Sebastião Theodoro Paulino da Silva (Oscar Bressane SP 1923 - Assis SP 2003)
Pintor e desenhista.
Filho de agricultores, Ranchincho mudou-se com a família para Assis, São Paulo, após a morte do pai em 1925. Analfabeto e apresentando desvios comportamentais, somente aos 24 anos consegue o primeiro trabalho, auxiliando na produção de garapa. Com a morte do seu patrão e protetor, João Romero, conhecido como João Garapeiro, passa a sobreviver como catador de papéis, latas e garrafas, morando em ranchos abandonados, o que lhe vale o apelido de Ranchinho. É incentivado pelo escritor José Nazareno Mimessi (1925-1991), fundador do Museu de Arte Primitiva de Assis, a aprender técnicas de guache e acrílica sobre aglomerado de madeira.
Realiza várias individuais, entre 1974 e 1976, no Clube Recreativo de Assis; em 1975, no Centro de Artes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, e em 1981, no SESC Bauru, São Paulo. Em 1982, expõe ainda na galeria Brasiliana, e, em 1988, na Galeria de Arte Paulo Vasconcelos, em São Paulo. Participa da 12ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1973, e da Bienal Nacional 76, também em São Paulo.
É premiado na 1ª Exposição de Artes Plásticas de Assis, em 1971; no 1º Salão de Artes Plásticas de Assis, em 1980; na Mostra Nacional de Arte Ingênua e Primitiva, na Galeria de Arte SESC de Piracicaba, em 1987; e na 4ª Bienal Naïfs do Brasil, no SESC Piracicaba, São Paulo, em 1998, participando ainda das edições de 1994, 2000 e 2002 da mesma mostra.
Em 1978, torna-se personagem principal de um filme super-8 realizado por Antônio Carlos L. Belotto. Na Cidade do México, participa das exposições Pintores Populares y 3 Grabadores de Brasil, no Instituto Nacional de Belas Artes, e Pintura Primitiva de Brasil, no Museu Carrillo Gil, ambas em 1980.
Apresenta telas na mostra Gente da Terra e na exposição 10 anos de Paço das Artes em 1980 e 1981, respectivamente, no Paço das Artes, em São Paulo. Na mesma cidade, integra as mostras Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado, em 1988; Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, em 2000; e Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, em 2002. Apresenta trabalhos em várias mostras de arte ingênua no interior do estado de São Paulo, entre 1978 e 1994.
Comentário Crítico
A bibliografia sobre o pintor Ranchinho enfatiza com frequência o autodidatismo do artista, bem como sua dificuldade desde a infância com o ensino formal e seu desconhecimento de obras de arte eruditas, aproximando-o da produção dita naïf ou popular.
Entretanto, o conjunto de sua obra demonstra se tratar de um pintor que dialoga com a tradição à sua maneira, atualizando sua fatura, utilizando a perspectiva e buscando referências fora de sua realidade cotidiana.
É interessante observar ainda a inserção do próprio Ranchinho como personagem nas suas composições. Ele aparece, às vezes, como passageiro, como ator, projetado na tela do cinema, ou como espectador de um filme do comediante Amácio Mazzaropi (1912 - 1981) - ator que imortaliza a figura do jeca. Dessa forma, o pintor demonstra interesse pela identidade do caipira, indicando inclusive compreender a sua dimensão como representação - na tela da pintura ou do cinema.
A temática de Ranchinho aponta tanto para o mundo rural do interior paulista, como para as cenas urbanas. São frequentes figuras de mulheres que lavam roupas na bica de água, recolhem o milho no paiol, socam café no pilão, fazem artesanato, alimentam os animais, costuram e cozinham. Entre os temas urbanos, estão cenas da Assis antiga, onde passa a maior parte de sua vida - a igreja, a prefeitura, o cinema, o museu -; da Assis e de outras cidades na atualidade - a televisão, o cinema, o avião, o trem, São Paulo, parques de diversão e o circo.
