Sheila Patrícia Brannigan (Chester, Inglaterra 1914 - Londres, Inglaterra 1994)
Pintora e desenhista.
Muda-se para a Suíça, e inicia suas atividades como pintora em 1955. No ano seguinte, viaja para Paris, estuda na Académie de la Grande Chaumière e freqüenta os ateliês de André Lhote (1985 - 1962) e de Henri Goetz (1909 - 1989). Em 1957, viaja para o Brasil e fixa residência em São Paulo, onde permanece cerca de dez anos. Nesse período, entra em contato com os críticos Mario Schenberg (1914 - 1990) e Theon Spanudis (1915 - 1986). É contemplada com o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, promovido pela Galeria de Artes das Folhas em 1960. Participa da 5ª, 6ª, 7ª, 8ª, 18ª e 20ª Bienal Internacional de São Paulo, e recebe prêmio aquisição na 6ª edição dessa mostra, em 1961. No mesmo ano, integra a 6ª Bienal de Tóquio. Seu nome figura entre os precursores do movimento abstracionista no Brasil. Volta à Inglaterra no fim da década de 1960 e lá permanece até sua morte.
Comentário Crítico
Sheila Brannigan, com Antonio Bandeira (1922 - 1967) e Cicero Dias (1907 - 2003), está entre os responsáveis pela introdução da arte abstrata no Brasil. Inglesa, formada na Academia de Artes da Suíça, Brannigan chega a São Paulo em 1957, num momento em que predominam exposições e mostras de artistas concretos, cujo movimento ganha igual destaque nas bienais realizadas até então. O abstracionismo, com muitas correntes de influência européia, agrega artistas que não se interessam mais pelas ações coletivas do concretismo. Livres dos manifestos, os abstracionistas não seguem linhas gerais predeterminadas, produzindo uma arte mais plural. O abstracionismo praticado por Brannigan é chamado de informal ou lírico, em oposição ao abstracionismo geométrico. Sua obra, ou pelo menos boa parte da produção realizada no Brasil, é caracterizada pelo contraste entre a tinta que espalha sobre a tela quase como se fossem manchas, e os traços finos e precisos que ora parecem delimitar as manchas, ora entram na construção de novas formas, que se combinam às cores do quadro, complementando-as.
É o caso da obra Sem Título, 1964, em que ela preenche parte da tela com ocre e, ao redor dessa cor, sugere os limites da forma pelo uso dos traços finos. E o quadro não sugere apenas uma forma, mas várias. Mesmo vindo de uma abstracionista razoavelmente ortodoxa, é difícil não enxergar, nessa e em outras obras, animais, paisagens e até formas humanas. A tudo isso ela incorpora o uso hábil do branco, que pressiona a cor, as linhas e tensiona a forma final. Na obra O Bizantino, 1960, praticamente não há branco, e predominam o preto e o vermelho. Sem a definição das linhas, as formas tornam-se difusas e interagem entre si, num emaranhado de cores. Nas áreas onde aparece separado, o vermelho é vibrante, mas, quando avança sobre o preto, some gradualmente. O uso do preto nesse caso tem função oposta à do branco no quadro anterior. Se em uma das obras o branco ajuda apenas a sugerir a forma, na outra o preto ganha forma justamente pela delimitação imposta pelo vermelho. Sheila Brannigan trabalha com outro tipo de contraste entre cor e forma na obra Pintura I, 1962.
Dentro de um estilo às vezes considerado pela crítica da época como passageiro - de fato, muitos pintores aderem temporariamente ao abstracionismo e depois abandonam o movimento - Sheila Brannigan permanece, ao menos no período em que reside no Brasil, no abstracionismo informal, sem incorporar, como outros artistas, influências de movimentos como o expressionismo abstrato norte-americano. Sua pintura tem importância especial porque ajuda a estimular um movimento que, seja pela adesão momentânea de grandes artistas, seja por aqueles que nele ficam e, não raro, levam seus conceitos a extremos, influencia as artes plásticas brasileiras.
Críticas
"A pintura de Sheila Brannigan está intimamente ligada ao seu desenho. Em ambos os casos trata-se da mesma manifestação plástica em ambientes diferentes. Por isto achamos certo examinar o seu desenho com atenção para poder então entender melhor o espírito da sua pintura. A característica principal dos seus desenhos desde as suas primeiras tentativas neste campo são os traços decisivos e finos, quase como que cortes na madeira, feitos por instrumentos metálicos muito agudos. Estes traços não são caligráficos e nem tendem a transformar-se em signos ou símbolos. Eles apenas criam e abraçam volumes vivos e vazios vivos. A alternativa de volumes vazios inspirados sempre nos corpos do real com seus movimentos e desenrolamentos, seus ritmos e gestos, eis a característica principal do desenho e da pintura de Sheila Brannigan. É antes do mais uma pintura temperamental, com todas as alegrias e as torturas do vivo. Ultimamente, sua pintura aproximou-se tanto de seu desenho, que despojou-se quase por completo de um uso mais rico e complicado do colorido. Em seus últimos trabalhos encontraremos somente o uso do preto, branco e ocre".
Theon Spanudis
CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso.Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5).
Exposições Individuais
1961 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
1962 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Ambiente
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Seta
1965 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia
1967 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia
Exposições Coletivas
1959 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Arte Moderna
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas - 1º prêmio em pintura
1960 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1960 - São Paulo SP - Contribuição da Mulher às Artes Plásticas no País, no MAM/SP
1961 - São Paulo SP - 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho - Prêmio Probel de Aquisição
1961 - Tóquio (Japão) - 6ª Bienal de Tóquio
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf, no MAM/SP
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - São Paulo SP - Três Premissas, no MAB/Faap
1980 - São Paulo SP - Mestres do Abstracionismo Lírico no Brasil, na Galeria Eugenie Villien
1983 - Rio de Janeiro RJ - 6º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - As Bienais no Acervo do MAC: 1951 a 1985, no MAC/USP
1988 - São Paulo SP - MAC 25 anos: destaques da coleção inicial, no MAC/USP
1989 - São Paulo SP - 20ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1992 - São Paulo SP - Formação do Olhar Modernista, no MAC/USP
Exposições Póstumas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 Anos de História no Acervo do MAC/USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC/USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 Anos de História no Acervo do MAC/USP, no MAC/USP
2003 - São Paulo SP - MAC/USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2004 - São Paulo SP - Gesto e Expressão: o abstracionismo informal nas coleções JP Morgan Chase e MAM, no MAM/SP
Fonte: Itaú Cultural