Gilda Vogt Maia Rosa (Rio de Janeiro RJ 1953)
Pintora.
Freqüenta cursos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e estuda com Ivan Serpa (1923 - 1973), Anna Bella Geiger (1933) e Misabel Pedrosa (1927). Passa a residir em São Paulo, onde é aluna de Frederico Nasser (1945). Entre 1970 e 1973, cursa a Escola Brasil:. Recebe prêmios aquisição no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1965; no 4º Jovem Arte Contemporânea, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP, em 1970; e no Salão Paulista, da Pinacoteca do Estado, em 1976. Realiza individuais, entre outras, no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis, e no Centro Cultural São Paulo, em São Paulo, ambas em 2002. Participa de coletivas como O que Faz Você Agora Geração 60?, no MAC/USP, em 1991; e Estética do Fluido, no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, em 2003. Em suas pinturas utiliza freqüentemente a tinta acrílica diluída para obter efeitos de aquarela, como a diluição dos contornos. Suas obras apresentam principalmente cenas cotidianas, sendo predominante a presença da figura humana.
Comentário Crítico
Na opinião do artista Sérgio Romagnolo (1957), Gilda Vogt Maia Rosa mantém, em sua produção, conceitos relacionados à Escola Brasil:, que freqüenta no início dos anos 1970, como o limite entre a abstração e a figuração, as figuras transparentes e utilização de tintas diluídas, numa busca de representações fluidas.
Produz pinturas que apresentam o cotidiano de personagens anônimos e sofridos, como pescadores se preparando para o trabalho, ou crianças nadando em uma praia do Rio de Janeiro, com uma favela no plano de fundo. Utiliza gestos rápidos em uma fatura que se aproxima daquela obtida com a aquarela, e tintas diluídas, que por vezes escorrem pela tela. Emprega freqüentemente verde e azul, que parecem gerar uma luminosidade própria. Não utiliza as sombras nem o contraste tradicional do claro-escuro. Como nota ainda Romagnolo, seu gestualismo é contido e equilibrado.
O interesse pela figura humana e pelos desfavorecidos está presente em sua produção desde o início. Já em outras obras parte de fotografias de álbuns de família, evocando relações com cenários reconhecíveis ou de caráter onírico. Pela indefinição dos contornos das figuras, explora também questões ligadas à diluição da memória.
Críticas
"(...) Nos últimos 30 anos, a artista encontrou diversas questões ligadas à pintura que superou pela intransigência e certeza de que a meta fundamental de seu trabalho estava além dessa atividade. Pintar, em seu caso, significa a consciência estar altamente contaminada pelos sentimentos em relação a alguém com quem se lidou toda a vida, ou apenas por um breve momento de intensidade desproporcional à rotineira. É um percurso lento para que o olhar compreenda a integridade do que se vê sem alçar um vôo que desvie da essência do elemento retratado.
O ideal didático que impõe um papel de trampolim para um raciocínio mais abstrato, liberador e muitas vezes incompatível com uma arte que quer responder pelo universo cotidiano, está longe. Não há tampouco um programa para as formas e é incoerente pensá-las como resultado de uma postura intelectual, uma retomada nostálgica diante dos níveis de abstração na arte contemporânea.
As formas internas se sustentam na transparência e definição conflituosa de contornos ? algo que denota uma necessidade de reflexão da condição de sujeito no mundo das coisas. Em outros momentos, esses mesmos contornos se mesclam e se refazem por completo como que negando uma atitude figurativa. Se o resultado às vezes parece rarefeito é porque houve um integração ao fluxo da pintura, uma síntese radical, não uma absorção. A idéia de absorção já pressupõe um excesso, e o movimento dos quadros é uma ação profundamente subjetiva, mesmo que a maior parte das pinturas seja elaborada a partir de desenhos preliminares. Predomina o compromisso com a natureza sintética do retrato, com necessidade de condensar inúmeros atributos de conteúdo em um único momento. Mesmo que se admita que essa natureza pode trazer também a impossibilidade da razão de se fazê-la, que é um registro que se desvanece ao se auto-definir.
