Leonardo Crescenti Neto (São Paulo SP 1954)
Fotógrafo e diretor de fotografia.
Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, em 1978, jamais exerceu a profissão, tendo trabalhado com fotografia desde 1974. Especializado na fotografia de produtos, trabalha igualmente nas áreas industrial e publicitária, na qual exerce também a função de diretor de filmes desde 1985. Dirigiu, nas duas últimas décadas, uma série de treze filmes e vídeos experimentais de curta metragem, obtendo 21 premiações nacionais e 14 internacionais nesse setor, e participando por três vezes da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cinema de Cannes (França). Desenvolve um trabalho fotográfico de expressão pessoal que retoma por vezes na imagem fixa idéias desenvolvidas em seus filmes, como no caso de A pedra ouve o vento passar, de 1986.
Críticas
"As fotos de Leonardo Crescenti isolam o corpo humano de todo o contexto individual, social e político para colocá-lo no centro de um sistema de criação formal, de especulação plástica e de linguagem. Nos dias de hoje, seu trabalho nasce de uma idéia profundamente romântica, visando uma ficção poética, que projeta um mundo que não existe e que jamais existiu. Representam o desejo de inventar um mundo, que se interponha entre o sujeito e o real, criando um universo particular, uma narrativa, em que a realidade existe unicamente como território específico da linguagem - no caso a fotografia - e com o objetivo de alimentar o seu próprio sistema.
As fotos são produzidas em estúdio e trabalhadas posteriormente em laboratório. Isto significa que o corpo-modelo é objeto de uma metamorfose, sendo arranjado e manipulado até que forneça exatamente a imagem concebida pela vontade do artista. Crescenti descobre no isolamento analítico de partes do corpo elementos significantes capazes de transformá-lo para além de sua própria representação ou alimentar qualquer discurso político-ideológico sobre ele. O corpo apreendido pelo obturador é transformado em estrangeiro ao processo de criação, que quer, por sua vez, reforçar o caráter escultórico das formas percebidas e evidenciadas. O espectador não consegue mais distinguir, nas imagens criadas pelo artista, quais partes do corpo humano estão ali, transformadas em pura plasticidade, autônomas e encerradas em seus próprios sonhos. Resultam, deste modo, em presenças impassíveis, quase sagradas, distantes, cada vez mais, de qualquer evidência natural, mas respirando para além dos limites do quadro, buscando a transcendência das obras de arte.
As fotos de Crescenti estão inteiramente a serviço da idéia de representação da materialidade da forma e vêm para afirmar o caráter arbitrário da imagem como construção intelectual. O fotógrafo se interessa, antes de tudo, pela exploração das possibilidades de, a partir do corpo, constituir um sistema de representação e imagens pleno de qualidades plásticas, pictóricas, ornamentais. Estes trabalhos têm algo a ver com a história do conceito de beleza. Eles encarnam os ideais de beleza propostos por uma certa modernidade: um estilo de representação racional e objetivado visando o surgimento da realidade plástica. Ao mesmo tempo, afirmam a fotografia como meio autônomo, colocando o foco não sobre o ato de fazer mas sobre o resultado da escolha e da ação. Inspirado pelos métodos tradicionais da construção escultórica, Crescenti oferece ao espectador, que penetra fascinado neste universo de intrigantes formas abstratas, possibilidades de compreensão através de numerosas alusões e remissões mitológicas, inteligíveis na sua própria significação formal".
Ivo Mesquita
CRESCENTI, Leonardo, MOREIRA, Luciene (coord.). A Pedra ouve passar o vento. Texto Ivo Mesquita; curadoria Rosely Nakagawa; projeto gráfico Maria Helena Pereira da Silva. São Paulo : Casa da Fotografia Fuji, 1996. [11] p. il. p&b, color.
Exposições Coletivas
1975 - São Paulo SP - Coletiva, na FAU/USP
1976 - São Paulo SP - Bienal Nacional 76, na Fundação Bienal
1981 - São Paulo SP - Coletiva 1981, na Galeria Fotoptica
1981 - s. l. - Longe Daqui, Aqui Mesmo, na Galeria Tenda
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria Paulo Figueiredo
1985 - São Paulo SP - 1ª Quadrienal de Fotografia, no MAM/SP - prêmio de pesquisa de linguagem
1988 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil Projects
1989 - Amsterdã (Holanda) - U-ABC, no Stedelijk Museum
1989 - Lisboa (Portugal ) - U-ABC, no Museu Gulbenkian
1993 - São Paulo SP - NAFoto, no Sesc Pompéia
1996 - São Paulo SP - A Pedra Ouve Passar o Vento, na Casa Fuji de Fotografia
1998 - São Paulo SP - 8ª Coleção Pirelli/Masp de Fotografias, no Masp
Fonte: Itaú Cultural