Otto Sulzbach
Ingressou em 1995 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ritter dos Reis. Na mesma época inicia pesquisa na área de design e projetos relacionados à instalação e escultura contemporânea. Utiliza em seus trabalhos materiais diversos. Desde 2002 utiliza resíduos de borracha industrial. Nasceu em Palmeira das Missões no Rio Grande do Sul e reside e trabalha em Porto Alegre, no Atelier Otto Sulzbach.
"O dinamismo da vida pode ser retratado em nosso cotidiano de diferentes formas; inclusive, de maneira estática! É precisamente essa a mais aproximada definição tanto da minha obra em si quanto de mim mesmo como autor. Isso digo por imprimir especialmente nesse trabalho um cunho intuitivo e pessoal ao utilizar-me de um processo interno próprio ao criar. Criações estas imbuídas de reminiscências infantis referentes a perdas e ganhos inerentes a tal etapa da vida. Assim é que procuro retratar imagens resgatadas dos primeiros quatro anos de vida de um infante, apresentando situações que passam pelos laços familiares(paternos/maternos/fraternos) e relacionais mais amplos (amigos).
Como que num passeio pelas mais variadas infâncias, procuro oportunizar ao espectador uma gama de sentimentos que emerge ao nos depararmos com representações também da perversidade infantil, ora pela impressão de aprisionamento, ora pela sensação da infância cortada – “mutilada”. Então, para efetivamente despertar tais sentimentos, parti em busca de materiais que ajudassem a traduzir minha intenção. Foi, pois, nesse cenário que encontrei na borracha qualidades suficientes, dentre as quais saliento a elasticidade e a sensação ao toque semelhante ao da pele humana (razão pela qual luvas cirúrgicas e preservativos – camisa de vênus – são feitos de borracha).
Por ourto lado, viver em dias como os nossos – tempo de ser ecologicamente correto, algumas perguntas poderiam ser feitas, como por exemplo: por que trabalhar justamente com a borracha cujos resíduos são tão prejudiciais ao meio-ambiente? Respondo: justamente por essa mesma razão! O que para uns é resíduo, para outros, como no meu caso, é matéria-prima. Isso pode remeter-nos a outras análises como, agora, de cunho psicológico: o que vem a ser um resíduo senão a sobra/excedente em um processo? Nesse sentido equivale dizer que nossa própria memória é um resíduo na medida em que é, nada mais nada menos, aquilo que sobrou em nosso processo de vida e está armazenado bem ali, na memória.
É exatamente aqui que reside uma grande virtude – poder trabalhar a plasticidade do material, elevando-me ao status de um verdadeiro esteta. O material que escolhi somado ao trabalho realizado compõe recortes que se enquadram na minha poética visual. Assim, posso dizer sem o menor receio de soar pedante que meu trabalho confere uma nova semântica para o resíduo ao associá-lo à vida, ao movimento, bem como pela separação por grupos de características semelhantes. Quer pelo uso de matriz formal (borrachinhas) como pela idéia de ossatura e organicidade alusivas ao já visto, creio provocar um quase natural estranhamento ao imantar velhas referências com novos significados.
Otto Sulzbach