Emil Bauch (Hamburgo, Alemanha 1823 - 189-)
Pintor e litógrafo.
Inicia seus estudos em Munique, entre 1842 e 1844. Expõe na Academia de Berlim. Em 1845, volta para Hamburgo. Chega ao Recife em 1849. Publica, em 1852, o álbum litografado Souvenirs de Pernambuco. Em 1857, já está no Rio de Janeiro. Em 1859, participa da Exposição Geral de Belas Artes (EGBA) com cinco trabalhos, recebendo medalha de prata1. Em 1860, expõe retratos, obtendo medalha de ouro2. Apresenta quatro obras na EGBA de 1862.
Em 1866, associa-se ao pintor Henri Nicolas Vinet (1817-1876), tornando-se um dos pioneiros no ensino da pintura de paisagem ao ar livre no Brasil. No mesmo ano, é convidado pelo arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt (1830-1873) para decorar o Palácio de Nova Friburgo, atual Museu da República. Pinta, em 1867, o retrato conjunto do barão e da baronesa de Nova Friburgo. Em 1872, ano que encerra sua sociedade com Vinet, recebe de d. Pedro II o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa.
Em 1873, expõe Panorama do Rio de Janeiro, litografado. Em 1874, tem vistas e retratos expostos em Hamburgo. Diz-se ter enlouquecido e morrido em manicômio no Rio, em 1890, embora um retrato pouco conhecido do rei da Áustria, Franz Joseph I, do qual a autoria lhe é atribuída, seja datado de 1893. Outras obras suas que merecem menção são: Lançamento da Pedra Fundamental da Ermida de Nossa Senhora dos Remédios, 1863; Paisagem do Rio Vista de Santa Teresa, c. 1870; Vista da Baía do Rio Tomada da Gamboa, 1887; Vista da Cidade e da Entrada da Baía Tomada de Santa Teresa, c. 1887. Tem obras na Biblioteca Nacional, no Museu da República, nos Museus Castro Maya, no Museu Nacional de Belas Artes , no Museu Imperial , na Pinacoteca do Estado de São Paulo , no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP), na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano e no Ministério das Relações Exteriores.
Comentário Crítico
A história de Bauch repete o mesmo esquema da biografia de muitos artistas estrangeiros fixados no Brasil do século XIX: eles chegam, iniciam sua produção, ganham rapidamente notoriedade e prêmios e, subitamente, somem.
Embora algumas dúvidas também cerquem a vida desse artista3, é certo que se destaca na cena artística carioca, sobretudo entre os anos de 1860 e 1870. Sua produção variada e qualitativamente instável oscila entre uma "visão distante" instituída pelos panoramas que realizou, e uma "visão próxima" e mais intimista das suas pinturas de retrato. Entre uma e outra, surgem suas obras mais conhecidas, as pinturas de gênero, que criam uma "visão intermediária", em que aparecem tanto a paisagem quanto cenas povoadas do Brasil Imperial.
Numa Cena de Costumes (1858), talvez a melhor do artista, destacam-se as figuras de diversos negros (escravos) de ganho, imersos em afazeres diários: barbeiro, vendedora de frutas, cafeicultor ou cesteiro, dentista e "médico"4. De início, tal cena busca desenhos de outros artistas estrangeiros da primeira metade do século XIX, como Thomas Ender (1793-1875) , Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e Charles Landseer (1799-1879). Como eles, Bauch mantém uma configuração de certo modo documental das atividades representadas na sua imagem. Busca, todavia, uma evidente síntese de situações, ao condensar vários "tipos" de negros em uma só imagem. Tema que, se no início da década de 1860 já não é tão raro na fotografia feita no país por autores como Christiano Júnior (1832-1902), Victor Frond (1821-1881) e Auguste Stahl (1828-1877) , continua quase inexplorado na pintura de cavalete até, pelo menos, as duas décadas seguintes.
Notas
1São eles: "Vistas panorâmicas da cidade do Rio de Janeiro" (díptico provavelmente intitulado Vista do Rio de Janeiro Tomada do Alto de Paula Mattos no Bairro de Santa Teresa, 1859); Cena de Costumes do Rio de Janeiro; Retrato e "grupo de retratos" (provavelmente o Retrato de Luís e Amélia Gomes, 1859).