Ranchinho dedica várias pinturas a aspectos do circo. Em Sem Título, 1980, na qual retrata um palhaço que brinca com um adestrador de cavalos no picadeiro, ensaia um tratamento em perspectiva e a presença marcante do desenho sob a pincelada rápida, aplicada com agilidade e que foge à contenção da linha em diversos momentos.
Em seus trabalhos, são recorrentes gatos, galinhas, sapos, lagartos e cobras, muitas vezes agigantados. O uso de dimensões avantajadas para acentuar os protagonistas das cenas, faz pensar numa dimensão simbólica de proporções. O leão também aparece, porém nem sempre no ambiente circense; está, às vezes, ameaçando mulheres. Esse dado leva a crer que Ranchinho não se limita apenas à observação dos animais de seu convívio no campo, diferentemente de outros pintores populares, mas trabalha com imagens coletadas em revistas e jornais, nos quais provavelmente escolhe referências que extravasam a realidade de seu entorno.
No que concerne à técnica de sua pintura, a obra de Ranchinho costuma ser interpretada como uma espécie de "impressionismo expressionista". Apesar de não haver qualquer ligação entre o pintor e esses movimentos artísticos, a associação serve como forma de descrever a configuração formal dos trabalhos. Em A Chuva (s.d.), por exemplo, a paisagem - figuras humanas, cerca, árvores - parece diluir-se por meio das pinceladas evidentes, curtas, soltas e justapostas. Apenas uma das paredes da casa central da composição permanece intacta: uma forma definida que se destaca pelo tipo distinto de fatura.
Ranchinho faz uso variado dos expedientes pictóricos: alguns trabalhos sugerem alguma profundidade, outras composições são planas; as cores utilizadas nem sempre correspondem à realidade. Segundo comentadores, não costumava fazer retoques e o trabalho final é produzido rapidamente, apesar de o pintor realizar tanto esboços como estudos de cor previamente.
Críticas
"Sebastião teve seu primeiro trabalho somente aos vinte e tantos anos. Era ele quem girava a manivela e fazia funcionar a máquina com a qual o Seu João Romeiro, também conhecido como João Garapeiro, ganhava a vida. Com a morte do irmão mais velho e da mãe, em 1948, o rapaz se vê inteiramente só. Seu João Garapeiro bota-o para morar com a família e lhe confia novas funções. (...) Até 1954 Sebastião viveu assim. Os meninos de Seu João Garapeiro o abasteciam de cadernos velhos e tocos de lápis e desde essa época ele não parou mais de desenhar. Desenha as coisas que vê, 'conta estórias' no papel, se comunica com o lápis. (...) em 1970, ao incendiar-se o rancho que habitava, seu irmão Antonio levou-o para morar consigo, em definitivo. Foi nesse período que o escritor José Nazareno Mimessi se apaixonou por pintura primitiva e, evoluindo na compreensão do assunto, percebeu que Ranchinho era um impressionante fenômeno artístico. Com um trabalho paciente, Nazareno introduziu-o nas técnicas de guache, acompanhou e incentivou sua carreira. (...)"
Roberto Rugiero
RANCHINHO. Apresentação de R. Rugiero. São Paulo: Galeria de Arte Paulo Vasconcelos, s.d.
