Henrique Fleiuss (Colônia, Alemanha 1823 - Rio de Janeiro RJ 1882)
Litógrafo, pintor, gravador e desenhista.
Inicia os estudos artísticos em sua cidade natal, concluindo-os em Düsseldorf. Posteriormente termina o curso de ciências naturais na Universidade de Munique. Muda-se em 1858 para o Brasil e, depois de percorrer a Região Norte, instala-se definitivamente no Rio de Janeiro, em 1859. Funda, com seu irmão Karl Fleiuss e o pintor alemão Karl Linde (ca.1830 - 1873), uma empresa lito-tipográfica chamada Fleiuss, Irmãos e Linde, que logo recebe o nome de Instituto Artístico. Em 1860, inicia a publicação da revista Semana Ilustrada, sendo ele o único responsável pelas ilustrações litografadas nos dez primeiros números deste periódico, para o qual cria os personagens Dr. Semana, Negrinha e Moleque. Em 1863, funda a primeira escola de xilogravura do país nas dependências do Instituto Artístico, que passa a chamar-se Imperial Instituto Artístico. Nas páginas da Semana Ilustrada, começa a publicação de suplementos sobre a Guerra do Paraguai, em 1864. Em 1876 suspende a publicação da revista e lança outro periódico, Ilustração Brasileira, editado até 1878, data em que, por motivos financeiros e de saúde, abandona a direção do Imperial Instituto Artístico. Dois anos depois lança a revista Nova Semana Ilustrada.
Comentário Crítico
Artista de origem alemã, Fleiuss freqüenta curso de belas-artes, em Colônia e em Düsseldorf, e de ciências naturais, em Munique. Vem para o Brasil em 1858, por sugestão do naturalista Carl Friedrich Phillipp von Martius (1794 - 1868), acompanhado por seu irmão, o pintor e litógrafo Carlos Fleiuss, e pelo pintor e gravador Karl Linde (ca.1830 - 1873). Em 1860, no Rio de Janeiro, eles fundam uma oficina de artes denominada Instituto Artístico, com a proposta de realizar pinturas, aquarelas, daguerreótipos e fotografias. O Instituto Artístico, em 1863, passa a se chamar Imperial Instituto Artístico, em decorrência do título honorífico concedido pelo imperador Dom Pedro II (1825 - 1891). Com a aquisição de uma tipografia, começa a imprimir mapas e catálogos de exposição.
Os artistas iniciam em 1860 a publicação da Semana Ilustrada, que alcança em pouco tempo imensa popularidade. É o primeiro periódico ilustrado humorístico que tem uma existência duradoura no país, até fins de 1876, quando Fleiuss o substitui pela revista Ilustração Brasileira, veiculada até 1878. Quase todas as ilustrações são realizadas por ele, mas conta com a participação de outros artistas, como Flumen Junius (19-? - 1905) e Aurélio de Figueiredo (1854 - 1916) e, por algum tempo, com a de Angelo Agostini (1843 - 1910). Os textos são escritos por Castro Alves (1847 - 1871) e Quintino Bocaiúva (1836 - 1912), entre outros.
Vários personagens são criados por Fleiuss, como o Dr. Semana, a Negrinha e o Moleque. O Dr. Semana, um tipo atarracado, com a cabeça grande e quase sempre de lápis em riste, comenta os assuntos correntes. No frontispício da revista, há uma lanterna mágica onde se estampa a divisa: Ridendo castigat mores (Rindo castigam-se os costumes). Na Semana Ilustrada, de forma bem-humorada, encontra-se uma sátira à sociedade, à moda, a cenas domésticas e de rua, aos acontecimentos políticos e à administração da cidade. Durante a Guerra do Paraguai, são apresentados retratos dos heróis do combate e diversas ilustrações do conflito, realizadas mediante croquis remetidos do campo de combate por Von Hoonholtz, o barão de Tefé (1837 - 1931), e outros. O periódico posiciona-se a favor da abolição da escravidão, principalmente fazendo a divulgação da Lei do Ventre Livre, de 1871.
Fleiuss realiza diversas aquarelas de valor histórico e artístico, como o esboço do Encerramento da Assembléia Geral (1859) e um quadro em que mostra um amplo panorama do Rio de Janeiro. O artista destaca-se por sua importante atuação no desenvolvimento da sátira e da caricatura e no aperfeiçoamento das artes gráficas no país.
Críticas
"Ao contrário daqueles artistas, que seguiam invariavelmente a tradição da caricatura francesa, um que outro a italiana, Henrique Fleuiss se conservou sempre fiel ao frio rigorismo naturalista da caricatura germânica, do qual até mesmo os seus colaboradores, com exceção de Aurélio Figueiredo, não se afastavam também sensivelmente. Desde o início é de se acentuar, todavia, que ele se mostrava um excelente litógrafo, nos retratos a esfuminho, ao passo que desenhista menos seguro nos trabalhos a bico de pena, de que se enchem as páginas da revista. A fidelidade fisionômica de suas figuras força-as com freqüência a atitudes incongruentes, quando não simplesmente inaturais, pela falta justamente da plasticidade de seu traço. Os retratos dos líderes nacionais do tempo são fotográficos, formando-se um contraste chocante entre o corpo e a cabeças, em geral bem desenhadas, a ponto de ser facílimo identificar qualquer desses maiorais do nosso tabuleiro político. Daí uma inevitável monotonia, quando se perpassam esses milhares de charges, da mesma linha deficiente, do mesmo desenho restrito daquele insuportável desajustamento das cabeças e dos corpos, muita vez levados às mais absurdas atitudes, pela impossibildade do caricaturista em adapta-los devidamente aos retratos inertes".
Herman Lima
LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil II. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963. 743-759 p., il. p&b. color. p. 748-750.
"Henrique Fleuiss, se é de fato que praticou a pintura, deve em verdade ao seu trabalho de caricaturista o prestígio de que desfruta na História da Arte Brasileira, sendo mesmo considerado, por Herman Lima, o verdadeiro criador da imprensa humorística ilustrada no Brasil, graças a Semana Ilustrada, por ele fundada em 1860 e que viveria até 1876. A essa publicação seguir se-iam a curta tentativa da Ilustração Brasileira (1876-78), e a retomada da Nova Semana Ilustrada, em 1881, interrompida por sua morte.(...)Odorico Pires Pinto refere-se num ensaio publicado em 1949, à sua arte "germânica, naturalista e marcada pela escola expressionista", nisso, aliás, profundamente diferente, pelo espírito, da dos demais caricaturistas ativos no país, todos eles marcados pela arte francesa e italiana. Quanto a Semana Ilustrada, assim definiu seu filho, o ilustre historiador Max Fleuiss, sua importância em nossa vida cultural: - A Semana Ilustrada era todo o microcosmo carioca, admirável repositório das coisas de antanho. É, portanto, uma publicação sui generis, digna de ser religiosamente arquivada e folheada em nossos dias, com carinho, como os preciosos livros de Rugendas e Debret, por todos os estudiosos da arqueologia da cidade, da evolução dos nossos costumes, instituições, aspectos, figuras e indumentária, tão caracteristicamente nossos".
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. 555 p., il. p&b., color. p.197
Fonte: Itaú Cultural