Exposição Flavio de Carvalho – A cidade do homem nu

A iconoclastia e a originalidade de Flavio de Carvalho ganham retrospectiva homônima no Museu de Arte Moderna de São Paulo

 

Exposição, com curadoria de Rui Moreira Leite, tem abertura no dia 15 de abril (quinta-feira), a partir das 20h.

Livro Flávio de Carvalho - O comedor de emoções - J. Toledo - Editora da UNICAMP / Brasiliense
Livro Flávio de Carvalho – O comedor de emoções

O Museu de Arte Moderna de São Paulo faz o resgate das diversas facetas da obra de um dos artistas mais revolucionários de seu tempo: a retrospectiva Flavio de Carvalho, sob curadoria de Rui Moreira Leite. A exposição será inaugurada no dia 15 de abril (quinta-feira), a partir das 20h, na Grande Sala, trazendo cerca de 60 obras e outros 30 itens aproximadamente, entre projetos, fotos, ensaios e documentos, que atestam a genialidade precursora do artista.

O destaque é o projeto arquitetônico classificado em 1934 entre os primeiros colocados no concurso promovido pela prefeitura de São Paulo para escolha do segundo Viaduto do Chá, inaugurado em 1938. A vista do Anahangabaú, até hoje inédita do grande público, é a peça de abertura da mostra, instalada no primeiro grande painel que se pode ver no espaço expositivo.

O artista

Flavio de Carvalho (1899-1973) foi um artista anos à frente de seu tempo. Multimídia e provocador, enveredou pelas mais distintas linguagens artísticas (como arquitetura, pintura, escultura, performance, happening, cenografia e teatro) para transcender os valores sociais estreitos que então vigiam em São Paulo e, mais amplamente, no Brasil. Sua formação simultânea em engenharia e pintura, adquirida na Inglaterra (Universidade de Durham, Newcastle upon Tyne), lhe conferiu um senso estético inusual no Brasil de então e uma amplitude de interesses que lhe possibilitou uma abordagem da arte como poucos já haviam experimentado, principalmente em solo nacional.

New Look – 1956 – Traje do “Novo homem dos Trópicos”.

Essa originalidade o impulsionou a criar ligações com os artistas de vanguarda, tanto no Brasil quanto na Europa. Aqui, aderiu à antropofagia entre os anos 20 e 30 e criou do Clube de Artistas Modernos (CAM) em 1932, com Antonio Gomide (1895 – 1967), Di Cavalcanti (1897 – 1976) e Carlos Prado (1908 – 1992). Na Europa, entrevistou em 1934 expoentes das artes, como André Breton (1896 – 1966) e Man Ray (1890 – 1976), o que gerou algumas matérias publicadas em revistas e no jornal Diário de S. Paulo.

Seus diversos projetos arquitetônicos inscritos em concursos públicos, como o caso do Viaduto do Chá (1934) e, anteriormente, do Palácio do Governo do Estado de São Paulo (1928), nunca chegaram a ser executados, mas foram reconhecidos como importantes obras de arquitetura modernista. No caso de monumentos, participou em 1934 de um concurso para criar o Monumento ao Soldado Constitucionalista em 1934, mas foi em 1968 que realizou o Monumento a García Lorca na Praça das Guianas, em São Paulo. A obra, destruída em uma manifestação do Comando de Caça aos Comunistas no ano seguinte à sua inauguração, foi reconstruída pelo artista e exibida na Bienal Internacional de Arte de 1971, embora não tenha voltado à praça: foi recolhida a um depósito da prefeitura.

A polêmica também sempre fez parte de sua trajetória, evidenciando os costumes retrógrados de sua época. Em 1931, caminhou de boné no sentido contrário a uma procissão de Corpus Christi e quase foi linchado pelos participantes, sendo salvo pela polícia. É essa sua Experiência nº 2, misto de happening e performance quando poucos artistas ousavam enveredar por esse caminho em solo brasileiro.

Outra de suas Experiências, a famosa nº 3 (1956), consistiu no caminhar do artista pelo centro de São Paulo vestido com o New Look masculino (uma paródia do New Look feminino de Christian Dior) por ele concebido: blusão de mangas curtas e folgadas e saiote de pregas largas.