2 Não há como precisar a tela premiada, mas existe indicações de que seja a tela A Volta do Casamento no Norte do Brasil. Além desta, o artista expõem O Mercado no Rio de Janeiro; Retrato da Senhora [...]; Retrato do Senhor M.
3Conta-se que enlouquece e morre em um manicômio, no Rio de Janeiro, em 1890. Todavia, em 2000, por exemplo, leiloou-se um retrato de Franz Joseph I, rei da Áustria, datado de 1893, e assinado por Bauch.
4Além de uma versão a óleo, parece existir pelo menos mais duas versões dessa cena, um pouco modificadas, e feitas a lápis. Duas são intituladas Cena de Costumes. Todavia, numa delas, apontada por um site de leilão internacional, o título aparece Scene de Rue a Rio de Janeiro: Le Coin du Rosaria pres de l'Eglise le Dimache....
Críticas
"Emile Bauch, conhecido pelas práticas gráficas, estabelecido no Rio de Janeiro no início dos anos 50, dedica-se ao ensino de paisagem, juntamente com Vinet. As pinturas de Bauch apresentam total domínio do ponto de vista, tanto nas obras em que o observador se situa em um ponto alto, pretendendo abranger uma grande extensão de espaço de um golpe de vista, quanto naquelas em que se coloca num pequeno trecho a beira-mar, para avistar um grande espaço. Nas grandes panorâmicas, o imenso nasce com o enquadramento da linha do horizonte abaixo da metade do campo da pintura, de maneira a dar lugar ao vazio do grande céu. A Estrada da Barra vista de Santa Tereza, Rua Aprazível (...) pintada no Rio de Janeiro, em 1859, dos Museus Castro Maya, e a Vista da Cidade e Entrada da Baía do Rio de Janeiro Tomada de Santa Tereza (...), pintada por volta de 1879, em coleção particular no Rio de Janeiro, revelam que para vencer o espaço o artista escala perfis montanhosos, em sanfona, fazendo com que simulem esconder parte da paisagem, reconstruindo a sensação de continuidade sugerida pela ondulação do terreno. Tira o maior proveito dos acidentes em diagonal. Demarca grandes zonas de intensidade cromática, e a forte luminosidade das cores coincide com o relevo da paisagem. Faz coincidir luz e volume, sombra e efeito em sanfona e despreza a contaminação entre cores pelos valores atmosféricos. Bauch tem um compromisso com o desenho e a especialidade maior do que com a pintura. A transposição de cor alegre, avivada pelo brilho do sol, introduzida nas zonas demarcadas pelo desenho natural, é um dos procedimentos da cor construída em estúdio. (...) A empostação visual de suas pinturas dispensaria referências literárias. No entanto, o artista introduz a figura humana na paisagem como um recurso não só compositivo, mas principalmente literário. As figuras colocadas no primeiro plano têm função narrativa e mostram que Bauch se deixou contaminar pela pintura de costumes, ao evocar o sol fustigante pela sombrinha do caminhante, ao aludir ao calor por meio do leque usado pelas senhoras, e outras práticas, como a das lavadeiras na frente da casa e o uso da charrete, não omitindo o hábito de olhar a paisagem".
Ana Maria de Moraes Belluzzo
Belluzzo, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: A Construção da Paisagem. São Paulo : Metalivros, 1994. V. 3, p. 143.
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Acervo Museu Imperial/IBRAM/MinC
Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, São Pauluo.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB - Rio de Janeiro RJ
Museus Castro Maya - IBRAM/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Museu Nacional de Belas Artes - IBRAM/MinC (Rio de Janeiro, RJ)
Exposições Coletivas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de prata
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de ouro
1862 - Rio de Janeiro RJ - 15ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1872 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
Exposições Póstumas
1982 - Rio de Janeiro RJ - 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, no MNBA
1985 - Rio de Janeiro RJ - O Rio é Lindo - A Paisagem Carioca no Acervo do Banerj, na Galeria de Arte Banerj
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no CCBB
1994 - São Paulo SP - O Brasil dos Viajantes, no Masp
1994 - São Paulo SP - O Olhar e O Ficar. A Busca do Paraíso: 170 anos de imigração dos povos de língua alemã, na Pinacoteca do Estado
1995 - Lisboa (Portugal) - O Brasil dos Viajantes, no Centro Cultural de Belém
1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio, no MAM/RJ
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
Fonte: Itaú Cultural