Raquel Kogan (São Paulo SP 1955)
Artista multimídia, gravadora, pintora.
Raquel Tasny Kogan forma-se arquiteta na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, em 1978. Inicia seu trabalho artístico com pintura e gravura. Em 1996, realiza sua primeira individual, 20x20x240, na Mônica Filgueiras Galeria, São Paulo, apresentando 240 peças de madeira de 20 x 20 cm, com as quais cria uma espécie de livro aberto em que figuram grafismos e números, tema constante em seu trabalho. Expõe pinturas e gravuras em coletivas de diversos países. Em 1999, monta sua primeira instalação, um objeto que é gradualmente formado por parafina durante a exposição, na Capela do Morumbi, em São Paulo. Em 2002, Raquel Kogan é premiada pelo Rumos Transmídia Itaú Cultural e começa a se consagrar como artista multimídia. No ano seguinte, executa a instalação #Reflexão1 que tem como desdobramentos #Reflexão2 (2005) e #Reflexão3 (2006), e é apresentada no Itaú Cultural; na Ciber@rt 2004 do Festival de Novas Tecnologias+Arte e Comunicação de Bilbao, na Espanha; e no Zentrum für Kunst und Medientechnologie (ZKM), Karlsruhe, Alemanha. Raquel direciona sua pesquisa artística para a interação, utilizando-se de recursos multimídia. Cria a instalação on-line sidespecific (2006), a videoinstalação Mov_ving (2007) e 5'22", uma ilustração sonora da peça musical 4'33" do compositor norte-americano John Cage (1912), apresentada na 7ª Bienal do Mercosul, em 2009.
Comentário Crítico
Raquel Kogan tem uma relação estreita com a escrita e outros códigos linguísticos. Tanto em suas pinturas e gravuras quanto em suas instalações e projetos multimídia utiliza códigos alfanuméricos que se arranjam em formações pictóricas. Essas formas, ao mesmo tempo em que ecoam a cultura judaica - viva graças à escrita -, possibilitam, segundo o artista Antonio Malta Campos (1961)2, "várias leituras que se anulam e se reduzem ao essencial: o aspecto visual, quase táctil, do texto escrito". A curadora Stella Teixeira de Barros compara os trabalhos de Raquel Kogan com os caligramas dos "pré-textos" da artista Mira Schendel (1919 - 1988) - também de origem judaica -, mas defende que sua obra é resultante de um processo reflexivo autônomo3. Essa autonomia fica mais clara conforme essas grafias são incorporadas às instalações interativas. O trabalho de Raquel Kogan com a linguagem se completa ao estudar as dimensões e os limites da interação, pois assim se entende que o sentido existe somente na relação com o outro. Na obra #Reflexão o espectador sabe que participa da obra e transforma-se em seu próprio observador em uma fusão com o cenário, que o desorienta. Como analisa o curador Teixeira Coelho4, observadores estão sujeitos à intervenção dos demais e não controlam a situação, o que acaba por permitir a criação de uma sensibilidade geral que, pautada pelos reflexos, redefine os limites da identidade.
Notas
1 #Reflexão é uma instalação em que uma parede de números é gerada em computador e "refletida" num espelho d´água e interage, por meio de sensores, com o movimento do público na sala expositiva.
2 Texto escrito em julho de 1999. Disponível no site da artista: http://www.raquelkogan.com/rk_page_obra_002.php. Acesso em: 01/10/2010
3 Texto escrito em julho de 1999. Disponível no site da artista: http://www.raquelkogan.com/rk_page_obra_002.php. Acesso em: 01/10/2010