Além dessas ousadias, foram fechados em 1933 e 1934, respectivamente, o Teatro da Experiência e a primeira exposição individual (reaberta por ordem judicial poucos dias depois) de Flavio de Carvalho, sob acusação de atentado ao pudor. Com o passar do tempo e o surgimento de uma nova vanguarda nos anos 60, ficou evidente o papel do artista com prenunciador de movimentos que viriam a ser mais amplamente explorados então, possibilitando a ele o reconhecimento merecido ainda em vida, com obras adquiridas pelo MoMA em 1957 e, dez anos depois, com a premiação da IX Bienal na categoria de artista internacional (feito jamais igualado por outro artista brasileiro) entre outros.

New Look - 1956 - Traje do "Novo homem dos Trópicos".
New Look – 1956 – Traje do “Novo homem dos Trópicos”.

A exposição

Todas as facetas da produção artística de Flavio de Carvalho serão contempladas em nichos organizados cronologicamente pela Grande Sala. Na entrada da mostra, está o original do projeto inédito para o Viaduto do Chá, que representa o cenário de suas atividades, como suas Experiências, ladeado por uma linha do tempo.

A arquitetura é o mote dos primeiros nichos laterais. À esquerda, cópias fotográficas de projetos como o Farol de Colombo e a Embaixada da Argentina (ambos de 1926) resgatam a primeira fase de seu trabalho de arquiteto, uma vez que os originais se perderam com o tempo. Seus projetos mais pessoais, como a casa da Fazenda Capuava, de propriedade de sua família, e a Vila América, conjunto de 17 casas localizado na esquina da rua Ministro Rocha Azevedo com a alameda Lorena, figuram ao lado direito.

Entre esses nichos, figuram as primeiras obras de sua carreira artística mais convencional: pinturas (majoritariamente, entre óleos, aquarelas e guaches) e desenhos. Na sequência, ainda no espaço central da Grande Sala, estão obras de cenografia e figurino, além de duas vitrines centrais que exibem obras de referência do período de formação do artista e documentação do Clube dos Artistas Modernos (CAM) e do Teatro da Experiência.

As três edições do Salão de Maio (entre 1937 e 1939), exposição que visava criar um espaço de difusão da arte moderna e que tinha em Flavio de Carvalho um membro extraoficial da organização, são o assunto do terceiro nicho central. Nesse ponto da exposição, à esquerda, são remontadas por meio de registros de época e material de arquivo referente às Experiências. Penúltimo espaço da mostra, a sala de exibição abriga a projeção do documentário de 28 minutos Flavio de Carvalho, o revolucionário romântico (1993), dirigido por Marcos Rogatto. Seguindo a cronologia, o último espaço da mostra traz a produção derradeira do artista.

O curador

Rui Moreira Leite nasceu em São Paulo, em 1957. Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (1980) e doutor pela Escola de Comunicações e Artes (1995), ambas da Universidade de São Paulo, é um dos principais estudiosos no Brasil da obra de Flavio de Carvalho, tendo sido curador, com Walter Zanini, da sala dedicada ao artista na 17ª. Bienal Internacional de Artes de São Paulo (1983). É autor de Flávio de Carvalho, o artista total (2008).

SERVIÇO

Exposição Flavio de Carvalho (Grande Sala)
Curadoria: Rui Moreira Leite

Abertura: 15 de abril, a partir das 20h
Visitação: 16 de abril a 13 de junho de 2010
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
tel (11) 5085-1300
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 5,50

Sócios do MAM, crianças até 10 anos e adultos com mais de 65 anos não pagam entrada. Aos domingos, a entrada é franca para todo o público, durante todo o dia

Agendamento gratuito de visitas em grupo pelo tel. 5085-1313 e email educativo@mam.org.br
Site: www.mam.org.br

 

Estacionamento no local (Zona Azul: R$ 3 por 2h)
Acesso para deficientes / Restaurante/café / Ar condicionadoMais informações para a imprensa

Conteúdo Comunicação
Núcleo MAM – Luciana Pareja (imprensamam@mam.org.br) 7200 4131
Tel.: (11) 5085 1337
Roberta Montanari (roberta.montanari@conteudonet.com) 9967 3292
Cláudio Sá (claudio.sa@conteudonet.com) 9945 7005
Tel. (11) 5056 9800