Wasth Rodrigues (São Paulo SP 1891 - Rio de Janeiro RJ 1957)
Pintor, desenhista, ceramista, ilustrador, historiador e professor.
José Wasth Rodrigues estudou com Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939), entre 1908 e 1909, em São Paulo. Em 1910, como pensionista do governo do Estado, viaja para Paris. Matricula-se na Académie Julian, onde estuda com Jean-Paul Laurens (1838 - 1921), e na École National des Baux-Arts freqüenta as aulas de Lucien Simon (1834 - 1910) e Nandi. Retorna a São Paulo em 1914 e, dois anos depois, inaugura com Georg Elpons (1865 - 1939) e William Zadig (1884 - 1952) um curso de desenho e pintura. Em 1917, realiza com Guilherme de Almeida (1890 - 1969) o brasão da cidade de São Paulo. Por volta de 1918, inicia estudos sobre história colonial, e é um dos pioneiros na análise sistemática das atividades artísticas praticadas nesse período. Na década de 1920, cria painéis decorativos para os quatro monumentos que ornamentam a Calçada do Lorena e a estrada velha de Santos. Em 1932, integra o grupo de fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna - SPAM. Realiza ilustrações para diversos livros, entre eles Urupês, de Monteiro Monteiro Lobato (1882 - 1948), Uniformes do Exército Brasileiro 1720-1922, de Gustavo Barroso (1888-1959), Brasões e Bandeiras do Brasil, de Clóvis Ribeiro (1933), e Vida e Morte do Bandeirante, de Alcântara Machado (1875 - 1941). Entre 1935 e 1936, realiza projeto para a restauração dos bancos e das grades de ferro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto. De sua autoria são publicados os seguintes estudos: Documentário Arquitetônico Relativo à Antiga Construção Civil no Brasil (1945), Mobiliário do Brasil Antigo e Evolução de Cadeiras Luso-Brasilieras (1958).
Comentário Crítico
Wasth Rodrigues estuda pintura com Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939), entre 1908 e 1909. Realiza sua primeira exposição individual em 1910 e recebe do governo do Estado pensão para se aperfeiçoar na Europa. Em Paris, estuda na Académie Julian, com Jean-Paul Laurens (1838 - 1921) e na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes], com Lucien Simon (1861 - 1945) e Nandi. Freqüenta o café La Rotonde, onde tem contato com artistas como Mugnaini (1895 - 1975), Alípio Dutra (1892 - 1964), Monteiro França (1875 - 1944) e José Marques Campão (1892 - 1949). Trava amizade também com o pintor Amedeo Modigliani (1884 - 1920).
Retorna ao Brasil devido ao início da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), e fixa residência em São Paulo. Em 1916, expõe na cidade os trabalhos feitos na França e também suas novas paisagens, muitas delas realizadas em cidades no interior do Estado de São Paulo. Como aponta a estudiosa Ruth Tarasantchi, várias das telas ambientadas em São Paulo são composições com colinas suaves ao fundo, trechos de rio no primeiro plano e arbustos refletidos nas águas tranqüilas, que transmitem impressão de grande calma.
Nesse mesmo ano, Wasth Rodrigues cria um curso de arte com o pintor Georg Elpons (1865 - 1939) e com o escultor William Zadig (1884 - 1952), e dá aulas de pintura à noite. Viaja para Minas Gerais, e realiza trabalhos em aquarelas e bicos-de-pena, nos quais apresenta com riqueza de detalhes trechos da arquitetura colonial. Em paralelo, torna-se grande estudioso do assunto. Em 1921, percorre o norte do país, Bahia e Pernambuco. Seu interesse pela paisagem nacional desperta o interesse de Monteiro Lobato (1882 - 1948), que escreve sobre suas obras no jornal O Estado de S. Paulo e o convida a ilustrar a recém-lançada Revista do Brasil. Em 1918, cria a capa do livro Urupês, de Monteiro Lobato, a primeira das muitas que realizou.
