Calixto Cordeiro (Niterói RJ 1877 - Rio de Janeiro RJ 1957)
Caricaturista, desenhista, ilustrador, litógrafo, pintor e professor.
Inicia suas atividades artísticas em 1890 na Casa da Moeda, onde assiste às aulas de modelagem ministradas por Artur Lucas (s.d. - 1929) e as de gravura, xilogravura e química, dadas pelo português José Vilas Boas (1857 - s.d.). Em 1893 assume o cargo de professor assistente de gravura na instituição. Dois anos depois, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes - Enba e trabalha como litógrafo na Imprensa Nacional. Começa a atuar como caricaturista em 1898, quando colabora na revista Mercúrio, com o pseudônimo K. Lixto, utilizado a partir de então na assinatura de todos os seus trabalhos. Depois de colaborar em diversos periódicos, funda, com Raul Pederneiras (1874 - 1953), em 1902, a revista O Tagarela, em que inicia, em 1904, uma série de charges questionando a campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, instituída por Oswaldo Cruz (1872 - 1917). Para a revista Kosmos, realiza, a partir de 1906, ilustrações para as crônicas de João do Rio (1881 - 1921), Olavo Bilac (1865 - 1918) e Gonzaga Duque (1863 - 1911). Em 1907 assume, ao lado do caricaturista Raul Pederneiras, a direção artística da revista Fon-Fon. Nesse periódico, além de publicar suas caricaturas, responsabiliza-se pela ilustração de grande número de capas. Sempre trabalhando como colaborador em diversas publicações, passa a fazer, em 1911, a publicação de uma série de charges de conteúdo político no jornal Gazeta de Notícias. A partir de 1917, começa a trabalhar como colaborador na revista D. Quixote, em que permanece até 1928. Dessa data em diante, colabora em diversas publicações, entre elas, a revista O Cruzeiro e o jornal Última Hora. Em 1944, funda, com outros artistas, a Associação Brasileira de Desenho.
Comentário Crítico
Calixto Cordeiro ou K. Lixto, como costuma assinar suas obras, destaca-se principalmente como ilustrador e caricaturista. Em 1890, é aprendiz de gravura na Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. Em 1893, passa a atuar como professor de aprendizes da mesma instituição. Dois anos depois estuda na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde é aluno de Henrique Bernardelli (1858 - 1936), Zeferino da Costa (1840 - 1915), Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) e Belmiro de Almeida (1858 - 1935).
Em 1898, passa a colaborar com desenhos no jornal O Mercúrio, no qual já trabalha o caricaturista Raul Pederneiras (1874 - 1953). Em 1902, com Pederneiras e outros, K. Lixto funda o jornal humorístico O Tagarela. Nesse ano, participa da fundação do periódico O Malho, para o qual faz caricaturas e anúncios comerciais. No início da carreira, como apontam alguns estudiosos, seus trabalhos mantêm diálogo com as obras de Julião Machado (1863 - 1930), do caricaturista Caran d'Ache, pseudônimo de Emmanuel Poiré (1859 - 1909), e do desenhista Henry Gerbault (1863 - 1930). O desenho de K. Lixto, para o estudioso Herman Lima, adquire gradualmente maior volume, uma segura distribuição do sombreado, em traços paralelos, verticais e oblíquos. Apresenta ainda um vigoroso uso do claro-escuro no modelado das figuras e na composição das paisagens.
Durante a primeira década do século XX, K. Lixto realiza ilustrações para a revista infantil Tico-Tico e para as publicações Ilustração Brasileira, Leitura para Todos, Século XX, entre outras. Das ilustrações que faz para Kosmos, destaca-se uma série de aguadas, de 1907, para o conto A Morte do Palhaço, de Gonzaga Duque (1863 - 1911). Nela, o artista explora o clima de pesadelo e loucura existente no texto. Para Fon-Fon! produz caricaturas políticas e várias ilustrações a bico-de-pena ou aguada, com longas figuras femininas com vestes em formas próximas a arabescos. Em 1911, faz charges políticas para a Gazeta de Notícias, nas quais enfoca principalmente os políticos Hermes da Fonseca (1855 - 1923) e Pinheiro Machado. Em 1917, realiza a série O Perigo do Trocadilho para o periódico D. Quixote, na qual apresenta trocadilhos ilustrados. Ressalta-se em seu trabalho o grande dinamismo das figuras. Essa capacidade de fixar o movimento permite-lhe mostrar com grande habilidade cenas muito complexas. Apenas de memória, elabora a representação de certos eventos, como uma batalha, uma tourada ou um desastre ferroviário.
