João Modé (Resende RJ 1961)
Artista visual.
João Carlos Mazzucco Modé formou-se em arquitetura pela Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro, em 1983, e em comunicação visual pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EBA/UFRJ, em 1984, ano em que participa da coletiva Como Vai Você, Geração 80?. É professor do núcleo de 3D da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro. Modé é membro fundador do grupo Visorama, formado por artistas residentes no Rio de Janeiro, que entre 1988 e 1995 promove cursos, simpósios, exposições e debates acerca de questões da arte contemporânea. Em 2001, realiza a interferência urbana Do Céu e Da Terra, no bairro carioca de Santa Teresa, e é contemplado com o Prêmio Interferências Urbanas do 11º Arte de Portas Abertas. Entre 2003 e 2004, atua como professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. Em 2006, conclui o mestrado em Linguagens Visuais pela UFRJ, enquanto participa dos projetos Draw drawing2, em Londres, Notas do Observatório e A Imagem do Som, ambas no Rio de Janeiro. Fez residência internacional em Graz, na Áustria, com o projeto Inherit - conquer, em 2004. No ano seguinte, com o Projeto Road, uma residência móvel entre La Paz, na Bolívia e Lima, no Peru. Em 2007, duas residências: em Belle Île en mer, França e em Medellín, Colômbia.
Comentário Crítico
O acúmulo é um dos elementos recorrentes na obra de João Modé. Em obras como Sentido-Carnal - Lascivo, 1995 ou Estudo da Natureza Animal - Relacional, 1996, o artista cria a partir de elementos orgânicos reunidos ao longo do tempo; são cabelos, unhas, pêlos de barba etc., tudo proveniente de seu próprio corpo. A estes elementos somam-se ainda materiais como couro, pêlo animal, corda, cobre, ouro, dando às peças forte apelo sensorial e tátil. A formalização não é preestabelecida nestas obras: o simples amontoamento desses elementos é, muitas vezes, seu agente organizador. Em outras palavras, as formas são definidas pela própria reunião desordenada, a partir do acúmulo.
Estes três elementos - acumulação, materiais orgânicos, sensorialidade - estão presentes em Comida Para Alma, 1996/1999, instalação em que Modé reúne vasos de porcelana, cipós, argila, incensos e água. Sobre esta obra, o crítico e artista Ricardo Basbaum comenta: "Modé busca um diálogo singular entre a organicidade do tempo próprio dos seus materiais (plantas, insetos, incensos, água) e o espaço físico da galeria. Suas instalações carregam um efeito sedutor de envolvimento do espectador, conduzindo a uma região limite entre a fisicalidade do mundo orgânico e a ascese espiritual e sensorial". No projeto interativo Rede, 2003, o artista deixa a cargo do público a estruturação da obra, e coloca-se como simples promotor ou agente dessa ação, desse intercâmbio: trata-se da confecção de uma trama, com a utilização de fios dos mais variados tipos, fornecidos pelo artista ou trazidos pelo próprio público. Neste caso, a formalização casual do acúmulo, presente em obras anteriores, cede lugar à estruturação espontânea do coletivo.
