Toledo Piza (Capivari SP 1887 - São Paulo SP 1945)
Pintor.
Forma-se em Direito, pela Sorbonne, por volta de 1909, em Paris, França. Em 1913, frequenta as aulas da Académie de la Grande Chaumière e recebe orientação de Lucien Simon (1861-1945) e René Ménard (1862-1930). Realiza exposições individuais na Galerie Carmine, na mesma cidade, em 1926 e 1929. Participa do Salão de Outono em 1921 e 1932; do Salão dos Independentes em 1925, e do Salon du Franc, em 1926. Transfere-se para São Paulo em 1933, quando integra a Família Artística Paulista - FAP, participando de sua segunda mostra desta em 1939. Nesse mesmo ano, um quadro seu é adquirido pelo governo francês. Expõe em individuais no Brasil. Apresenta trabalhos no Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, em São Paulo, em 1942 e 1944. Após sua morte, sua obra é mostrada em duas individuais: na sede paulistana do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB e no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1946 e 1972, respectivamente. Seus trabalhos figuram ainda em várias exposições coletivas organizadas pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Museu Lasar Segall e Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp), entre outros.
Comentário crítico
A absorção tardia do impressionismo e das obras de Cézanne por parte de Toledo Piza constitui ponto de concordância entre seus comentadores. Escreve o historiador Walter Zanini (1925-2013): "Desconhecendo o cubismo, ou a ele indiferente como aliás a outras correntes da vanguarda anterior à Primeira Guerra, ele assimilou tardiamente o impressionismo, superando-o com a influência de Cézanne"1. É possível constatar esse diálogo com a pintura impressionista em telas como Medas de Feno à Beira da Estrada (s.d.) e Paisagem Sob a Neve (s.d.). Apesar de sua presença em Paris no início do século XX, a pintura de Piza não faz referência aos movimentos de vanguarda do período - mesmo tendo deixado registrado seu conhecimento do cubismo em depoimento escrito por volta de 19342. Segundo a historiadora Aracy Amaral, deve-se ao retorno ao Brasil uma mudança no entendimento plástico do artista, que se afasta das soluções impressionistas. Na década de 1930, em São Paulo, o pintor trava contato com a Família Artística Paulista - FAP, expondo com seus membros em 1939. Há uma sintonia entre o tom modernista moderado da produção da Família e a obra um pouco conservadora de Piza. Da fase brasileira é Amparo II, c.1935, na qual se apresenta a bidimensionalidade do quadro - os elementos parecem empilhados em planos de pouquíssima profundidade. Há uma composição em blocos ou volumes maciços - que faz referência à pintura cézanniana - e, ao mesmo tempo, um tratamento bastante descritivo das casas. O céu é reduzido a um espaço mínimo da composição, que está quase toda preenchida por volumes que compõem uma espécie de morro. A comparação entre as obras da fase brasileira e da francesa do artista demonstra a transformação pela qual passa - segue sem usar planos perspectivos, porém não se interessa mais pelos efeitos da luz sobre a paisagem. A pincelada agora raramente mostra o gesto que a origina.
Notas
1 ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. Apresentação Walther Moreira Salles. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, Fundação Djalma Guimarães, 1983.
2 Esse depoimento do artista foi reproduzido no catálogo 50 pinturas de Domingos de Toledo Piza. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 1972.
Críticas
"Sua pintura foi sempre marcada pela preocupação com a forma plástica, pensada sem arestas e realizada através de cor e matéria. O seu jeito de realizar a forma, lembra o procedimento comum da mão da criança adensando uma bolinha de barro. Sua franca preocupação com a iconografia nos traz a imagem vivida. O pintor diante da umidade da terra parece-nos descalço, inclinando o corpo para frente para vencer a inclinação do barranco, pronto para ler nas nuvens, a conseqüência da chuva. Fala-nos do homem ocupando a paisagem, colocada com severidade diante da pequenez dos bois e das casas".
Antonio Hélio Cabral
TRÊS pioneiros do tempo dos salões: Domingos Toledo Piza, Renée Lefevre e Hugo Adami - década de trinta. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1980, p. 5.
"Desconhecendo o Cubismo, ou a ele indiferente como aliás a outras correntes da vanguarda anterior à Primeira Guerra, ele assimilou tardiamente o Impressionismo, superando-o com a influência de Cézanne. Ao voltar em 1933, colheu a paisagem brasileira com visadas pletóricas e românticas de planos determinados e cores frias tonalizadas".
Walter Zanini
ZANINI, Walter, org. História geral da arte no Brasil. Apresentação de Walther Moreira Salles. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, Fundação Djalma Guimarães, 1983.
"Domingos Viegas de Toledo Piza praticou a paisagem e a natureza-morta, sofrendo sucessivamente a influência dos impressionistas e, em começos da década de 20, a de Cézanne. (...) viveu seus últimos anos isolado, mal compreendido e pouquíssimo conhecido, para só nos últimos tempos vir passando por gradativo processo de reavaliação crítica. Suas paisagens, naturezas-mortas e cenas urbanas garantem-lhe lugar de destaque na história da pintura brasileira, de vez que embora tenha produzido relativamente pouco, tudo quanto pintou situa-se em elevado nível de qualidade".
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
Exposições Individuais
1915 - São Paulo SP - Toledo Piza
1922 - São Paulo SP - Toledo Piza, na Casa Sotero
1926 - Paris (França) - Toledo Piza, na Galerie Carmine
1929 - Paris (França) - Toledo Piza, na Galerie Carmine
1945 - Rio de Janeiro RJ - Toledo Piza, no Mnba
Exposições Coletivas
1921 - Paris (França) - Salão de Outono
1925 - Paris (França) - Salon des Indépendants
1926 - Paris (França) - Salon du Franc
1932 - Paris (França) - Salão de Outono
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes
1939 - São Paulo SP - 2º Salão da Família Artística Paulista, no Salão Eldorado, localizado no subsolo do Automóvel Clube.
1941 - Rio de Janeiro RJ - 47º Salão Nacional de Belas Artes, no Mnba
1942 - São Paulo SP - 7º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
1944 - São Paulo SP - 9º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
Exposições Póstumas
1946 - São Paulo SP - Toledo Piza, no Instituto de Arquitetos do Brasil
1956 - São Paulo SP - 50 Anos da Paisagem Brasileira, no MAM/SP
1972 - São Paulo SP - Toledo Piza, no Masp
1972 - São Paulo SP - A Semana de 22: antecedentes e consequências, Masp
1975 - São Paulo SP - O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1976 - Campinas SP - Aspectos do Modernismo no Brasil, no Galeria de Arte do Centro de Convivência Cultural da Secretaria Municipal de Cultura
1978 - São Paulo SP - A Paisagem na Coleção da Pinacoteca, na Pinacoteca do Estado
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1980 - São Paulo SP - Três Pioneiros do Tempo dos Salões: Domingos Toledo Piza, Renée Lefevre e Hugo Adami, no Museu Lasar Segall
1982 - São Paulo SP - Do Modernismo à Bienal, MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995-2003, no MAB/Faap
Fonte: Itaú Cultural