Bernard Rudofsky (Zauchtl, Áustria 1905 - Nova York, Estados Unidos 1988)
Arquiteto, designer, fotógrafo, pintor, professor, diretor de arte, editor.
Forma-se engenheiro arquiteto na Technische Hochschule [Escola Técnica] de Viena em 1928, onde três anos depois obtém o título de doutor em ciências técnicas. Inicia em 1923 uma série de 35 viagens de estudo, dedicadas especialmente à arquitetura vernacular, pela Europa, Estados Unidos, Japão, América Latina, Ásia e África. Entre 1928 e 1938 trabalha com os arquitetos Otto Rudolf Salvisberg em Berlim; Siegfried Theiß, Hans Jaksch em Viena; Luigi Cosenza em Roma; e Gio Ponti em Milão. Muda-se para Nova York em 1935, e retornando à Europa vai a Nápoles no ano seguinte para acompanhar as obras da Casa Oro, 1935/1937, que projeta com Luigi Cosenza. Foge do recrutamento pelo exército alemão em abril de 1938, e viaja para Buenos Aires. Após seis meses muda-se para o Rio de Janeiro e no ano seguinte para São Paulo, para trabalhar como diretor de arte e designer de móveis no Studio Casa & Jardim, desenvolvendo concomitantemente projetos como arquiteto autônomo, entre eles as casas Frontini, ca.1939/1940 e Arnstein, ca.1939/1940, a loja, o mobiliário e o logotipo da Fotoptica, ca.1940. Participa do 2º Salão da Família Artística Paulista, em 1939, do último Salão de Maio e do concurso Organic Design, 1940-1941, promovido pelo Museu of Modern Art - MoMA [Museu de Arte Moderna] de Nova York, em que ganha o primeiro prêmio. Em outubro de 1941 muda-se definitivamente para Nova York, e recebe o título de cidadão americano em 1948. A convite do diretor do MoMA, Philip L. Goodwin, participa da exposição Brazil Builds, em 1942 e propõe mostras como Are Clothes Modern?, 1944, e Architecture without Architects, 1964. Publica os catálogos dessas exposições, livros como The Unfashionable Human Body, 1971 e The Prodigious Builders, 1977, e artigos nas revistas Life, ca.1940, e Interior Design, 1984. É editor e designer gráfico das revistas New Pencil Points, 1942-1943, e Interiors, 1946-1949, além de professor temporário em diversas universidades nos Estados Unidos, Europa e Japão. Recebe os prêmios Ford Foundation Scholarship, 1963, Guggenheim Memorial Foundation Fellowship, 1964 e 1969, Prechtl, ca.1970, Visual Arts da Associação Internacional de Arquitetos - AIA, 1979 e Viena Architecture, 1986.
Comentário crítico
Bernard Rudofsky faz parte do grupo de arquitetos europeus que emigram a partir do fim da década de 1930 para a América Latina por causa da Segunda Guerra Mundial, 1939-1945. Ao contrário de Lucjan Korngold, Franz Heep, Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti, o arquiteto austríaco permanece apenas três anos no Brasil. Contudo, a despeito de sua rápida passagem pelo país, suas obras em São Paulo ganham destaque na Europa e nos Estados Unidos, contribuindo de maneira significativa para a divulgação internacional da arquitetura moderna brasileira, seja através dos artigos que escreve para as revistas Casabella e Nuestra Arquitectura, seja pela sua participação na famosa exposição Brazil Builds, realizada no Museum of Modern Art - MoMA de Nova York, entre 1942 e 1943.
Como Lina Bo Bardi, Palanti e outros, Rudofsky deixa para trás uma carreira consolidada na Europa, e realiza no Brasil projetos de arquitetura, mobiliário, logotipos e calçados, que têm vínculos claros com a sua obra pregressa, mas também com o que ele desenvolve em Nova York a partir de 1941. Das obras realizadas na Europa, a que tem maior repercussão é a Casa Oro, 1935/1937, realizada com o arquiteto italiano Luigi Cosenza. Adaptada ao terreno estreito e à paisagem local, a casa se desenvolve longitudinalmente como um somatório de volumes cujas faces planas são recortadas por caixilhos e terraços. Todos os ambientes se voltam para a vista da baía de Nápoles tendo uma relação fluida com o espaço externo.
Em São Paulo, Rudofsky constrói duas casas, que são expostas na mostra Brazil Builds: a Casa Frontini, ca.1939/1940 (demolida) e a Casa Arnstein, ca.1939/1940. Em ambas, é possível reconhecer na simplicidade das formas, na ausência de ornamentação, na construção de volumes prismáticos e na relação franca entre os espaços internos e externos ecos da Casa Oro e dos projetos para as Casa B., ca.1932/1933 e Berta Doctor, 1935, realizados na Itália. Os pátios das casas paulistanas, entretanto, não são centrais ou encerrados como os das duas últimas casas nem tão influenciados pela tradição italiana, remetendo antes à arquitetura vernacular que o arquiteto pesquisa desde os tempos de estudante. Apartadas da rua, as casas se organizam em blocos funcionais: estar, serviço e repouso. Para este último é reservado um pátio externo específico, destacando-se daquele destinado à sala de estar e jantar.
O mobiliário realizado no Studio Casa & Jardim retoma as experiências desenvolvidas na Casa Oro e em sua primeira estada em Nova York entre 1935 e 1936, mas é com os móveis de jardim idealizados para o concurso Organic Design, 1940-1941, do MoMA, em que é premiado, que o arquiteto, mesclando materiais como fibras de sisal, juta ou banana, aço galvanizado e madeira, desenha um mobiliário que tem a mesma leveza dos projetos anteriores, mas propõe uma adaptação ao meio e às disponibilidades técnicas locais, uma síntese entre artesanato e indústria, aproximando-se da experiência de Lina Bo Bardi e Palanti no Studio de Arte Palma.
Com o prêmio do MoMA, Rudofsky muda-se definitivamente para Nova York, onde se destaca como editor e curador de mostras do MoMA e designer de calçados e acessórios femininos, confeccionados pela empresa Bernardo Sandals, 1946-1964. De todas essas exposições, a que tem maior repercussão entre os arquitetos é a Architecture without Architects, 1964-1965, um elogio à arquitetura vernacular que ele tanto admira.
Fonte: Itaú Cultural