Rodrigues faz retratos de personagens históricos como, por exemplo, o de João Ramalho e Martim Afonso de Souza e pinta diversas vistas da cidade de São Paulo, com base em desenhos e aquarelas realizados por viajantes que aqui estiveram no século XIX, principalmente por Hercule Florence (1804 - 1879). Os quadros foram encomendados, nas primeiras décadas do século XX, pelo diretor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP, Affonso de Escragnolle Taunay, integram o acervo dessa instituição e ajudam a construir o imaginário do bandeirante paulista.
Ele trabalha também com pintura sobre azulejos, destacando-se as obras que faz para o obelisco do largo da Memória, em São Paulo, e para os monumentos existentes no Caminho do Mar, estrada tradicional entre Santos e São Paulo.
Wasth Rodrigues cria muitos ex-libris e brasões, como por exemplo o da cidade de São Paulo, em 1917, com Guilherme de Almeida (1890 - 1969), e também o do Estado, em 1932. Destaca-se ainda por seu trabalho como historiador, deixando várias publicações voltadas à documentação arquitetônica da construção civil e religiosa e obras sobre mobiliário antigo, indumentária, insígnias e armas militares.
Críticas
"Pesquisador, para a revista do DPHAN escreveu sobre "Móveis Antigos de Minas Gerais", e "A Casa de Moradia no Brasil Antigo". Publicou também documentários sobre a antiga construção civil, fardas do Reino Unido e do Império, trajes civis e militares em Pernambuco durante o domínio holandês, tropas paulistas de outrora; desenhou e aquarelou os uniformes do exército brasileiro para o livro de Gustavo Barroso, e também ilustrou o livro Brasões e Bandeiras do Brasil, de Clóvis Ribeiro. Deixou centenas de brasões e ex-libris. Conhecia profundamente o estilo D. João V, D. José e D. Maria,entalhados tanto no Brasil como em Portugal. Dedicou-se também a ilustrar revistas e iluminuras. Junto com Guilherme de Almeida, fez o brasão da cidade de São Paulo.
Mesmo pintor, J. W. Rodrigues nunca deixou de ser um historiador, o que influenciou enormemente sua obra, inúmeros são os trabalhos que deixou a lápis, bico de pena, aquarela e óleo sobre o Brasil colonial.
Considerado especializado em interpretar ambientes coloniais, fez paisagens de São Paulo, segundo velhas estampas espanholas e uma dezena de ruas do séc. XIX. Pintou damas paulistas de 1808 a partir de estampas de John Mawe e Rugendas, soldados da legião Paulista da Cisplatina e um gaúcho, casas coloniais de Santos, segundo desenhos de Florence. Todos estes quadros se encontram hoje no Museu Paulista".
Ruth Sprung Tarasantchi
TARASANTCHI, Ruth Sprung. Pintores paisagistas em São Paulo (1890-1920). 1986. 303 p. Doutorado - , São Paulo, 1986.p. 445-446.
"Não vi nos jornais do Rio notícia do falecimento de José Wasth Rodrigues, ocorrido na noite de 21 de abril, nesta mesma cidade. Isso dá idéia do que foi esse homem ilustre e discreto, que podia muito bem reivindicar para si o título de um dos maiores historiadores brasileiros não pela palavra escrita, mas pela imagem. Todo o imenso trabalho de Wasth Rodrigues, muito estimado pelo estudiosos, é quase desconhecido do público. Ele nada fez por tornar-se notícia. Sua sombra me desculpará se agora o converto em crônica.
Wasth Rodrigues era pintor, com prêmio de viagem, à Europa, mas o Brasil antigo o preocupava mais que a realidade de hoje. Então saiu pelo Brasil de agora a pesquisar o antigo e praticamente não há casa, igreja e ponte coloniais que ele não houvesse fixado em desenho ou aquarela, a título documental. Antes de expandir-se o gosto pela documentação fotográfica, já o seu lápis tomava apontamentos fiéis de coisas que não mais existem foram desfiguradas, e esses croquis serviriam ao inventário de nossas riquezas artísticas como elementos preciosos de informação. A muitos anos de passagem por um objeto digno de contemplação histórica, a memória de Wasth era capaz de reconstituí-lo num desenho seguro, feito à canhota.
