Penna Prearo

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Biografia

Penna Prearo (Mailasky, distrito do município de São Roque SP 1949)

Fotógrafo.

Autodidata, Ariovaldo Carlos Prearo inicia a carreira profissional em 1972, registrando shows musicais e peças de teatro. Desde então, trabalha como autônomo nas áreas de fotografia editorial e de publicidade e se destaca na produção de capas de discos. Colabora com revistas como Placar, Show Bizz, Trip, Caras e Saúde, e com o jornal O Estado de S. Paulo. Entre 1990 e 1993, é responsável pelo estúdio fotográfico do jornal Folha de S. Paulo. Em paralelo, desenvolve ensaios em que agrega à fotografia características da pintura e do teatro, pois trabalha com situações encenadas cujos resultados são imagens borradas e de cores saturadas. Em 1978, expõe no 1º Colóquio Latino-Americano de Fotografia, no México e, no ano seguinte, na 1ª Trienal de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, entre outras mostras. Realiza a individual Olho por Olho, com nus femininos mascarados, ou com o rosto oculto, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP, em 1993. Em seguida, desenvolve a série São Todos Filhos de Deus, com fotos de grupos de pessoas portando o retrato de Jesus Cristo na face, como se fossem máscaras. Recebe o prêmio aquisição do J.P. Morgan de Fotografia, em 1999.

Comentário Crítico

No trabalho de Penna Prearo, a fotografia não é somente uma maneira de registrar a aparência das coisas e situações cotidianas, mas uma ferramenta para a criação de cenas fictícias que parodiam a realidade. Suas seqüências lembram fragmentos de narrativas não-lineares e remetem à cultura underground e, por vezes, suburbana da cidade de São Paulo.

O artista produz imagens encenadas em que é comum o mascaramento dos personagens. Confere um aspecto pictórico às fotografias trabalhando com cores saturadas e formas borradas, cujas manchas de luz parecem pinceladas gestuais. As figuras estão quase sempre solitárias e parecem alheias ao seu entorno, como na foto da mulher sentada no chão de um quarto vazio com a silhueta da cidade ao fundo, da série Olhos sobre Tela, 1991/1994.

Em São Todos Filhos de Deus, 1999, ele mostra grupos de pessoas portando o retrato de Jesus Cristo na frente do rosto, como se todos se escondessem por trás da mesma máscara ou crença. As fotos parecem feitas por um amador e registram circunstâncias a princípio triviais: uma família que se refresca numa banheira de plástico no quintal de casa e um time de futebol, por exemplo. No entanto, as imagens são comentários irônicos sobre a padronização de comportamentos, idéias e aspirações.

Críticas

"Eles respiram a cor como se respira o ar. Cada um do seu jeito. Uns a engolem duma só vez, tragadas gulosas. Outros, quem sabe, de medo que a cor acabe, sorvem-na lentamente e desdobram-na em infinitos matizes. Há ainda os que, insatisfeitos com o que encontram no mundo real, recorrem à imaginação. Cores: achadas e... produzidas.

É um mundo de cores e formas às avessas que o fotógrafo Penna Prearo produz. O estático vira movimento, o redondo se transforma em retangular, o som se torna silêncio.

Seria tela, ou seria uma foto? O olhar do espectador tenta adivinhar, não consegue. É a mania de rotulação. Mas o fotógrafo recusa ser rotulado. Ele usa a câmara como se fosse um pincel. Esboça um movimento e gera traços, impressionistas. Seria um Monet, Cézanne, Gaugin? Não, é fotógrafo-pintor de corpos cor de porcelana, de cachorros amarelos que amarelos não são, de brancos vaporosos que transparentes vestem-se de vermelho, azul, cor do mar, cor do céu. Que terra é.

A sua imaginação cria seres extraterrestres. Você pensou em marcianos? Ouvi dizer que eram verdes, mas os de Penna são de todas as cores e arrastam na sua trajetória cometas nebulosos. Você acreditava que as sombras andam sempre negras, de mãos dadas? Engano seu. As de Penna deram um grito de independência: não querem saber da cor do suporte. Adquirem formas e cores próprias. Cortaram o cordão umbilical com a realidade, como o fotógrafo o fez".
Stefania Bril

"Estas imagens não existem aqui. Não são simples registros fotográficos de fragmentos insólitos da realidade. Pertencem a um mundo eclipsado, situado à margem daquele que vemos. Um mundo cuidadosamente construído para provocar a perplexidade e o desbaratamento do olhar do espectador, um olhar travado por uma lógica que, de tão incorporada, o separa da surpresa. Para provocar essa fratura dos liames rotineiros que as coisas estabelecem entre si, o artista arma sua poética fundada no cruzamento entre a fotografia, a pintura, a dança e o teatro e, perpassando todos estes, o acaso. Nessas imagens o tempo e o espaço foram embaralhados. Às vezes mais, às vezes menos, as figuras humanas surgem sempre através de cortes, ângulos e em situações incomuns. Seus gestos, mesmo quando familiares - andando, repousando, tocando um instrumento musical - soam estranhos e distantes.

