Falsos Aldemir Martins apreendidos em São Paulo
Quadros seriam do artista plástico cearense Aldemir Martins, morto em 2006. Segundo representantes do artista, o material não é autêntico
Imagine comprar três quadros de um dos mais renomados artistas plásticos brasileiros com certificado de autenticidade assinado pelo próprio pintor e firma reconhecida em cartório e, quando submeter as obras à avaliação específica, descobrir que não passam de falsificações. Foi exatamente isso que aconteceu com um empresário de 50 anos que adquiriu um quadro intitulado Mulher, datado de 2000, e dois com o nome de Gato, datados de 2000 e 2001. Todos supostamente do cearense Aldemir Martins (1922–2006).
Integrantes do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic) apreenderam, na última sexta-feira (5), cinco quadros falsamente atribuídos ao artista plástico. Outros três estavam com o colecionador. O caso começou quando o empresário procurou o Estúdio Aldemir Martins, localizado em São Paulo, gerenciado pelo filho do artista, Pedro.
No estúdio, são realizadas avaliações das pinturas para conferir autenticidade. Grupos de pessoas que conheceram as distintas fases de Aldemir são convidados para julgar. No caso dos quadros trazidos pelo empresário foi detectada a falsificação. Ele resolveu levar a história à polícia, pois já havia feito uma nova encomenda. No momento da entrega, os policiais interceptaram um carro e apreenderam outra obra.
Em entrevista ao O POVO Pedro Martins, filho de Aldemir, disse que aproximadamente 60% dos quadros que chegam ao estúdio são falsos. Cada avaliação pode durar de uma semana a um mês. Assinatura, temas, traços e materiais escolhidos são levados em conta. “Nosso foco é preservar a obra do Aldemir, mas além de preservar emitimos um selo de autenticidade. Esses quadros foram identificados como não autênticos porque a pessoa foi ludibriada”, relata.
Outro ponto tratado por Pedro Martins é a disparidade de preços de uma obra original em comparação aos quadros falsos. Enquanto uma cópia pode ser vendia por 10 mil reais, um original chega a custar 30 mil dólares. “Quando a pessoa adquirir com essa margem de preço corre um perigo. Isso é um chamariz para os compradores”, disse. O artista plástico e diretor da Escolinha Aldemir Martins, Tota, teve como mestre o renomado pintor cearense e lamenta este tipo de crime. Ele lembra o caráter sensível e pessoal das manifestações culturais. “O artista expressa no trabalho o seu sentimento. Falsificar é querer maquiar, usar o outro, usar a roupa do outro”, comenta.
Segundo o artista plástico, os traços de seu mestre são fáceis de perceber. Ele conta que Aldemir Martins sempre primava pela utilização das melhores tintas, melhores telas, melhores pincéis. E muitas vezes os imitadores não atentam para esses detalhes e produzem réplicas grosseiras. Outro ponto levantado por Tota foi o menor fluxo de quadros quando o pintor cearense já estava em seus últimos anos de vida. Sendo assim, seria muito difícil o aparecimento de tantas imagens datadas de 2000 ou 2001.
Se estivesse vivo, Aldemir Martins teria completado 88 anos de vida ontem. Para comemorar a data será realizada uma exposição no mês de dezembro. Tota também está articulando a construção de um memorial com fotos, telegramas, bilhetes e cartões-postais. “O público merece conhecer a verdadeira obra dele. Embora seja uma coisa pequena como um cartão, mas que seja original”, enfatiza.
Fonte: O Povo online