Mas não era só um fixador de formas antigas, no papel ou na tela. Das três coisas entendia como gente grande, e não sei se alguém ganharia dele na perspicácia em identificá-las: o móvel, a indumentária e a arma. O conhecimento do mobiliário antigo, de velhos uniformes e de velhas espadas e clavinotes armazenava-se ordenadamente em sua cabeça, tornando-o enciclopédia viva e, o que é mais admirável, sem traço de presunção. Wasth não ostentava ciência possuía-a simplesmente. Ninguém o via deitando doutrina em rodas de artistas, críticos ou pesquisadores; consultado, informava e calava-se, comum silêncio astuto de caipira - esse caipira civilizado, que perdurava ainda na sua voz, como dizem que distinguia também a de seu coestaduano Almeida Júnior. Diante de, falastrões, olhava, no máximo sorria de leve, não contraditava. Rodrigo M. F. de Andrade observou que ele não tinha o menor empenho em fazer prevalecer o seu ponto de vista.
(...)
Em Paris, na mocidade, foi companheiro de quarto - e de pobreza - do pintor Modigliani, que lhe fez o retrato e lhe deu inúmeros quadros, infelizmente perdidos. Wasth estava longe de prefigurar o renome mundial do amigo, de quem louvava a grande bondade. Por sua vez, morre pobre, como é tradição entre artista e estudiosos brasileiros. Colaborador silencioso da D.P.H.A.N., doador de livros e desenhos de sua autoria ao acervo da repartição, o bom Wasth Rodrigues foi em tudo um brasileiro exemplar, pela dignidade, pelo profundo saber, pela encantadora modéstia".
Carlos Drummond de Andrade
[Texto originalmente publicado em 1957]
ANDRADE, Carlos Drummond de. O bom Wasth Rodrigues. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 jan. 2001.
Exposições Individuais
1910 - São Paulo SP - Individual
1915 - São Paulo SP - Individual
1925 - São Paulo SP - Individual
1953 - São Paulo SP - Individual
Exposições Coletivas
1912 - São Paulo SP - Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, no Liceu de Artes e Ofícios
1914 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa
1914 - Paris (França) - Salon des Artistes Français - Societé des Artistes Français
1915 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de bronze
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de prata
1916 - São Paulo SP - Coletiva, no Palacete Prates
1922 - São Paulo SP - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, no Palácio das Indústrias
1928 - Rio de Janeiro RJ - 35ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1928 - São Paulo SP - Grupo Almeida Júnior, no Palácio das Arcadas
1929 - Rosário (Argentina) - 11º Salão de Rosário
1933 - São Paulo SP - 1ª Exposição de Arte Moderna da SPAM, no Palacete Campinas
1933 - São Paulo SP - Salão Paulista de Belas Artes - pequena medalha de ouro
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto - 1º prêmio em pintura
1935 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Belas Artes
1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1953 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria de Arte de Barros
1956 - São Paulo SP - 50 Anos de Paisagem Brasileira, no MAM/SP
Exposições Póstumas
1958 - São Paulo SP - Retrospectiva de suas obras, na ACM
1963 - São Paulo SP - Mostra de Aquarelas e Desenhos, na Galeria de Arte São Paulo
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970, na Pinacoteca do Estado
1975 - São Paulo SP - SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1978 - São Paulo SP - A Paisagem na Coleção da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado
1981 - São Paulo SP - Destaque do Mês, na Pinacoteca do Estado
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1997 - São Paulo SP - São Paulo Antiga, no Arquivo Histórico Municipal
1998 - Rio de Janeiro RJ - Imagens Negociadas: retratos da elite brasileira, no CCBB
1998 - São Paulo SP - Iconografia Paulistana em Coleções Particulares, no Museu da Casa Brasileira
2000 - São Paulo SP - O Café, no Banco Real
2000 - Valência (Espanha) - De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio Gonzáles
2002 - São Paulo SP - Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - São Paulo Ano 450, no Conjunto Cultural da Caixa
Fonte: Itaú Cultural