Luiz Gonzaga – Lula Cardoso Ayres
– Pintor, fotógrafo, desenhista, ilustrador, muralista e cenógrafo – Recife, 1910-1987.
Bem nascido em meio à oligarquia “sucroenergética” de seu estado, Lula Cardoso Ayres teve a oportunidade, na sua juventude, de visitar Paris (1925), ver de perto a segunda fase da então arte moderna e tomar algum contato com a “art déco”. Depois de seu retorno ao Rio de Janeiro, freqüentou a ENBA, conheceu Rodolfo Amoedo, Chambelland, Portinari, e, também por seu contato com o polímata brasileiro Gilberto Freyre (1934), pode vivenciar e intensificar a vertente antropológica na representação de suas obras que retratam a vida cotidiana do Nordeste, seu festivo e colorido dia-a-dia. Seu percurso o levou para junto das míticas Palmares e Cucaú; quando, por um período administrou usinas de açúcar da família (1938).
Figurativo com forte temática social (1940) faz uma incursão pelo abstracionismo nos anos 1950’s, provavelmente influenciado pela lógica modernizadora dos movimentos neoconcretos em São Paulo e Rio de Janeiro, compatíveis com a importante participação de Max Bill (1908-1994) e seu ideário concreto na 1ª. Bienal de São Paulo.
O “Ex-votos” e uma obra “Sem Título” bem representam sua tentativa de chegar, patrindo da figura, a uma abstração e a uma síntese. Formal.
A então chamada “arte moderna” e a conseqüente “corrente abstracionista” já era preconizada, discutida e produzida por Hans Hoffmann¹ e sua escola presente em New York nos anos 1950’s teria seu lugar assegurado na Bienal de 1957 com a participação de Jackson Pollock (1912-1956). Gostaria de enfatizar a importância dos “marchands” nova-iorquinos da época; que apesar de comerciantes eram também movidos por ideais que envolviam a então arte contemporânea com um aspecto da atmosfera social vigente na cidade. Esses “marchands” eram os oxigenadores do novo²!
Retorna ao figurativismo nos anos 1960 com mulatas e morenas de sua terra que são paulatinamente substituídas, na maioria de suas obras, por seres imaginários oriundos da fauna local, assumindo novamente um caráter de odor surreal.
A figura da nossa “Lavadeira” em pregão é um bom exemplo de sua poética bem como de seu colorido etéreo e atmosfera surreal e se assemelha em muito à qualidade presente no “Cafuné”.
¹Hans Hoffmann (1880-1966); pintor alemão radicado nos EE.UU. Morou em Paris durante o período 1904-1914 e pintou com Matisse e Delaunay. A partir de 1932 deu aulas na “University of California, Berkeley” e no ano seguinte iniciou seus ensinamentos na “Art Students League of New York”, e em Provincetown, influenciando decididamente um grande número de pintores de reconhecido mérito nacional e internacional entre os pintores abstracionistas e abstracionistas-expressionistas.
²“New Art City – Nova York, capital da arte moderna”; Jed Perl; Companhia das Letras; São Paulo, 2008.
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