Gustavo Lourenção (São Paulo SP 1969)
Fotógrafo.
Gustavo Cunha Lourenção estudou ciências biológicas na Universidade de São Paulo, formando-se em 1991. Dedica-se, no entanto, à fotografia. Realiza os cursos Fotografia de Arquitetura, na Oficina Cultural Oswald de Andrade e Fotografia Profissional, no Senac, em 1992. Neste mesmo ano, começa a trabalhar como laboratorista. Em 1993, torna-se repórter fotográfico do jornal Diário do Comércio, no qual permanece até 1995, quando passa a atuar como autônomo. Em 1997, torna-se colaborador fixo da Revista da Folha, do jornal Folha de S. Paulo. Integra o Projeto Foto de Autor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo em meados da década de 90, o que o ajuda a encontrar um estilo ágil e pessoal de enfoque do real, que o leva a conquistar o Prêmio Estímulo de Fotografia da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, em 1994, e o Prêmio Nacional da Fotografia da Fundação Nacional de Arte, na categoria fotojornalismo/documentação, em 1996.
Críticas
"O mérito de Gustavo Lourenção é trabalhar a vertigem do real. Nada é mais fiel e escravo à verossimilhança que a definitiva reprodução dos fatos. Isto porque, se a vida trama em segredos seus dramas e parte sem dizer adeus, este fotógrafo rebusca com sutil e superior olhar (visão autoral e estética) uma heróica viagem de pé sobre o estribo desse bonde, aos solavancos ocasionais de um corpo-a-corpo ´olho no olho, dente por dente´, conforme determina os signos da vida como ela é, a poção mágica do fotojornalismo.
Formado em ciências biológicas, não seria de outra forma seu interesse e causa de estudar os seres vivos e suas relações. Entretanto, sua lente de contato prisma a luz de laboratório humano cujo brilho reflete as aparições deflagradas e momentâneas, biópsias exemplares e cotidianas, matéria-prima noticiosa do dia-a-dia no qual uma atitude instantânea conceitua informações a décimos de segundo. Ser repórter fotográfico é conviver franciscanamente com o inesperado onde o acaso não tem pressa, esse alazão nem sempre enluarado, mas que corre tão fugaz quando o fechar e abrir de um ´palpebrar´ de olhares à procura da notícia.
Forte, simbólico, denso, Lourenção bate firme na idéia autoral em noticiar os fatos. Encara os personagens de frente, jamais se acovardando em fixá-los em movimentos, trabalha com a ação, fragmentando inteligentemente o que quer enaltecer na cena, lembrando a síntese dos grandes mestres do fotojornalismo moderno onde nem sempre a razão do enfoque é o ponto de ouro da imagem. Valoriza bem aquilo que muitos fotógrafos desconhecem, que é a co-gestão do back-ground como elemento freudianamente sutil e inquietante, mas que tem o poder sublime de amarrar e atrair definitivamente a parceria do outro olhar em relação à sua maneira de ver. Possui naturalmente dote ensaístico, mas sabe também reinar no círculo do movimento burilando atitudes que habitam a casa do inesperado. Deve-se ressaltar - e isto fica claro no seu discurso - a honestidade transparente, cristalina, da preocupação humanista em honrar e exaltar os personagens, quase sempre gente simples do povão".
Angela Magalhães/Walter Firmo
II Prêmio Nacional de Fotografia - Funarte
"Um inigualável mestre da fotografia, o brasileiro Sebastião Salgado diz que para obter uma grande fotografia o autor deve dormir com ela. Foi isso que o Gustavo fez durante os dois anos em que gerou este ensaio. Mais do que isso, ele estava envolvido com o tema nos três anos anteriores, atuando como professor nessas escolas. Como todo fotógrafo criativo deveria fazer, condensou sua experiência de cinco anos de observações sobre um tema em imagens sintéticas e, ao mesmo tempo, poéticas. Fotografia é poesia visual, ela atinge os sentidos de maneira contundente; para sua decodificação, o observador não precisa de ferramentas específicas, necessita apenas ver. A emoção é o primeiro nível de entendimento a ser atingido por uma imagem, depois dela, o hemisfério racional será acionado para entender os códigos objetivos contidos na fotografia. Gustavo é um autor com livre trânsito entre a intuição e a objetividade, daí conseguir condensar 1. 825 dias de vivência em algumas ínfimas frações de segundo cristalizadas nestas trinta imagens".
Eduardo Castanho
"A série Janelas, de Gustavo Lourenção, traz a coleção de imagens fotográficas que mostram caminhantes com fisionomias amputadas pelo enquadramento, no centro da cidade de São Paulo. Calçadões para anônimos que se tocam casualmente, olham vitrines, procuram trabalho, perambulam buscando a integridade perdida: "Andar a pé com a máquina fotográfica nos coloca na dimensão espaço-temporal do pedestre, que nos dá essa visão total, 360 graus a nossa volta, para cima e para baixo. Propõe-se, pois, a existência de um ritual natural de aproximação entre as pessoas e a cidade. A sensação de intimidade, daí decorrente, sugere uma certa noção de tridimensionalidade, mais perceptível nas grandes ampliações, como se as imagens fossem janelas, que o artista pudesse dispô-las como tal, em sua sala, num escritório ou mesmo no espaço de exposições".
Sérgio Cardoso
RUMOS ITAÚ CULTURAL ARTES VISUAIS. O Olhar em movimento. Apresentação Ricardo Ribenboim. São Paulo : Itaú Cultural, 2000. 18 p. il.
Exposições Individuais
1997 - São Paulo SP - A Escola para Todos, na Galeria Subterrânea da Consolação
Exposições Coletivas
1991 - São Paulo SP - Por Acaso um Carnaval, na Estação Vila Bar
1993 - São Paulo SP - Fotografia de Arquitetura, na Oficina Cultural Oswald de Andrade
1994 - Campinas SP - São Paulo 440
1994 - São Paulo SP - São Paulo 1994: exposição do Grupo Foto de Autor, no MIS/SP
1994 - São Paulo SP - São Paulo 440, no Itaú Cultural
1996 - São Paulo SP - O Simbólico e o Diabólico na Cidade de São Paulo
1998 - São Paulo SP - Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas, no CCSP
1998 - São Paulo SP - 3º Projeto Abra/Coca-Cola de Arte Atual, na Abra
2000 - Campinas SP - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais O Olhar em Movimento, no Itaú Cultural
2000 - Recife PE - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais Deslocamentos, na Fundação Joaquim Nabuco - Memorial Joaquim Nabuco e Galerias Massangana e Baobá
2000 - São Paulo SP - Investigações: Rumos Visuais 1, no Itaú Cultural
2001 - Brasília DF - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais Deslocamentos, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Fortaleza CE - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais. Deslocamentos, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Fonte: Itaú Cultural