Marcos de Azevedo Acayaba (São Paulo SP 1944)
Arquiteto, urbanista e professor.
Em 1969, forma-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, escola na qual leciona temporariamente entre 1972 e 1976, e definitivamente desde 1994. Ainda estudante, trabalha como estagiário no escritório do engenheiro Mange (1922 - 2005), seu professor. Nessa ocasião, ajuda a desenvolver o projeto da cidade de Ilha Solteira, São Paulo, encomendado pela construtora Camargo Correia. Sua carreira desponta com o projeto da Residência Milan, 1972, na qual reside até hoje com a família. Após essa primeira fase de sua obra, inspirada pela forma livre de Oscar Niemeyer (1907 - 2012) e pelo uso "brutalista" do concreto aparente em São Paulo, passa paulatinamente a utilizar sistemas construtivos variados, tais como a alvenaria armada, a estrutura metálica e, finalmente, a estrutura de componentes de madeira industrializada. Esta é empregada pela primeira vez no projeto da Residência Olga, 1987, com base no sistema construtivo desenvolvido e fabricado pela Ita Construtora. Com a madeira, Acayaba consegue realizar construções leves e com grande balanço, aproximando-se da linguagem de seu arquiteto favorito: Frank Lloyd Wright (1867 - 1959). Além de ter obras publicadas em diversas revistas internacionais, Acayaba tem as casas Olga e Acayaba, 1996, analisadas nos livros World Houses Now - Contemporary Architectural Directions, de Dung Ngo, e Modern House 2, de Claire Melhuish.1
Nota
1 NGO, Dung. World houses now - contemporary architectural directions. London: Thames & Hudson, 2003; e MELHUISH, Claire. Modern house 2. London: Phaidon, 2000.
Comentário Crítico
Considerado um dos expoentes de uma geração que começa a trabalhar nos anos 1970, depois da consolidação da chamada "escola paulista", Marcos Acayaba é hoje um dos arquitetos brasileiros com maior projeção internacional. Composta predominantemente de construções residenciais, sua obra surge com o projeto da Residência Milan, em 1972. O desenho dessa casa define-se pela plasticidade da cobertura: uma casca em abóbada feita de concreto armado, sob a qual se desenvolvem planos contínuos em seminível, que integram o jardim externo ao interior da construção, absolutamente transparente - um projeto cuja radicalidade é coerente com a juventude do arquiteto. Pode ser considerado também uma obra-síntese do legado plástico da arquitetura moderna brasileira, uma vez que reinterpreta um variado espectro de referências, tais como o Tênis Clube de Diamantina, 1954, de Oscar Niemeyer (1907 - 2012), a residência Olga Baeta, 1956, de Vilanova Artigas (1915 - 1985), e a residência em Cotia, 1964, de Sérgio Ferro (1938), feita com uma abóbada única.
Aluno, e depois professor, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, Acayaba não segue, no entanto, a militância pelo uso do concreto armado como material construtivo único ou predominante. Depois da construção da Residência Milan, abandona o caminho plástico da forma livre e faz uma sincera autocrítica quanto às dificuldades construtivas envolvidas na realização da forma: uma casca de espessura variável, moldada in loco, que exige uma fôrma exagerada de difícil execução, e um bombeamento para lançar o concreto em altura. Uma sofisticação, diz ele, "que eu não sei se caberia na obra de uma residência".
A partir daí projeta construções como equacionamentos geométricos de componentes construtivos. Exemplos disso são o Conjunto Residencial Alto da Boa Vista, 1973, feito com blocos de concreto de alvenaria estrutural, a sede da Fazenda Pindorama, 1973, com abóbadas feitas de peças pré-moldadas de concreto, a Residência Kovadlof, 1986, com alvenaria de tijolo, a Residência Jander Köu, 1981, a Agência Banespa Santo Amaro, 1984, e a Sede da Fapesp, 1998, com perfis metálicos, e as residências Olga, 1987, Baeta, 1991, Valentim, 1993, e Acayaba, 1996, com peças de madeira industrializada.
O trabalho com madeira industrializada, com base no sistema construtivo desenvolvido e fabricado pela Ita Construtora, dá um novo estatuto à carreira de Acayaba. O marco dessa fase é a residência Olga, construída em 1991, feita para o dono da Ita, o engenheiro Hélio Olga de Souza Jr. Situada em uma encosta muito íngreme, a casa foi desenvolvida pelo arquiteto como uma pirâmide invertida perpendicular à rua, e implantada contra as curvas de nível do terreno: um volume solto, não necessitando realizar cortes e aterros. Assim, consegue abri-la para a melhor vista e orientação solar, planejando o volume da casa por meio do desenho da estrutura: um conjunto de treliças formadas por tabuleiros horizontais de madeira (os pisos) e cabos de aço nas fachadas. Externamente, o volume é escalonado, afinando em direção ao solo, e tocando-o em apenas seis pontos, já que a baixa qualidade deste exige a execução de fundações profundas e caras (tubulões pneumáticos). Mais uma vez, o recurso aos apoios concentrados e a eleição de volumetrias com perfil diagonal fazem referência a obras marcantes da arquitetura brasileira, tais como o Museu de Caracas, 1954, de Niemeyer, e a Residência Cunha Lima, 1958, de Joaquim Guedes (1932), conhecida como "casa das mãos-francesas". E, acima de tudo, no recurso à horizontalidade expansiva, e no uso de grandes balanços, está a admiração pela arquitetura "orgânica" de Frank Lloyd Wright (1867 - 1959).
Muito divulgada dentro e fora do Brasil, essa casa inaugura uma linhagem de projetos em madeira que influencia muitos arquitetos jovens. Ao mesmo tempo, coloca a obra de Acayaba em circulação internacional, ligando-a ao movimento de valorização da arquitetura sustentável, ambientalmente responsável, e atenta às particularidades culturais, climáticas e paisagísticas dos locais em que se implanta. Em seguida, o arquiteto desenvolve sua linguagem criando um sistema-protótipo com estrutura "em árvore" com base em módulos hexagonais intertravados, otimizando ao máximo seu desempenho estrutural, e chegando a um feliz encontro entre racionalização construtiva e poética formal.
Fonte: Itaú Cultural