(...) Sua pintura criou um tempo próprio. Talvez nisso se explique o seu distanciamento opcional do circuito das artes e do que este pode exigir de um artista que não vê em seu trabalho qualquer traço institucional, qualquer justificativa ?convincente? para o fazer artístico. E ao contrário do que se prega, essa postura existe e não é necessariamente marginal, ingênua ou denunciatória. Dessa forma haveria um pacto com uma burocracia cósmica da arte, com o ditame de que estamos, mais do que nunca, por conta de variantes sociais, comportamentais, sexuais, étnicas que outrora irrelevantes, passaram a ser a mais sutil justificativa para se fazer arte: faça pintura, mas identifique-se primeiro! (...)"
Rafael Vogt Maia Rosa, 2000
ROSA, Rafael Vogt Maia. Um diálogo solitário. In: ROSA, Gilda Vogt Maia. Gilda Vogt Maia Rosa. São Paulo: Adriana Penteado Arte Contemporânea, 2000. p. [1].
"A pintura de Gilda Vogt Maia Rosa apresenta uma síntese das idéias contidas na arte que surgiu em São Paulo na década de setenta: A Escola Brasil. Os pontos principais contidos nas pinturas eram: pintura a partir de modelos vivos, o limite entre abstração e figuração, o gesto caligráfico, representação em tamanho natural, a sombra e o fantasma (figuras transparentes) como signo, as cores fortes e a tinta diluída em forma de nuvem ou fumaça. Estes sete pontos eram originais e naturais para este grupo e não mantinham nenhuma relação direta com outras idéias vindas de outros países na mesma época.
Este grupo vem mantendo vivo este pensamento de representar o fluido, o turvo e o enevoado na pintura e o transparente, o líquido e a leveza na escultura. É como se esta estética se contrapusesse ao conceito de opacidade pictórica de Clement Greenberg ou ao próprio concretismo dos anos 50, como se a pintura quisesse ser transparente e a escultura leve novamente. Há 30 anos tem se visto estes artistas proporem representações do impalpável, fazendo a arte tocar o intangível.
As imagens de Gilda se constroem a partir de figuras quase em tamanho natural, modelos vivos que se fixam à tela aos poucos de forma que as versões que surgem se sobrepõe, deixando entrever tempos diferentes da mesma ação. As cores se acumulam com um gestualismo calibrado e equacionado. As figuras se formam a partir de uma luz interna própria, não se vê o claro e escuro tradicionais.
O que se vê são fantasmas coloridos que andam pela tela em um mundo de nuvens, ou como o paraíso ou como um show de fumaça em um teatro. A luz não reflete em nada, tudo é fosco e as transparências agüentam só duas ou três camadas. Mas as formas opacas não são sólidas, são leitosas. Este é um mundo de imagens ao sabor do vento, a pintura existe apenas na calmaria do olhar da pintora que paralisa a cena.
Além dos retratos estas pinturas mostram alegorias que querem mais do que representar um barco ou um caranguejo, articular um pensamento que quer ultrapassar a imagem que está a mostra. O pescador olha o peixe mas vê ele mesmo, vê a sua família e vê os seus filhos. O fundo azul meio céu meio montanha, é também a sua casa, o seu teto e o seu chão".
Sergio Romagnolo, 2002
ROMAGNOLO, Sergio. A estética do fluido. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2002.
Acervos
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Coleção Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP - São Paulo SP
Exposições Individuais
2000 - São Paulo SP - Gilda Vogt Maia Rosa: pinturas, na Adriana Penteado Arte Contemporânea
2002 - Florianópolis SC - Gilda Vogt Maia Rosa: aquarelas, no Museu Victor Meirelles
2002 - São Paulo SP - Individual, no CCSP
Exposições Coletivas
1965 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes - prêmio aquisição
1970 - São Paulo SP - 4º Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP - prêmio aquisição
1976 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no Paço das Artes - prêmio aquisição
1979 - São Paulo SP - Desenho como Instrumento, na Cooperativa dos Artistas
1981 - São Paulo SP - Gilda Vogt Maia Rosa e Dudi Maia Rosa, na Livraria Universo
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1991 - São Paulo SP - O Que Faz Você Agora Geração 60?: jovem arte contemporânea dos anos 60 revisitada, no MAC/USP
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1999 - São Paulo SP - United Artists: viagens de identidades, na Casa das Rosas
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2002 - São Paulo SP - Ópera Aberta: celebração, na Casa das Rosas
2003 - São Paulo SP - Estética do Fluido, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Meus Amigos, no MAM/SP
Fonte: Itaú Cultural