguiram seus cursos próprios e autonômos".
Enock Sacramento
ARTE e medicina. Apresentação de Alois Metzler. Textos de Enock Sacramento, Alberto Beuttenmuller, Márcio Sampaio e Ziraldo. São Paulo: Sadalla Galeria de Arte, 1990.

"Ao realizar diversas fotomontagens visivelmente influenciadas pelos surrealistas, Jorge de Lima constitui-se no precursor dessa atividade no Brasil. Embora esse trabalho só venha a ser publicado em livro em 1943 - A pintura em pânico, Rio de Janeiro: Ed. Revista Acadêmica -, o autor divulga-o com anterioridade em jornais e revistas desde o fim dos anos trinta.
O Cruzeiro, em uma edição de julho de 1938, traz cinco 'fotografias', assim denominadas pelo próprio autor na entrevista que acompanha as imagens, na qual aponta Max Ernst (1891-1976) como criador do gênero, explica como ele próprio as realiza e as compara a um poema, indentificando-as como outra forma de expressão poética (...). 
Em julho de 1939, em Dom Casmurro, Jorge de Lima volta a divulgar suas novas experiências, mas desta vez são découpages - consistem no mesmo processo de realização que a fotomontagem, porém o material utilizado é a gravura (...)".
Gênese Andrade
TERESA REVISTA DE LITERATURA BRASILEIRA. São Paulo: Editora 34, nº 3, 2002. p. 84-85

Exposições Individuais

1946 - Rio de janeiro RJ - Exposição individual, na ABI
1951 - Recife PE - Individual, no Gabinete Português de Leitura

Exposições Coletivas

1942 - São Paulo SP - 7º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna
1944 - Rio de Janeiro RJ - 51º Salão Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna
1947 - Rio de Janeiro RJ - 52º Salão Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna - menção honrosa
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Artes Plásticas da Sociedade Brasileira de Belas Artes - menção honrosa
1949 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna - menção honrosa
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1953 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Salão Nacional de Arte Moderna

Exposições Póstumas

1962 - Recife PE - Retrospectiva na Galeria Rozemblit, apresentada por Vicente do Rego Monteiro
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico
1983 - Estréia do espetáculo de dança O Grande Circo Místico, baseado no poema homônimo de Jorge de Lima, com roteiro de Naum Alves de Souza e coreografia de Carlos Trincheiras, pelo Ballet Guaíra
1983 - Rio de Janeiro RJ - Gravação do disco O Grande Circo Místico, com músicas de Edu Lobo e letras de Chico Buarque baseadas no poema de Jorge de Lima
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1990 - São Paulo SP - Arte e Medicina, na Sadalla Galeria de Arte
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP
1998 - Rio de Janeiro RJ - 16º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
2002 - Porto Alegre RS - Apropriações e Coleções, no Santander Cultural

Fonte: Itaú Cultural