José Ferraz de Almeida Junior – Pintor Acadêmico Brasileiro
José Ferraz de Almeida Júnior provavelmente foi o primeiro artista plástico brasileiro a retratar nas telas o homem do povo em seu cotidiano, em contraste com a monumentalidade que até então predominava nas artes plásticas do Brasil. A forma inovadora como tratava a luz é ainda hoje comentada e apreciada.Em sua honra, o dia do Artista Plástico Brasileiro é comemorado a 8 de Maio, dia do nascimento do pintor.
Nosso pintor é frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, que aparecerá mais tarde – durante seu último período – em sua carreira, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo que evoluiu para um realismo quando assimilando o legado do Realismo de Gustave Courbet, articula-os ao compromisso da ideologia dos “salons” parisienses estabelecendo uma ponte entre o “verismo intimista” e a rigidez formal do “academicismo”.
Artista precoce em Itú, com 19 anos já frequentava os cursos da Academia Imperial de Belas Artes, relatando as crônicas da época seu jeito simplório e linguajar que revelava sua rusticidade. Inicialmente pintou temas históricos e bíblicos. Um belo exemplo neoclassico é um de seus primeiros auto-retratos, ele na vestes helênica-romana. Difícil crer que um pintor com tal talento pudesse ter algum traço de rusticidade. Nas palavras de Gastão Pereira da Silva:
Era o mais autêntico e genuíno representante do tradicional tipo paulista. Mas sem nenhum traquejo de homem de cidade. Falava como os primitivos provincianos e tal qual estes vestia-se, andava, retraía-se. Mas isso não impediria que fizesse um curso brilhantíssimo, durante o qual recebeu diversas premiações em desenho figurado, pintura histórica e modelo vivo, inclusive, em 1874, a grande medalha de ouro com o quadro “Ressurreição do Senhor”.
Na ocasião, não concorre para o prêmio di viagem ao exterior, fato que apenas posterga o que já estava escrito nas estrelas! Quando da inauguração da Estrada de Ferro Mogiana, em 1875, o Imperador D. Pedro II deslumbrou-se com um retrato a óleo do futuro Visconde de Parnaíba, quis conhecer o autor e, sabendo dos seus poucos recursos, lhe ofereceu custear os estudos na Europa. O pintor recebeu o dinheiro da passagem e uma bolsa de 300 francos mensais. Em 4 de novembro de 1876, embarca para a França, tornando-se aluno e amigo do célebre Alexandre Cabanel, passando a participar de salões em Paris, em Roma, ganhando notoriedade internacional.
Sucesso atrai sucesso. Volta de Paris, estabeleceu-se em São Paulo e Veridiana Prado lhe abre, em definitivo, as portas da sociedade paulistana. Em 1885, em reconhecimento aos seus méritos, o Imperador Don Pedro II lhe concede o grau de “Cavaleiro da Ordem da Rosa”.
Mas nem só gaiosa benesse estava inscrito na estrela de Almeida Jr. Paixão e morte trágica, também! A grande paixão de Almeida Júnior foi Maria Laura do Amaral Gurgel que se casara com um primo do pintor, José de Almeida Sampaio. A paixão explodiu entre os dois e Maria Laura teve um filho de Almeida Júnior.
Sem saber da relação entre os dois, José Sampaio hospedou-se, em São Paulo, na casa do pintor onde, incidentalmente, descobre um pacote de cartas com a letra de Maria Laura. Eram cartas de amor. Era o dia 11 de novembro de 1899. Imediatamente, telegrafa para a esposa, pedindo que ela o esperasse, no dia 13 de novembro, à porta do Hotel Central, em Piracicaba, onde Almeida Júnior se hospedava habitualmente. José Sampaio viu, às 14h30 do dia 13 de novembro, quando Maria Laura, os cinco filhos e a irmã chegavam ao hotel, escoltadas por Almeida Júnior. Eles desceram do coche, Almeida Júnior estava pagando o cocheiro — um menino negro, de nome David – quando Sampaio se aproximou e lhe desferiu uma punhalada. O pintor tentou, ainda, sacar de sua faca de picar fumo, mas cambaleou e caiu na calçada do hotel, sendo atendido por Maria Laura, desesperada, ao ver o amante ensangüentado. “Estou morto…” — foram as últimas palavras do pintor. Morria às 15 horas daquele dia.
Almeida Júnior está sepultado em um mausoléu no Cemitério da Saudade em Piracicaba. José Sampaio foi absolvido pelos jurados que acolheram a tese da “legítima defesa da honra”, defendido por seu advogado, o brilhante Dr. Francisco Morato, que é reverenciado no Fórum de São Paulo.
Na obra ora colocada em pregão – “Piquenique no Rio das Pedras” – Almeida Jr. faz referência ao lazer dessa elite que retrata pessoas reunidas para um piquenique na beira de um ribeirinho na mata do sítio “Rio das Pedras”. É uma mata fechada, com ar muito bucólico. Os presentes estão elegantemente vestidos e formam um grupo que aproveita a tranqüilidade da natureza, fresca e agradável. Um contato de lazer estabelecido com o mundo natural; e, nessa atmosfera – assim reza a lenda – Almeida Jr. retratou a si próprio e ao seu algoz. José Sampaio é o homem alto em pé e Almeida Jr. está sentado mais ao centro da composição.
É manifesto perceber que Almeida Júnior assimila o tema da “fête galante” através das obras realizadas por artistas como, por exemplo, a composição realista de Edouard Manet (1832-1883) “Le Déjeuner sur l’herbe” e outras de Gustave Courbet (1819-1877) e Claude Monet (1840-1926), para em seguida adaptá-las para uma versão realista paulista.
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Por Valerio Pennacchi