Críticas
"Às vésperas da inauguração da mostra 'Como Vai Você, Geração 80?', nos idos de 1984, um jovem, quase um menino, invadiu a minha sala e pediu que eu visse alguns de seus trabalhos. Estudante de arquitetura, ele tinha, então, 22 anos. Parecia 16. Tímido, reconheceu não ter a 'experiência de um Berredo ou de um Leonilson' (A Geração 80 nem bem tinha nascido e já começava a institucionalizar-se). Audacioso, garantiu-me ter as condições necessárias para participar do evento. Como um velho e rabugento professor, propus-lhe um desafio: que ele me apresentasse, até o dia seguinte, às 14 horas, um projeto para a exposição que seria analisado não só por mim, mas por Paulo Leal e Sandra Mager, companheiros de curadoria. O jovem saiu, preocupado e feliz e eu procurei os dois para comunicar-lhes que um outro nome certamente faria parte da lista dos participantes da mostra. Foi assim que eu conheci o João Modé, mais que moderno. (...) Acompanho, com assiduidade, a evolução de seu trabalho, as suas inquietações, o seu modo tenso e sério de enfrentar as dificuldades propostas pelo seu processo de produção. De início bastante compromissado com a estética do 'kitsch', o trabalho de João foi evoluindo, ampliando as suas questões, invadindo outros campos, recusando limitações. O trabalho passou a pulsar, repleto de estranhezas, como um animal mutante, recusando a aura de obra de arte, investigando a situação artística em suas instâncias no mundo. Há, na produção de João, a disposição e a atitude de não fechar a sua pesquisa em limites determinados: cada objeto criado é o seu próprio investigador, seu próprio inquisidor. Diferente da maioria de seus colegas de geração, João não 'executa e termina uma obra'. Ele propõe jogos, aventuras, exercícios. Ele quer a conquista. (...) Agrupados, desenhados, colados, rasgados, costurados, amarrados, os objetos são pequenas surpresas, pequenas ironias. Eles são uma espécie de atores teatrais que perderam a voz e o gesto, mas não perderam a capacidade de sorrir e chorar, eles são pequenos sinais, pequenos desejos, pequenas ânsias. E se deixam levar, dentro de cenários assustadores, ambientações repletas de ironia e tragédia. João Modé fritou Beckett numa floresta tropical. Nos trabalhos de João raramente existe espaço para o mínimo, para a essência, para a redução. João representa, ilustra, cenografa, barroquiza, liquidifica. Estético, elétrico, João mais que moderno, eclético. Os trabalhos incorporam o popular e o infantil, o masculino e o feminino, a beleza e o mau-gosto. Eles não se completam, eles não se resolvem, essa é a opção, essa é a estratégia. Eles não aspiram à grandiosidade (e talvez por isso ainda não interessem ao mercado...), preferem a ambigüidade, a tangência, o quase-nada, feras domésticas à espera do momento certo de se abrir as portas e escapar da jaula. Para onde? João não sabe responder. Ninguém saberia. O mergulho e o salto são movimentos do corpo. Existe o prazer e o pânico. João congela falos e vaginas, galhos e flores, cascas, peles, retalhos, fragmentos. Provoca, instiga, perturba. Caça e caçador, ele sabe o alvo. Orienta a mira e aponta o céu. João matou a família e foi ao cinema, 'Saló Doçura', escrotidão romântica, estranha, porém perfeita, metáfora da arte".
Marcus de Lontra Costa Brasília, março/1989
MODÉ, João. Tudo em Geral. Rio de Janeiro: Galeria de Arte do Centro Empresarial Rio, 1989. pp. [6 - 7]
"Cabelos, unhas, peles e gordura são alguns dos elementos que compõem a obra de João Modé nesta exposição. O corpo é a própria obra em vários destes objetos. Nessas peças o artista utiliza materiais não convencionais. João Modé há alguns anos coleta esses elementos orgânicos. Ele acumula cabelos, unhas, pêlos de barba etc... tudo isso de seu próprio corpo. À primeira vista esses elementos têm um aspecto de repulsa, mas apesar disto fazem com que sua obra tenha também um humor próprio. O amontoado desses elementos é que definiu as obras, pois esta ação surgiu antes da idealização dos objetos. A partir deste acúmulo é que as formas foram sugeridas, definidas pela própria reunião desordenada. (...) A experimentação com essa matéria nos traz emoções distintas daquelas que podemos imaginar num primeiro momento, e mesmo das que são intencionadas pelo artista. Suas peças parecem que pedem para serem sentidas, não só em suas significações e apreciações, como também sugerem uma tatilidade. No momento em que temos um contato realmente direto com esses objetos, passamos por sensações e emoções pessoais. Há uma relação muito forte também da sexualidade em sua obra. O pêlo, a pele, o couro, a gordura, o látex, o veludo, enfim, o conjunto deste materiais nos remete também ao lado sexual do ser. É o próprio corpo e suas secreções. Existe também um lado perverso, mas não vulgar na forma com que seus objetos são apresentados. A sexualidade aqui é sugerida, e em muitas vezes bem explícita, mas tudo de maneira sutil. O artista faz com que o fruidor tenha uma relação muito direta com sua obra e um prazer de ter esse contato. Esse vínculo entre o espectador e a obra é conseguido por bons artistas como é João Modé".