Do mesmo modo os objetos não se relacionam com elas da maneira a que estamos acostumados. As roupas não são artefatos dóceis de proteção e contenção da carne. Não são extensões do corpo e, como tais, recriam-no em novos contornos. Até os espaços abandonam a placidez que emana de sua natureza imóvel e repelem ou disputam com os corpos o centro da cena. As paisagens naturais crispam-se em texturas densas, a arquitetura dos ambientes internos impõe-se com sua geometria destacada, e as praças, túneis e avenidas cansam-se dos ritos banais que desenrolam sobre si e oferecem o nunca visto para seus transeuntes até então indiferentes. Quanto às cores, parecem se despregar da ação gravitacional das coisas; escorrem das suas superfícies e dissolvem-se na atmosfera. Ao mesmo tempo em que assumem ostensivamente sua condição de luz, ganham também materialidade e, à maneira da pintura, parecem variar entre massas pastosas e difusas até reverberações diáfanas. Segundo o olhar de Penna Prearo mesmo os objetos mais triviais - um balde, uma meia, uma mangueira - assim como uma simples fruta são corpos atravessados por um tremor oculto que se acentua quando colocado em contato com um corpo humano. As imagens que daí resultam são, por sua vez, dispositivos de estilhaçamento e reconstrução do olhar do outro".
Agnaldo Farias
PREARO, Penna, FARIAS, Agnaldo. Olho por olho. São Paulo : MAC, 1993. 241 p. il. p.b., fot.

Acervos

Unicef - Chile
Primeiro Colóquio Latino-Americano - México

Exposições Individuais

1978 - São Paulo SP - Penna Prearo em 40 imagens, na Escola de Fotografia Imagem-Ação
1981 - São Paulo SP -  Itapevi: primeira parada, no MIS - Museu da Imagem e do Som de São Paulo
1993 - Belo Horizonte MG - Olho por Olho, na Usina de Cinema
1993 - São Paulo SP - Olho por Olho, no MAC/USP
1995 - São Paulo SP - Violência: Cerimônia e Furor, na Oficina Cultural Oswald de Andrade
1999 - Rio de Janeiro RJ - Alma de Borracha, na Funarte
1999 - São Paulo SP - Alma de Borracha, no Espaço Ophicina
2002 - São Paulo SP - Alma de Borracha - Jam foto-musical, no Bar Marcelo´s
2006 - São Paulo SP - Quatro Quadras, no Espaço Ophicina
2007 - São Paulo SP - Delírios Passageiros Entre Deleites Sacramentados, no Santa Gula

Exposições Coletivas

1976 - São Paulo SP - Bienal - Edição Brasileira
1978 - México - Primeiro Colóquio Latino-Americano de Fotografia
1979 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra de Fotografia, na Funarte. Galeria de Fotografia
1979 - Santiago (Chile) - Presença da Criança nas Américas
1980 - São Paulo SP - 1ª Trienal de Fotografia, no MAM/SP
1980 - São Paulo SP - Ídolos da MPB, na Praça da Sé
1981 - São Paulo SP - Itapevi: Primeira Parada, no MIS/SP
1981 - São Paulo SP - Sidney Magal: a Paixão das Sandras, Rosas e Madalenas, na Zoom Escola de Fotografia
1991 - São Paulo SP - Lançamento do projeto NAFoto, na Galeria Fotoptica
1991 - São Paulo SP - Sobrecor, na Casa Fuji de Fotografia
1992 - Houston (Estados Unidos) - Fotofest/Color from Brazil
1993 - São Paulo SP - 1º International Photo Meeting, no Sesc Pompéia
1993 - São Paulo SP - A Moda e o Fotógrafo, na Colletor's Gallery (atual Ly Gallery)
1993 - São Paulo SP - Homem Sanduíche, na Praça Ramos de Azevedo.
1994 - Akron (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, no Akron Art Museum
1994 - Dallas (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, na Southern Methodist University
1995 - Coral Gables (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, na University of Miami
1995 - Ponce (Porto Rico) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, no Museo de Arte de Ponce
1995 - Sacramento (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, no Crocker Art Museum
1995 - São Paulo SP - Coletiva Brasileira de Retratos Anos 80 e 90, no Espaço Cultural Faap
1995 - São Paulo SP - Olhos sobre a Tela (versão reduzida), no Teatro Paulista
1995 - São Paulo SP - Violência: Cerimônia e Furor, na Oficina Cultural Oswald de Andrade
1996 - Nova York (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, no El Museo del Barrio
1996 - São Paulo SP - O Simbólico e o Diabólico na Cidade de São Paulo, na PUC/SP
1996 - Scranton (Estados Unidos) - Image and Memory: Latin American Photography, 1880-1992, na Art Gallery of the University of Scranton
1996 - Sittard (Holanda) - Sampa: fotografia de São Paulo, no Museum Het Domein
1997 - Amsterdã (Holanda) - News from Brazil, na Aschenbach Galerie
1997 - Mülheim an der Ruhr (Alemanha) - Sampa: fotografia de São Paulo, no Kunstmuseum in der Alten Post
1998 - Rio de Janeiro RJ - Olhos sobre a Tela, na Galeria Funarte
1999 - São Paulo SP - Prêmio J. P. Morgan de Fotografia, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Vertigens, no Espaço de Artes Unicid
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2001 - São Paulo SP - 10ª Coleção Pirelli/Masp de Fotografias, no Masp
2002 - São Paulo SP - Fotografias no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP
2003 - Barcelona (Espanha) - Mapas Abiertos: fotografia latinoamericana 1991/2002, no Palau de la Virreina
2003 - Madri (Espanha) - Mapas Abiertos: fotografia latinoamericana 1991/2002, na Fundación Telefonica
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural
2003 - São Paulo SP - Ordenação e Vertigem, no CCBB
2004 - São Paulo SP - Uma Centena de Olhares sobre a Cidade, na Galeria Olido
2005 - São Paulo SP - O Retrato como Imagem do Mundo, no MAM/SP

Fonte: Itaú Cultural