Abigail de Andrade (Vassouras RJ 1864 - Paris, França ca.1890)
Pintora e desenhista.
Inicia os estudos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, em 1882, um ano após o decreto que permite a frequência feminina na escola. Aluna do cartunista Angelo Agostini e do fotógrafo e pintor Insley Pacheco, Abigail de Andrade pinta cenas do cotidiano carioca, paisagens, retratos, autorretratos e naturezas-mortas, além de realizar desenhos. Participa da mostra do Liceu de Artes e Ofícios em 1882, e recebe elogios de Agostini nas páginas da Revista Ilustrada. É a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro de 1º grau na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, em 1884, a mesma que revela os artistas Almeida Júnior, Rodolfo Amoedo e Belmiro de Almeida. Expõe na Casa Vicitas e na Casa Costrejean, no Rio de Janeiro, em 1886. O crítico Gonzaga Duque faz-lhe um comentário elogioso no livro A Arte Brasileira, publicado em 1888, em que defende que ela seja enviada para o exterior para aperfeiçoar seus estudos. Após seu envolvimento com Angelo Agostini, acompanha-o a Paris para fugir do escândalo causado pelo relacionamento. Tem com ele uma filha, a também pintora Angelina Agostini. Seu nome, praticamente ausente dos livros de história da arte e dicionários de artes plásticas no Brasil, é mencionado pelo pintor e historiador da arte Theodoro Braga, que lista os poucos estudos publicados a respeito de Abigail de Andrade no livro Artistas Pintores do Brasil, de 1942.
Comentário crítico
Segundo a análise da pesquisadora Ana Paula Simioni, o reconhecimento de Abigail de Andrade como a primeira mulher a receber uma premiação na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, em 1884, representa o início de uma visibilidade institucional para as mulheres artistas no Brasil do fim do século XIX. Impedidas de frequentar oficialmente a Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, fato que só se torna possível em 1892, as mulheres têm pouco espaço de aprendizagem artística nesse período. Suas opções são restritas a aulas particulares ou aos cursos livres na Aiba, com exceção das aulas de modelo vivo, julgadas impróprias para o pudor feminino. Celebrada pelo crítico Gonzaga Duque como uma verdadeira profissional entre os artistas amadores, Abigail de Andrade faz no fim do século XIX uma pintura considerada "moderna", que valoriza as temáticas então tidas como inovadoras, cenas de gênero que envolvem o cotidiano popular. Suas obras revelam uma atenção à impressão do instante, como a tela Cesto de Compras, s.d., premiada na Exposição Geral. Nessa composição, à primeira vista, uma natureza-morta tradicional, Ana Paula Simioni observa o interesse em retratar um instantâneo do cotidiano doméstico, realçado pelo detalhe da gaveta entreaberta, pelos objetos dispostos desordenadamente e pelo dinheiro espalhado sobre a mesa. Apesar da composição minuciosa, na qual os objetos são pintados com as técnicas tradicionais do modelado em claro-escuro e em sua cor local, a busca pela captação do instante, que se reflete mais na escolha da disposição dos elementos do que em sua fatura, pode-se relacionar ao fato de a artista frequentemente utilizar-se de fotografias - muitas delas tiradas por Insley Pacheco, seu professor - como ponto de partida para suas telas.
Críticas
"A Sra. D. Abigail rompeu os laços banaes dos preconceitos e fez da pintura a sua profissão, não como outras que, acercadas dos mesmos cuidados paternaes, aprendem unicamente a artesinha collegial, pelintra, pretenciosa, hypocrita, execravel de fazer bonecos em papel Pellee e aquerellar paizagens d´apres cartons; não para dizer que sabe desenhar e pintar setins de leques, não para reunir á prenda de tocar piano e bordar a retroz a de martyrisar pinceis, mas por indole, por vontade, por dedicação. É que a Sra. amadora possue um espírito mais fino, mais profundamente sensivel as impressões da natureza e sabe, ou por si ou intelligentemente guiada, applicar o seu talento a uma nobre profissão que ha de, senão agora, pelo menos em breve tempo, colmar-lhe a vida de felicidades. (...) os retratos e as paizagens que ha exposto são verdadeiras victorias para uma amadora, mas n´estas obras ressente-se um pulso muito feminino, muito timido, e sobre tudo um exaggero, aliás perdoavel, de aproveitar bem o assumpto suffocando a primeira impressão recebida como se obrigada fosse as convenções do ensinamento".
Gonzaga Duque
DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: s. ed. , 1888.
Exposições Individuais
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Vicitas
1886 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa Costrejean
Exposições Coletivas
1882 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, no Liceu de Artes e Ofícios
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - 1ª medalha de ouro
Exposições Póstumas
1989 - Rio de Janeiro RJ - O Rio de Janeiro de Machado de Assis, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
Fonte: Itaú Cultural