Franklin Pedroso Rio de Janeiro, abril de 1996
MODÉ, João. Natureza animal/Cama. Curadoria Franklin Espath Pedroso; apresentação Franklin Espath Pedroso; tradução Esther Stearns d'Utra e Silva; fotografia Vicente de Mello. Rio de Janeiro: Galeria do IBEU Copacabana, 1996. 9 p. il. color. p. [7].
Exposições Individuais
1989 - Rio de Janeiro RJ - Tudo em Geral, Galeria do Centro Empresarial Rio
1991 - São Paulo SP - Individual, Galeria Casa Triângulo
1991 - Rio de Janeiro RJ - Individual, Galeria Candido Mendes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Cama, Galeria de Arte Ibeu Madureira
1996 - Rio de Janeiro RJ - Individual, Centro de Artes Calouste Gulbenkian
1996 - Rio de Janeiro RJ - Mergulho no Reflexo, Espaço Cultural Sérgio Porto
1996 - Rio de Janeiro RJ - Natureza Animal, Galeria Ibeu Copacabana
1996 - Vitória ES - Individual, Universidade Federal do Espírito Santo. Galeria de Arte e Pesquisa
2002 - Rio de Janeiro RJ - Estímulo Puro, Espaço Agora
2007 - Rio de Janeiro RJ - A Cabeça, A Gentil Carioca
2009 - Rio de Janeiro RJ - Invisíveis, Fundação Eva Klabin
Exposições Coletivas
1984 - Belo Horizonte MG - 16º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, Museu de Arte da Pampulha
1984 - Niterói RJ - Arte Brasileira Atual, Galeria de Arte UFF
1984 - Rio de Janeiro RJ - Como Vai Você, Geração 80?, Escola de Artes Visuais do Parque Lage
1984 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Carioca de Arte, Estação Carioca do Metrô
1985 - Rio de Janeiro RJ - O Visual do Rock, Museu de Arte Moderna
1985 - Rio de Janeiro RJ - Rio Narciso, Escola de Artes Visuais do Parque Lage
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna - Referência Especial do Júri
1986 - Belo Horizonte MG - 9º Salão Nacional de Artes Plásticas: sudeste, Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1986 - Rio de Janeiro RJ - Ecologia: tradição e ruptura, Espaço Cultural Petrobras
1986 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna
1987 - Belo Horizonte MG - 19º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, Museu de Arte da Pampulha - prêmio aquisição
1987 - Curitiba PR - 44º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea
1987 - Niterói RJ - Pela Própria Natureza, Galeria de Arte UFF
1988 - São Paulo SP - 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea, Fundação Bienal
1988 - Belo Horizonte MG - Subindo a Serra, Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte - prêmio aquisição
1989 - Rio de Janeiro RJ - 7, Solar Grandjean de Montigny
1990 - São Paulo SP - Objetos, Galeria Casa Triângulo
1990 - Brasília DF - Prêmio Brasília de Artes Plásticas, Museu de Arte de Brasília
1990 - Petrópolis RJ - 4 x 44, Atelier Livre de Petrópolis
1991 - São Paulo SP - Programa de Exposições de Artes Plásticas, Centro Cultural São Paulo
1991 - Brasília DF - Consumir o consumo, Galeria Athos Bulcão
1991 - Niterói RJ - Consumir o consumo, Galeria de Arte UFF
1992 - São Paulo SP - Consumir o consumo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
1992 - São Paulo SP - Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas 91, Fundação Bienal
1992 - São Paulo SP - Um Olhar Sobre o Figurativo, Galeria Casa Triângulo
1992 - Rio de Janeiro RJ - Ateliê Vila Isabel: 7 artistas, Galeria Candido Portinari - UERJ
1992 - Rio de Janeiro RJ - Eco-Sensorial: extrativismo urbano, Escola de Artes Visuais do Parque Lage