4 COELHO, Teixeira. Multitudo. In: COLEÇÃO ITAÚ CONTEMPORÂNEO. São Paulo: Itaú Cultural, 2006, p. 314.
Críticas
"Depois que o microscópio foi inventado, o homem passou meio século observando pequenas estruturas visíveis a olho nu que o novo aparelho magnificava: as antenas de um inseto, o ovo do bicho-da-seda ou os buracos da cortiça. Então, apareceu o holandês Antony Leewenhoek, dono de um armarinho, que decidiu olhar o invisível: espalhou nas lâminas de seu microscópio rudimentar gotas de sangue, pingos de chuva e o próprio sêmen. Descobriu um mundo povoado por uma miríade de seres minúsculos. A partir de Leewenhoek, invadimos os domínios de estruturas inacessíveis à precariedade da visão humana. Além de descobrir bactérias, vírus e fungos, levamos às lâminas dos de tecidos vivos. Nesse processo, o objeto é cortado seriadamente e colocado sobre lâminas transparentes para observação microscópica. Depois, a informação obtida em cada corte precisa ser organizada na tentativa de explicar o todo. Raquel Kogan esculpe imagens em suas lâminas dispostas em espaços ordenados. Curiosamente, muitas delas são números, signos primários decifráveis até por analfabetos. Como os microscopistas, diante das caixas de Raquel o observador secciona a realidade em inúmeros cortes transparentes, para tentar recompô-la em busca da unidade".
Drauzio Varela
KOGAN, Raquel. Raquel Kogan. Texto Drauzio Varella. São Paulo: Mônica Filgueiras Galeria de Arte, 2000. [4] p., il. color.
Exposições Individuais
1996 - São Paulo SP - Individual, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte
1997 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Coletânea Galeria de Arte
1998 - São Paulo SP - Individual, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte
1999 - São Paulo SP - Individual, no Espaço Cultural da Capela do Morumbi
2000 - São Paulo SP - Individual, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Concreto Paulista, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte
2004 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
Exposições Coletivas
1995 - Belgrado (Iugoslávia) - The World of Ex-Libris
1995 - Tóquio (Japão) - 1ª Trienal Internacional de Minigravura
1996 - Rio de Janeiro RJ - 20º Salão Carioca De Arte, no Parque Lage
1996 - São Paulo SP - Coletiva, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte
1997 - Fortaleza CE - Arte Brasileira Em Pequenos Formatos, na Fortaleza Design
1997 - Salvador BA - Coletiva, na Galeria Associação Cultural Brasil Estados Unidos
1998 - Buenos Aires (Argentina) - Coletiva, no Museu Palais de Glace
2000 - Belém PA - 6º Salão Unama de Pequenos Formatos, na Universidade da Amazônia. Galeria de Arte
2000 - Belém PA - Arte Pará 2000, no Museu de Arte do Belém - prêmio aquisição
2000 - São Paulo SP - Pratos Para Arte III, no Museu Lasar Segall
2001 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Centro Cultural UFMG
2001 - Evora (Portugal) - 3º Festival de Gravura Evora
2001 - Rio de Janeiro RJ - Desenho Expandido, no Centro Cultural Candido Mendes
2001 - Santo André SP - 1ª Bienal De Gravura de Santo André - mostra paralela
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas O Marchand como Curador, na Casas das Rosas
2002 - Belém PA - Coletiva, na Universidade da Amazônia. Galeria de Arte
2002 - Belo Horizonte MG - 2º Salão de Arte Uni-BH
2002 - Ouro Preto MG - 2º Salão de Arte Uni-BH
2002 - São Paulo SP - México Imaginário: o olhar do artista brasileiro, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2002 - São Paulo SP - Só Gravura, na Adriana Penteado Arte Contemporânea
2003 - Brasília DF - Vice-Versa: Eixo Brasília/Linha Imaginária, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2003 - Frankfurt (Alemanha) - Art Frankfurt 2003
2003 - Long Beach (Estados Unidos) - Palmo Quadrado, no Museu de Arte Latino-Americana
2003 - São Paulo SP - Ponto de Fuga, Área Livre, no Memorial da América Latina. Galeria Marta Traba
2003 - São Paulo SP - Transmídia, no Itaú Cultural
2004 - Bilbao (Espanha) - Ciber@rt Bilbao
2004 - Brasília DF - Fotoarte, no Espaço Caixa Cultural
2004 - Brasília DF - Fotoarte, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio
2004 - Salvador BA - 11º Salão da Bahia, no MAM/BA
2004 - São Paulo SP - Lord Palace Hotel, no Lord Palace Hotel
2005 - São Paulo SP - Ocupação, no Paço das Artes
2005 - São Paulo SP - Portraits, na Galeria Leme
Fonte: Itaú Cultural