Henrique Campos Cavalleiro (Rio de Janeiro RJ 1892 - Idem 1975)
Pintor, desenhista, caricaturista, ilustrador e professor.
Começa estudando desenho e, cedo, faz ilustrações para a revista O Malho. A partir de 1910, na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), é aluno de Zeferino da Costa (1840-1915) e Eliseu Visconti (1866-1944), que posteriormente se torna seu sogro. Ganha o prêmio de viagem ao exterior em 1918, ano em que matricula-se na Académie Julian, em Paris. Fica na escola apenas seis meses, montando em seguida seu próprio ateliê, onde trabalha até o final de sua estada. Em 1923 e 1924, expõe na Société Nationale des Beaux-Arts [Sociedade Nacional de Belas Artes] e no Salon des Artistes Français [Salão dos Artistas Franceses]. Volta em 1925 e faz uma individual no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Sua atividade de ilustrador e caricaturista continua e ele colabora com os periódicos Fon-Fon, A Manhã, O Teatro, O Jornal, Ilustração Brasileira e O Cruzeiro. Em 1930, retorna a Paris para estudar artes decorativas. A partir de 1938, ocupa interinamente a cadeira de arte decorativa na Enba e, mais tarde, torna-se professor de pintura por concurso. Participa da 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, e, no ano seguinte, da mostra Um século de Pintura Brasileira, no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Rio de Janeiro. Em 1965, recebe o título de professor emérito da Enba. Abre uma retrospectiva no MNBA em 1975, pouco antes de sua morte.
Comentário Crítico
Henrique Cavalleiro é geralmente relacionado a diversos movimentos. Segundo o crítico Clarival do Prado Valadares no texto de apresentação da exposição retrospectiva, realizada no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em 1975, é preciso demonstrar sua identificação estilística a cada obra.1
De fato, o artista produz trabalhos muito díspares. Em O Vestido Rosa, de 1921, por exemplo, os tons são róseos e azuis e a pincelada impressionista. No projeto de cartaz para o carnaval do Rio de Janeiro, de 1935, exposto na retrospectiva, um arlequim com toda a estilização do art déco reina sobre foliões emoldurados pelos prédios da cidade. Já nas paisagens de Teresópolis, a partir dos anos 1940, sentimos o empastado da tinta nas pinceladas tortuosas, mais próximas do expressionismo e do fauvismo.
O pintor divide sua trajetória em duas fases: ele diz que, no início, pesquisa o pontilhismo de George Seurat (1859-1891), como em Balões Venezianos, 1912, e o impressionismo.2 Em seguida, é influenciado por Paul Cézanne (1839-1906), destacando a solidez dos volumes. Mas é a partir dos anos 1940, segundo ele, que empreende, "[...] verdadeiramente, a conquista da pintura [...]".3 Nas vistas de Teresópolis, procura, seguindo o preceito de Georges Roualt (1871-1958), partir da realidade para chegar à expressão pessoal.4
Os comentadores concordam com o fato de que é um artista que busca dar um cunho pessoal à sua arte,5 arriscando-se ao abandonar o naturalismo e adotar formas de difícil recepção no Rio de Janeiro. Ele próprio conta que é mais bem acolhido em São Paulo, "[...] mais avançada nas teorias modernas, que soube dar melhor aceitação à minha maneira de sentir e pintar [...]".6
Sua maneira de pesquisar e pensar a arte é importante para a renovação do gosto da época, especialmente de seus alunos.7 Sua prática de caricaturista e ilustrador, assim como os estudos e cursos que ministra em artes decorativas também merecem destaque como elementos de modernização. Nisso, ele segue seu mentor e sogro, Eliseu Visconti (1866-1944). Por isso, é natural encontramos ecos de Visconti8 em Cavalleiro quando este diz que a arte brasileira: "[...] não é pintar ou esculpir motivos nacionais [...] é estilizar, tirar da natureza pátria elementos de composição para aos poucos formar uma arte própria."9
Notas
1 VALADARES, Clarival do Prado; in: CAVALLEIRO, Henrique. Henrique Cavalleiro. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1975, s/ p.
