Paulo Mattos Angerami (Palo Alto, Estados Unidos 1963)
Fotógrafo e professor.
Formado em matemática pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, USP, em 1984, estuda também artes plásticas na Escola de Comunicações e Artes da mesma universidade, ECA/USP, sem no entanto concluir o curso. Dedica-se ao ensino a partir de 1990, inicialmente como professor da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia, FDTE, e, em seguida do curso básico de fotografia do Serviço Nacional do Comércio (entre 1994 e 1997), promovendo em 1997 oficinas no Centro Cultural Pompéia e, em 1998, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Começa a expor seu trabalho, realizado sobretudo com câmaras estenopéicas (também conhecidas como pinhole, ou buraco-de-agulha), a partir de 1993, ano em que obteve o Prêmio Estímulo para Ensaio Fotográfico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Sendo que, no ano seguinte, é agraciado com o Prêmio Nascente, na categoria de artes plásticas, da USP.
Críticas
"Luz e papel. É o que basta para uma ´pin-hole camera´ produzir uma imagem. No caso de Paulo Angerami, uma imagem distorcida de São Paulo. A exposição Dentro e Fora mostra dezoito dessas distorções feitas com uma câmera de orifício, a ´pin-hole´, em busca de ângulos inusitados de Brás, Vila Madalena, Luz, Barra Funda e outras regiões da cidade.
A opção de Angerami foi trabalhar com um tipo de câmera que usa o princípio básico da fotografia para captar uma imagem.
Traduzindo, usa uma caixa escura que possui, de um lado, uma superfície sensível à luz (papel ou chapa de raios X) e, no lado oposto, um orifício que permite a entrada de luz.
Como não há nenhum tipo de lente (acessório que possibilita o foco, a aproximação ou a ampliação do campo de visão), a Angerami só resta enquadrar a cena e regular a exposição (por quanto tempo o orifício vai ficar aberto).
O efeito da distorção é dado pela variação na curvatura do papel, que normalmente atinge 121º. O que chama a atenção - e causa estranhamento - nas imagens produzidas por Angerami é a ausência de personagens humanos.
Junto às colunas do prédio da Fundação Bienal, embaixo do célebre vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) ou na entrada da galeria da Consolação, nunca há ninguém.
Como a exposição precisa ser sempre muito longa (o orifício para entrada de luz fica aberto por muito tempo), a ´pin-hole´ não consegue registrar pedestres e, menos ainda, veículos.
O resultado pode ser visto, por exemplo, numa foto da Avenida Paulista ´batida´ às 13h, em que não aparece nada além de asfalto e arranha-céus. Parece que foi feita durante a madrugada.
A produção do fotógrafo com suas câmeras de orifício já arrebatou o Prêmio Estímulo para ensaio fotográfico (1993) e, no ano seguinte, o Prêmio Nascente.
Câmera de 8,5kg
Paulo Angerami, que também é matemático, constrói as próprias câmeras desde 1992. A primeira, feita em madeira, tinha 72 cm de comprimento e parecia uma arapuca. Como só permitia uma foto por vez, a cada nova chapa ele tinha que voltar ao laboratório para recarregá-la. No ano seguinte, precisou de três meses para aprimorar seu equipamento. Apelidada ´Bambina´, a nova ´pin-hole´ pesava 8,5 kg e permitia 25 instantâneos por saída. A tiracolo, um tripé de 17 kg. Em 1994 veio o maior salto tecnológico da carreira de Angerami. O projeto da ´Bambininha´ foi motivado pela quantia recebida no Prêmio Estímulo de 1993, cerca de US$ 3. 000. A nova ´pin-hole´, última criação do fotógrafo, pesa apenas cerca de 2,5 kg.
Limitação
Nessas condições, cada foto leva cerca de trinta minutos para ser feita, e o máximo de sofisticação que Angerami se permite são os três diferentes tamanhos do orifício para entrada de luz: 0,5 mm, 0,7 mm ou 1 mm de diâmetro. Foco é um elemento que não consta do vocabulário das câmeras de orifício.
Apesar disso, Angerami não acha que sua opção seja limitante. Ao contrário. ´Minhas ´pin-holes´ têm mais possibilidades que as câmeras comuns. Eu posso deformar uma paisagem com muito mais definição´, diz. ´É trabalhoso, mas tenho muito mais liberdade. ´
Quem visita a exposição também vê, no chão, painéis que dissecam o processo utilizado para fazer as fotos. ´Como matemático, não quero só apresentar o resultado, mas mostrar de que forma utilizo as técnicas que aprendi. ´
O didatismo da mostra Dentro e Fora continua com as maquetes criadas para resgatar a perspectiva do fotógrafo no momento de fazer a imagem. São ampliações (50 cm de largura por 60 cm de altura) em estruturas de madeira que tentam nos aproximar da situação vista por Angerami.
O projeto é aumentá-las para três metros de largura por quatro de altura, em estrutura de alumínio. Aí sim, reproduzindo a perspectiva do fotógrafo. Para tanto, Angerami precisa de R$ 5. 000 a R$ 6. 000. Por ampliação".
Fernando Oliva
Cidade é vista por câmera de orifício de Angerami. Folha de S. Paulo, Caderno ilustrada, 28 abr 1997.
Exposições Individuais
1997 - São Paulo SP - Dentro e Fora, no Espaço de Exoisições Eugênio Villen da Faculdade Santa Marcelina
1999 - São Paulo SP - São Paulo com Câmera de Orifício, no Centro Cultural de São Paulo
2001 - São Paulo SP - In Sólitus Urbanus: espaços metafísicos, no Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal
Exposições Coletivas
1993 - Curitiba PR - 50º Salão Paranaense, no MAC/PR
1993 - São Paulo SP - 2° Visualidade Nascente, no MAC/USP
1994 - Cuba - Exposição de abertura do Prêmio das Américas de Fotografia
1994 - São Paulo SP - Seminário Internacional de Fotografia, no Centro de Comunicação e Arte do Senac
1994 - São Paulo SP - 4° Visualidade Nascente, no MAC/USP
2000 - Bauru SP - Bienal de Fotografia de bauru
2000 - Santo André SP - 28º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
2000 - São Paulo SP - Programa de Fotografia (câmera de orifício), no Museu da Imagem e do Som
2000 - São Paulo SP - Ecos do Século - 30 anos do MIS, no Museu da Imagem e do Som
2001 - São Paulo SP - 2º Prêmio Sergio Motta
2002 - Ribeirão Preto SP - Elemento Desprendido, no Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi
2002 - Rio de Janeiro RJ - A Mesma ou a Outra, no Espaço Cultural Sérgio Porto
2003 - São Paulo SP - Ponto de Fuga, Área Livre, no Memorial da América Latina. Galeria Marta Traba
2006 - São Paulo SP - A Cidade para a Cidade, na Galeria Olido
Fonte: Itaú Cultural