1993 - Brasília DF - Um Olhar sobre Joseph Beuys, Fundação Athos Bulcão
1993 - Rio de Janeiro RJ - Paixão do Olhar, Museu de Arte Moderna
1994 - Rio de Janeiro RJ - Imagens Indomáveis, Escola de Artes Visuais do Parque Lage
1995 - Rio de Janeiro RJ - Romance Figurado, Museu Nacional de Belas Artes
1996 - Rio de Janeiro RJ - Amigos do Calouste, Centro de Artes Calouste Gulbenkian
1996 - Salvador BA - 3º Salão MAM-Bahia, Museu de Arte Moderna
1997 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Campus, Universidade Veiga de Almeida
1999 - São Paulo SP - Outra Paisagem, Galeria Millan
2000 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Gilberto Gil, Paço Imperial
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, Museu de Arte Moderna
2001 - Buenos Aires (Argentina) - Arte Contemporaneo Brasileño, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires
2001 - Campinas SP - Deslocamentos do Eu: o auto-retrato digital e pré-digital na arte brasileira 1976-2001, Itaú Cultural
2001 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - 11ª Arte de Portas Abertas, Largo do Guimarães, Santa Teresa - Prêmio Interferências Urbanas
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Orlândia, ocupação temporária de uma casa em obras reunindo 44 artistas de várias gerações, na Rua Jornalista Orlando Dantas nº 53, em Botafogo
2002 - Barra Mansa RJ - Sidaids, Galeria de Arte Sesc Barra Mansa
2002 - Rio de Janeiro RJ - A Cultura em Tempos de Aids, Museu Nacional de Belas Artes
2002 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som do Rock Pop Brasil, Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Canteiro de Obras do Circo Voador, Circo Voador
2002 - Rio de Janeiro RJ - Livro: objeto da arte, Centro Cultural Candido Mendes
2002 - São Gonçalo RJ - Sidaids, Sesc São Gonçalo
2003 - Niterói RJ - Sidaids, Galeria de Arte Sesc
2003 - Praga (República Tcheca) - 1ª Bienal de Praga, Galleria Nazionale
2003 - Rio de Janeiro RJ - Grande Orlândia: artistas abaixo da linha vermelha, Rua Bela, 148 até Rua General Bruce, 230
2003 - Rio de Janeiro RJ - Infantil, A Gentil Carioca
2003 - Rio de Janeiro RJ - Sissomia, Fundição Progresso
2004 - Rio de Janeiro RJ - Exposição 1 Ano: coletiva na A Gentil Carioca, A Gentil Carioca
2007 - São Paulo SP - Futuro do Presente, Itaú Cultural
2007 - São Paulo SP - 30º Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna
2008 - São Paulo SP - 28ª Bienal Internacional de São Paulo, Pavilhão Ciccillo Matarazzo Sobrinho
2008 - São Paulo SP - MAM 60, Oca
2008 - São Paulo SP - Mão Dupla, Sesc Pinheiros
2008 - Madri (Espanha) - 30º Panorama de Arte Brasileira, Sala Alcalá 31
2008 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva 2008, A Gentil Carioca
2010 - São Paulo SP - 20 Anos do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, Centro Cultural São Paulo
2010 - São Paulo SP - 6ª sp-arte, Fundação Bienal
2010 - Belo Horizonte MG - Uma Gentil Invenção, Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
2010 - Rio de Janeiro RJ - Arquivo Geral, Centro de Arte Hélio Oiticica
2010 - Rio de Janeiro RJ - Entre Desejos e Utopias, A Gentil Carioca
2010 - Rio de Janeiro RJ - Galeria Ibeu 50 Anos: a contribuição de Esther Emilio Carlos, Galeria Ibeu
2010 - Uberlândia MG - Uma Gentil Invenção, Oficina Cultural de Uberlândia
Fonte: Itaú Cultural