2 CAVALLEIRO, Henrique. Henrique Cavalleiro. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1975, s/ p.
3 Idem.
4 Idem.
5 Por exemplo, LIMA, Herman. História da Caricatura no Brasil. V - V. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963, p.1438-1440.
6 CAVALLEIRO, Henrique, citado por LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988, p. 115-116. E ZANINI, Walter (Coord.). História Geral da Arte no Brasil. V - I. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, p. 546.
7 ZANINI, Walter (Coord.). História Geral da Arte no Brasil. V - I. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, p. 446.
8 "A natureza é um dicionário para ser consultado, um índice apenas. Tudo quanto o artista põe na sua obra deve estar mais dentro dele do que simplesmente naquilo que a visão descortina." VISCONTI, Eliseu. Eliseu Visconti: arte e design. São Paulo: Projeto Eliseu Visconti, 2008, p. 13.
9 COSTA, Angyone. A inquietação das abelhas. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello & Cia, 1927, p 119.
Críticas
"É das figuras de maior interesse da pintura contemporânea brasileira. Sua arte sóbria manifesta um temperamento de pesquisador sob o controle da maturidade. Teve sua experiência impressionista quando em gozo de seu prêmio de viagem à Europa. Mostrou preferência pela técnica divisionista e por sua aplicação na figura humana".
Lígia Martins Costa
REFLEXOS do impressionismo no Museu Nacional de Belas Artes. Apresentação de Marinho de Azevedo e Maria Elisa Carrazzoni. Rio de Janeiro: MNBA, 1974.
Exposições Coletivas
1910 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes - medalha de prata
1913 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes - medalha de ouro
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1918 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio de viagem ao exterior
1921 - Rio de Janeiro RJ - 28ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1923 - Paris (França) - Salão dos Artistas Franceses
1923 - Paris (França) - Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes
1924 - Paris (França) - Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes
1925 - Rio de Janeiro RJ - 32ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1926 - Rio de Janeiro RJ - 33ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1927 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - medalha de ouro
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rio de Janeiro RJ - 36ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1930 - Rio de Janeiro RJ - 37ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1931 - Rio de Janeiro RJ - Salão Revolucionário (Salão Nacional de Belas Artes)
1933 - Rio de Janeiro RJ - 40ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1934 - Rio de Janeiro RJ - 3º Salão do Núcleo Bernardelli, na Enba
1935 - Pittsburgh (Estados Unidos) - The 1935 International Exhibition of Painting, no Carnegie Institute
1936 - São Paulo SP - 4º Salão Paulista de Belas Artes
1936 - Toledo e Cleveland (Estados Unidos) - The 1935 International Exhibition of Painting, no Toledo Museum of Art
1944 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - prêmio Fagundes Varela
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no Mnba
1947 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - prêmio João Batista da Costa
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia - grande medalha de prata
1950 - Rio de Janeiro RJ - Salão Fluminense de Belas Artes - prêmio Antônio Parreiras
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no Mnba
1951 - São Paulo SP - 16º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 - Rio de Janeiro RJ - Um Século de Pintura, no Mnba
1957 - São Paulo SP - 6º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Nacional de Arte Moderna
1974 - Rio de Janeiro RJ - Reflexos do Impressionismo, no Mnba
1974 - São Paulo SP - Tempo dos Modernistas, no Masp
1975 - Rio de Janeiro RJ - Mostra Retrospectiva, no Mnba
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal de São Paulo
1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio de Janeiro, no MAM/RJ
1981 - Rio de Janeiro RJ - Universo do Carnaval: imagens e reflexões, no Acervo Galeria de Arte
1983 - Rio de Janeiro RJ - Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio, no MAM/RJ
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Pelotas RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Santa Maria RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2000 - Passo Fundo RS - Mostra Itinerante do Acervo do Margs
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2004 - São Paulo SP - O Preço da Sedução: do espartilho ao silicone, no Itaú Cultural
Fonte: Itaú Cultural