Teresa Nazar
Teresa Nazar compreende a configuração estética e social dos anos 1960: um tempo dinâmico, marcado pelo avanço da tecnologia que revoluciona o cotidiano e une sentimentos que interferem no processo criativo dos artistas, transcendendo o particular para se projetar no universal. Argentina radicada no Brasil, a artista é assim definida por João Spinelli, curador que assina a exposição Teresa Nazar - Liberdade e Ousadia nos Anos 60, realizada pela Galeria Berenice Arvani entre 27 de março e 10 de maio. Primeira individual de Teresa de caráter comercial realizada nas últimas décadas, a mostra apresenta ao público um conjunto de 16 obras, a maioria delas pinturas às quais se somam uma série de materiais não-convencionais: placas de metal dobradas, recortadas e arqueadas, tecidos, gesso, resina, parafusos e plásticos. "Objetos subtraídos do cotidiano, industrializados, são apropriados como matéria de ressignificação poética. Destituídos de seu destino original, desprovidos de qualquer tipo de glamour, ganham uma nova potência quando migram para a arte. Denunciam o estado efêmero da vida, ressignificam valores", afirma Spinelli. Os trabalhos chamam atenção pela riqueza de texturas. Pintora e desenhista exímia, Teresa adota pouco a pouco elementos que dinamizam sua obra, inicialmente de caráter expressionista. Em seus quadros, nota-se a incorporação de uma nova figuração, de influência do pop. Perfeitamente integrados à composição, os elementos utilizados adquirem certa autonomia, de aparência inesperada, incomum. Perceptíveis, as emendas ressaltam não apenas a precariedade desses materiais, mas da própria humanidade. "Há muito tempo - por necessidade e obrigação - acabei com a pintura de cavalete. Creio nos materiais que procuro e utilizo, porque através deles chego a concretizar um pedaço do tempo no qual existi", comentou a artista em setembro de 1966, em entrevista ao Jornal do Brasil. Não por acaso, muito críticos inserem a produção visual de Teresa Nazar como pertencente ao movimento da Pop Art. Para a artista, entretanto, o rótulo não lhe cabia. "Minha arte é bem distinta daquilo que os pop-art americanos mostram em suas obras, pois, sendo o artista o termômetro de sua época, ele retratará os símbolos do mundo que o rodeia dentro de seus limites geográficos", afirmou na mesma ocasião. "Mais do que Pop, Teresa foi uma artista Camp", afirma Spinelli, referindo-se à estética comumente ligada ao exagero, em uma crítica direta ao consumismo excessivo típico da classe média. "Ao mesmo tempo, não podemos negar que muito de seus trabalhos tangenciam conceitualmente o Pop: Teresa sintonizava essa transformação da arte ao incorporar os elementos da cultura popular em suas obras", completa o curador, definindo a produção da artista como uma espécie de "pop dos trópicos". Enquanto os americanos voltavam-se ao registro de celebridades e produtos de uma sociedade marcada pelo consumo desenfreado, Teresa retratava cenas comuns do dia a dia, como em O Ônibus, (1975), quando traz uma série de passageiros sentados lado a lado, e na obra sem título da série Mulheres (início da década de 1970), com um trio de mulheres em uma cena que nos remete a um samba ou um baile de carnaval. Já na série Astronautas (1966), a artista deixa o cotidiano mais próximo para trazer à tona um tema que se discutia nas TVs e jornais da época, a corrida espacial. Além das pinturas, a exposição traz uma peça icônica, também da série Mulheres: Objeto (década de 1960), integrou a exposição Coletiva Oito Artistas | Apeningue - brincadeira com o termo happening, do inglês -, realizada pela galeria paulistana Atrium, em 1966.