Exposições Individuais
1974 - Assis SP - Primeira individual, no Clube Recreativo de Assis
1975 - Assis SP - Individual, no Clube Recreativo de Assis
1975 - Assis SP - Individual, no Centro de Artes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis
1976 - Assis SP - Individual, no Clube Recreativo de Assis
1979 - Assis SP - Individual, na Concha Acústica de Assis
1981 - Bauru SP - Individual, no Sesc
1981 - Presidente Prudente SP - Individual, no Palácio da Cultura
1982 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1985 - São Paulo SP - Individual na Assembléia Legislativa
1988 - São Paulo SP - Individual, na Galeria de Arte Paulo Vasconcello
1990 - Assis SP - Individual, na Casa dos Médicos de Assis/APM
1990 - Assis SP - Individual, no Centro Cultural Dona Pimpa
1995 - Assis SP - Individual, no Espaço Cultural da CEF
Exposições Coletivas
1971 - Assis SP - 1ª Exposição de Artes Plásticas de Assis - menção honrosa
1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal
1978 - São Paulo SP - 2ª Semana do Folclore, na Câmara Municipal
1979 - Osasco SP - 1º Encontro de Arte
1980 - Assis SP - 1º Salão de Artes Plásticas de Assis - 2º prêmio
1980 - Cidade do México (México) Artista Participante - Pintores Populares y 3 Grabadores de Brasil, no Instituto Nacional de Bellas Artes
1980 - México - Pintura Primitiva de Brasil, no Museu Carrillo Gil
1980 - São Paulo SP - Mostra Gente da Terra, no Paço das Artes
1981 - Curitiba PR - 40 Pintores Primitivos, no Museu Guido Viaro
1981 - Presidente Prudente SP - 4º Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente, na Pinacoteca do Palácio da Cultura Dr. Pedro Furquim
1981 - Rio de Janeiro RJ - Seis Artistas Populares, na Galeria César Aché
1981 - São Paulo SP - 10 anos de Paço das Artes, no Paço das Artes
1982 - Bauru SP - Primeira Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte do Sesc
1982 - Penápolis SP - Festa Junina, no Museu do Sol
1982 - São Paulo SP - O Desenho na Linguagem Primitiva, no Paço das Artes
1982 - São Paulo SP - O Trabalho na Pintura Popular, no Museu da Casa Brasileira
1983 - São Paulo SP - O Trabalho, no Museu da Casa Brasileira
1985 - Presidente Prudente SP - 7º Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente, na Pinacoteca do Palácio da Cultura Dr. Pedro Furquim
1986 - Presidente Prudente SP - 1ª Bienal Artoest de Artes Plásticas de Presidente Prudente, na Pinacoteca do Palácio da Cultura Dr. Pedro Furquim
1987 - Campinas SP - Arte Brasil 87: 1º Festival de Arte Naif brasileiro, no Centro de Convivência Cultural de Campinas
1987 - Piracicaba SP - Mostra Nacional de Arte Ingênua e Primitiva, na Galeria de Arte Sesc - menção honrosa
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1989 - Campinas SP - Arte Brasil 89: 2º Festival de Arte Naif brasileiro, no Centro de Convivência Cultural de Campinas
1989 - Penápolis SP - Coletiva, na Fundação de Artes de Penápolis
1989 - Penápolis SP - Coletiva, no Museu do Sol
1990 - Marília SP - Acervo, pintura, na Galeria Permanente Cultura Marília
1992 - São Paulo SP - Coletiva, Comemorativa da Galeria Atração
1994 - Piracicaba SP - Bienal Brasileira de Arte Naif, no Sesc
1997 - Assis SP - Coletiva, na Cesar Abreu Arquitetura
1998 - Piracicaba SP - 4ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc - prêmio aquisição
2000 - Piracicaba SP - 5ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc
2000 - São Paulo SP - Almeida Junior: um artista revisitado, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Arte Popular Brasileira, na Galeria Brasiliana
2001 - Brasília DF - Forma-e-Cor como Luz nos Naïfs, na Galeria Itaú Cultural
2001 - Penápolis SP Forma-e-Cor como Luz nos Naïfs, na Galeria Itaú Cutural
2001 - São Paulo SP - Cultura Brasileira 1, na Casa das Rosas
2002 - Piracicaba SP - 6ª Bienal Naifs do Brasil, no Sesc
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
Exposições Póstumas
2004 - São Paulo SP - Forma, Cor e Expressão: uma coleção de arte brasileira, na Estação São Paulo
Fonte: Itaú Cultural