Telles Júnior (Recife 1851 - idem 1914)
Pintor.
Aos 16 anos, Jerônimo José Telles Júnior muda-se com a família para o Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Em 1869, em Porto Alegre, tem aulas de pintura com De Martino (1838 - 1912). Na capital gaúcha, trabalha como caixeiro de leilões. Em 1870, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde, seguindo os passos profissionais do pai, que era comandante de navios, ingressa como aprendiz no Arsenal da Marinha. Toma aulas de desenho na oficina da limagem e freqüenta o Liceu de Artes e Ofícios. Após um curto período de tempo, decide regressar a Pernambuco. No Recife, divide-se entre a pintura e o comércio, trabalhando como guarda-livros. Estuda fotografia com Joaquim José de Oliveira. Por volta de 1880, passa a se dedicar ao magistério, lecionando pintura e desenho na Sociedade dos Artistas, Mecânicos e Liberais e no Liceu de Artes e Ofícios, do qual torna-se sócio e, em 1890, diretor. Pelo liceu, organiza diversas exposições artísticas e industriais entre 1881 e 1888. Paralelamente, segue uma carreira política, com uma atuação voltada para a melhoria das condições de trabalho da classe operaria, elegendo-se membro do Conselho Municipal e, em 1891, deputado estadual. Em 1891 participa da Exposição Internacional de Chicago, nos Estados Unidos. Já artista maduro e reconhecido, começa a participar das Exposições Gerais de Belas-Artes no Rio de Janeiro a partir do final da década de 1890, tendo sido contemplado com menção honrosa e medalha de ouro.
Comentário Crítico
Pintor paisagista, dedica-se especialmente a retratar a natureza da região nordeste do Brasil. Consta que, por volta de 1868, em Porto Alegre, foi ajudante do pintor italiano De Martino (1838-1912) e, aluno de Agostinho da Motta (1824-1878) no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.
Segundo o historiador Teixeira Leite, o que Telles Junior menciona em suas memórias é que, em seu período de formação, admira o paisagista Agostinho da Motta e tenta imitar seu estilo. Outro artista que o teria influenciado é Aurélio de Figueiredo (1854 - 1916), com quem Telles Júnior trava contato em Recife, por ocasião de uma exposição de artes e indústrias realizada no Liceu.
Teixeira Leite elogia sua qualidade como paisagista e ressalta que ele não foi um pintor amador, mas um profissional.1 O crítico Walmir Ayala revela como a critica de seu tempo o considera um intérprete da paisagem nordestina, mencionando sua "matéria sólida, a técnica minuciosa, a atenção para detalhes mais rudes da paisagem interiorana".2
Em 1905, o escritor Oliveira Lima publica na imprensa um elogioso artigo sobre o artista, considerando-o pintor da mata pernambucana. A respeito de sua participação na Exposição Geral de Belas-Artes de 1906, Gonzaga-Duque faz reparos à obra apresentada: "Do paisagista pernambucano Telles Júnior, de quem se ocupou nesta revista, há um ano, o Sr. Oliveira Lima, encontramos um quadrinho que se nos afigura insuficiente para constatar o mérito que esse escritor lhe deu. O seu acabamento acusa maneirismo e, nos detalhes, vemos persistências que denotam dificuldades".3 Dois anos mais tarde, é premiado com medalha de ouro, mas, a partir de então, segue relativamente esquecido, produzindo no Recife.
Na década de 1920, é retomado por Gilberto Freyre, que quando criança teve aulas de desenho com o artista, que considera o pintor da paisagem tropical de Pernambuco. No Manifesto Regionalista, publicado em 1926, Gilberto Freyre menciona as pinturas de Telles Júnior, em que figuram altas palmeiras e coqueiros, e cita-o entre nomes como Joaquim Nabuco, Sílvio Romero, José de Alencar e Augusto dos Anjos como "grandes expressões nordestinas da cultura ou do espírito brasileiro".4
Em suas telas, como na obra Paisagem Pernambucana, de 1895, pertencente ao Museu Nacional de Belas-Artes, ressalta o aspecto rude da natureza, quase selvagem, a presença do matagal que domina a cena e em meio ao qual surgem estreitos caminhos de terra nos quais transitam pequenas figuras, quase imperceptíveis. O Museu do Estado de Pernambuco possui uma coleção de telas do artista, que também está representado no acervo do Museu de Arte Contemporânea do Ceará.
Notas
1 LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. p.501.
2 AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Curitiba: UFPR, 1997. p. 393.
3 Publicado em 1906 na revista Kosmos e disponível no site http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/saloes_gd.htm
4 FREYRE, Gilberto. Manifesto Regionalista. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 1996, 7ª edição.
Críticas
"A crítica da época qualificou-o como 'o melhor intérprete da paisagem nordestina' e sobre sua obra assim se manifestou: 'Sua obra é despretenciosa, direta. Sua arte guarda as marcas incisivas do ambiente pernambucano: sólidas paisagens, densas de matéria, sem nenhuma preocupação de efeitos. Trabalha em quadros pequenos, com técnica minuciosa, procurando seu tema nos campos. Suas paisagens não traduzem recantos pitorescos e poéticos, mas antes o que há de mais rude - o interior do Estado, as cercanias despovoadas dos vilarejos. Há, porém, harmonia geral em sua obra, e a pincelada, a princípio tímida, cede posteriormente lugar a uma bela fatura livre'".
Walmir Ayala
CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5).
Exposições Coletivas
1891 - Chicago (Estados Unidos) - Exposição Internacional de Chicago
1897 - Rio de Janeiro RJ - 4ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1906 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - menção honrosa
1908 - Rio de Janeiro RJ - 15ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - medalha de ouro
Exposições Póstumas
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1980 - São Paulo SP - A Paisagem Brasileira: 1650-1976, no Paço das Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986 - São Paulo SP - Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - São Paulo SP - A Cor em Pernambuco, na Ranulpho Galeria de Arte de São Paulo
1993 - São Paulo SP - 3º Studio Internacional de Tecnologias e Imagens, no Sesc e na Unesp
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
Fonte: Itaú Cultural