Sonya Grassmann (Burgas, Bulgária 1933 - São Paulo SP 1997)
Anne Marie Elisabeth Graesse. Gravadora e pintora.
Sonya Grassmann nasceu na Bulgária, filha de pai alemão e mãe húngara. O pai deixou-a ainda criança com a mãe e esta com a avó, que por sua vez enviou-a para ser educada num convento de freiras, em Viena. Depois desse período vienense Sonya voltou com a mãe, uma artista circense. Juntas, viajaram por vários países europeus. Durante a Segunda Grande Guerra, com a Áustria já anexada ao Reich, Anne Marie ajudava sua mãe na apresentação de espetáculos para os soldados alemães do front e seu temor era constantemente posto à prova, pois a mãe ajudava a organizar a fuga de judeus do território do Reich para a Europa livre. Em 1945, elas conheceram Antal Schober, um professor e incentivador da luta livre. A adolescente se interessou pelo esporte e, depois, Antal se casou com sua mãe. A jovem uniu-se ao grupo de mulheres lutadoras. Sonya, ao se recordar desse começo afirmou certa vez: “... no início foi tudo terrível — eu parecia um coelho, os olhos sempre vermelhos, a pele branca, pálida...”.
Sonya sempre desenhou e pintou. Enriqueceu sua sensibilidade natural, adquiriu a técnica necessária e aprendeu todo o possível na observação dos grandes mestres, vistas nos museus europeus.
Em 1948 veio para o Brasil e chegou a São Paulo com o grupo de mulheres lutadoras. Seguiu para Salvador, onde o grupo se desfez. Trabalhou na Galeria Oxumaré onde num dia de 1952 Mário Cravo apresentou-a Marcello Grassmann. Sonya voltou para São Paulo e ela e Marcello voltaram a se encontrar em 1954. Grassmann ia para a Europa, com Prêmio-Viagem do 1º Salão Nacional de Arte Moderna, e convidou-a para se juntar a ele. Ela e Grassmann foram primeiro à Itália. Depois foram para Viena. Sonya, de novo em contato com o mundo de sua cultura de origem e incentivada pela convivência com Marcello resolveu a partir daí ser uma pintora profissional.
Voltando para o Brasil, Sonya e Marcello fixaram-se em São Paulo e viveram nessa cidade toda a efervescência do período dos anos 1940-1960, culturalmente intensos. Distante da agitação, a paixão de Sonya pelos animais e pelas plantas preenchia a casa dos Grassmann em São Paulo, em Santo Amaro e, depois, no sítio de São Lourenço da Serra.
A partir dos anos 1980, Sonya e Marcello optaram por um silêncio amigável com a agitação cultural e, em conseqüência, com a exposição pública. Mais disponível para a pintura, foi a partir daí que alcançou uma clara evolução nos desenhos, no colorido e na técnica – com inúmeras veladuras. Era a busca pelo perfeccionismo. Suas obras demoravam muito até serem consideradas acabadas. Até 1997, ano em que morreu, produziu poucas obras. Seu silêncio gerou uma única pequena nota sobre sua morte num jornal paulistano, assinada por Olney Krüse. É sabido que tinha admiradores aficionados que aguardavam ansiosamente o término de um novo trabalho seu para poderem incorporá-lo às suas coleções.
Sempre preocupada com não vincular seu trabalho ao nome do marido, Sonya criou uma obra única e sensível e chamou a atenção da crítica, que destacou e elogiou seu desenho e sua temática, “langorosa, carnal, solar e renascentista” (Olívio Tavares de Araújo) e “vagamente medieval” (Jacob Klintowitz).
A pintura de Sonya Grassmann sempre uniu um desejo hierático medieval com o humanismo e a estética renascentistas. Havia muito do primitivismo do Leste Europeu em seus trabalhos. Sonya era dona de uma forte personalidade, de um gosto pela história e, como esteta, era requintada na qualidade e na forma como se cercava dos objetos de que gostava. Sonya Grassmann é uma artista ainda pouco divulgada, e isso lhe dá envergadura e seriedade, pois, na maior parte do tempo reservou-se em sua discrição e no gosto que sentia em fruir pequenos momentos de prazer intenso, para produzir uma obra instigante e apaixonada.
Críticas
"Existem artistas cuja produção, independem de sua vontade pessoal, desafia as verdades estabelecidas não por serem revolucionários ou inovadores. Às vezes, por parecerem distantes do processo histórico. Sonya Grassmann é uma dessas artistas. O seu trabalho é resultado de um imaginário no qual estão ausentes as referências da época, solicitações do século e, até mesmo, as preocupações típicas da sociedade de massa. O universo de Sonya é vagamente medieval. Estas imagens lembram uma Idade Média passada a limpo, vista de grandes sacadas de castelos idealizados. Tudo é particular, organizado e pesado de atmosfera cheia de intenções. Estas intenções podem ser românticas, mórbidas ou de expectantes. Alguma coisa está prestes a acontecer. Cada um percebe e recria a atmosfera que é mais afim".
Jacob Klintowitz
Jacob Klintowitz In: Sonya Grassmann. Brasília, Performance Galeria de Arte, 1987.
Exposições Individuais
1977 - Porto Alegre RS - Primeira individual, na Oficina de Arte
1982 - São Paulo SP - Individual, na Seta Galeria de Arte
1986 - São Paulo SP - Individual, na Seta Galeria de Arte
1987 - Brasília DF - Individual, na Performance Galeria de Arte
Exposições Coletivas
s.d. - São Paulo SP - Exposição dos Imigrantes, no Masp
1975 - Penápolis SP - 1º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1976 - Penápolis SP - 2º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1982 - Penápolis SP - 5º Salão de Artes Plásticas da Noroeste, na Fundação Educacional de Penápolis. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Penápolis
1987 - São Paulo SP - 20ª Exposição de Arte Contemporânea, na Chapel Art Show
1994 - São Paulo SP - Mostra coletiva, no Museu Banespa
1997 - São Paulo SP - Figuras e Bichos, no Espaço Cultural do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
Exposições Póstumas
2000 - São Paulo SP - Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Brasília DF - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Penápolis SP - Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na A Galeria
Fonte: Itaú Cultural