K. Lixto realiza também cartazes de produtos como o Bromil ou Saúde da Mulher, que se tornam muito populares na época. Em 1924, é nomeado professor da cadeira de desenho da Escola Visconde de Mauá, em Marechal Hermes, onde leciona por cerca de 20 anos. Ele teve importante atuação no desenvolvimento da caricatura moderna no Brasil, juntamente com Raul Pederneiras e J. Carlos (1884 - 1950).
Críticas
"De tanto lhe resultou, também, o traço caricaturista. A sua caricatura é o bizarrismo da linha, ainda que pretendendo o aleijão hilariante da structura. Abastrahida qulaquer intencionalidade, que por ventura accuse, ella está inteira na maior ou menor dextreza da mão do desenhista, é feita para a visão, tem encanto, a garridice da fórma. Nada, porém, ele perdeu com a escolha, porquanto seu desenho, nem sempre satisfazendojustos rigores acadêmicos, se torna de tal modo livre, elegante e expressivo, que lembra, por vezes, os conceituados signatários das mais preciosas páginas de illustrações e das mais estimadas revistas de estampas.
Creio mesmo que Gerbault, Caran D'Ache, Verber e Henri Boulet, sejam os que, através de seus álbuns, mais directamete tenham concorrido para o desenvolvimento esthetico de Calixto Cordeiro.
Não quer isto dizer que elle os imite com servilidade. Ao contrário, quer sublinhar que o moço caricaturista aproveita delles o que lhe era necessário e o que devia, a exemplo de quantos procuram desenvolver aptidões dos proveitosos ensinamentos dos mestres. De mais a posição do seu desenho é inconfundível. (...) Essa extraordinária espontaneidade de se exprimir pelo desenho dando corpo a todas as idéas e pensamentos, concretizando o trabalho de seu cérebro por imagens materiaes, absorve-o no gozo de realizar as mais imaginosas composições figuradas e retira-lhe a preocupação de se comunicar por outro processo que não seja o da sua arte. (...) Tem para tanto a pupilla objectiva, abrangedora, dos verdadeiros caricaturistas; vê o ridículo por um modo synthetico e lucido. Desde que se torne senhor absoluto do desenho, sua maneira será fascinante e nítida, como trabalhada de um golpe, certa e definitiva. Fascinante, por elegância e expressão, já é sua obra de hoje, que aos poucos se afasta, com feliz teimosia, da satyra política para os assuntos sociaes, apanhando os episódios de sala e de rua, fixando entidades de platéa e de camarins, que constituem interessante documento caricaturado de um tempo".
Gonzaga Duque
DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Benedicto de Souza, 1929. p.243-244
"Nessa fase de início, quando o artista, em geral, há de sofrer quase inevitavelmente a influência de algum mestre, era fácil notar que a vizinhança da pessoa e da arte de Julião Machado não seriam alheias ao desenvolvimento estético do jovem caricaturista. Gonzaga Duque atribui-lhe, por esse tempo, numerosas influências de artistas franceses, entre eles Henry Gerbault e Caran D'Ache (pseudônimo do caricaturista francês Emmanuel Poiré). De Caran D'Ache vamos encontrar, com efeito, por longo tempo, certas reminiscências mais teimosas, especialmente no recorte dos figurões elegantes metidos naqueles fraques da moda, com as ombreiras ultra-salientes, o risco das costas exageradamente vincado e a linha das calças - fantasia caindo em ângulo contra a ponteira rebrilhante das botinas de verniz. Daí também pode ser que esse ar de parentesco entre Julião, K. Lixto e Caran D'Ache viesse apenas das pegadas da mesma trilha, ou fosse, pela comum adoção do traço contínuo, cheio e limpo de esfumados, anteposto sensacionalmente pelos três ao modelado obrigatoriamente lambido da litografia e do esfuminho , ainda em pleno vigor no fim do século passado".
Herman Lima
LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil IV. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963. p. 1116.
Exposições Individuais
1911 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria do Brasil
1956 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MNBA
Exposições Coletivas
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1954 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes, no Palácio da Cultura - medalha de prata
Exposições Póstumas
1977 - Rio de Janeiro RJ - Individual comemorativa pelo centenário de seu nascimento, no MNBA
1987 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva com caricaturas produzidas para a revista D. Quixote, na Sala Carlos Oswald do MNBA
2001 - São Paulo SP - Caricaturistas Brasileiros, no Instituto Cine Cultural
Fonte: Itaú Cultural