Eli Heil (Palhoça SC 1929)
Pintora, desenhista, ceramista, escultora, tapeceira, poeta.
Nos anos 1950, Eli Malvina Diniz Heil atua como professora de educação física. Autodidata, inicia sua produção artística em 1962. Nessa época, desenha animais e pinta paisagens de morros com casas, utilizando camadas espessas de tinta e cores saturadas. Em 1963, realiza sua primeira mostra individual, em Florianópolis. Nesse ano, o crítico e historiador da arte João Evangelista de Andrade Filho (1931) publica um ensaio sobre a obra da artista e a expõe em Brasília. Ainda nos anos 1960, começa a desenvolver objetos tridimensionais - aplica bonecos de pano na superfície da tela e, em seguida, cria seres imaginários com materiais diversos como cerâmica, cimento, madeira, argamassa e plásticos derretidos. Expõe individualmente no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP, em 1966, a convite do historiador Walter Zanini (1925). Dois anos depois, passa a expor em países europeus. Participa da 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo, em 1978, e da seção de Arte Incomum da 16ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1981. O Museu de Arte de Santa Catarina - Masc realiza uma mostra retrospectiva de sua obra em 1982. A artista cria, em 1987, O Mundo Ovo de Eli Heil, na capital catarinense, onde monta seu ateliê e um espaço para exibição permanente de sua produção. Em 1994, é inaugurado oficialmente a Fundação O Mundo Ovo de Eli Heil. É autora do livro de poemas e desenhos Vomitando Sentimentos, 2000.
Comentário crítico
O conjunto da obra de Eli Heil chama atenção pela variedade de materiais e métodos empregados pela artista. Autodidata, inicia com o desenho e a pintura, mas logo passa a trabalhar com o espaço tridimensional, costurando bordados e formas estofadas sobre suas telas. Em seguida, constrói esculturas utilizando argila, cimento, argamassa, tecido, madeira, plástico derretido ou objetos industrializados reciclados. Nas obras modeladas de barro, destacam-se as superfícies carregadas de texturas e os volumes feitos com fragmentos de formas predominantemente curvas. As pinturas se caracterizam, sobretudo, pelo despojamento técnico e pelo uso não naturalista das cores. Em algumas séries, a grande quantidade de tinta confere às cores uma densidade material.
Eli Heil costuma se referir ao seu trabalho como uma criação espontânea que seria a transposição imediata de seus sentimentos sobre a matéria. Sua obra pode ser considerada no âmbito do que a história da arte denomina de arte primitiva ou ínsita (do latim insitus, inato): uma manifestação estética não erudita ligada a temas do imaginário popular.1 A espontaneidade constitui o vigor e o limite de seus trabalhos. Ao mesmo tempo que propicia articulações formais e simbólicas imprevisíveis, a atitude da artista se restringe ao conceito de arte como sinônimo de auto-expressão.
Suas primeiras produções fazem referência à paisagem urbana de Florianópolis, onde vive. Trata-se de pinturas mostrando morros com casas coloridas que parecem flutuar. Em seguida, a artista figura ícones cristãos e assuntos relacionados ao universo feminino, como o corpo da mulher e a maternidade. No entanto, a maior parte de suas obras apresenta seres híbridos compostos de formas humanas, animais e personagens mitológicos. Esses animais imaginários habitam espaços amorfos feitos com manchas e, muitas vezes, se fundem a eles.
Nota
1 AQUINO, Flávio de. Aspectos da pintura primitiva brasileira. Rio de Janeiro: Spala, 1978. p. 11.
Críticas
"(...) Não temos dúvida em considerá-la como a maior revelação de nossa arte de intuição primitiva destes últimos 20 anos. De um relance nos apercebemos de suas qualidades imagísticas. plásticas e técnicas, fortemente contrastantes com os aspectos de outros primitivos sejam do norte, da Guanabara ou de São Paulo. Ao contrário da mansuetude-espiritual, da temática descritiva, do realce das impressões regionalísticas daqueles, as obras de Eli Heil definem-se como visão 'expressionista-abstrata' (João Evangelista), de natureza cósmica, que dá magnitude ao seu pequeno mundo de morro e de currais. O tempo é uma função onipresente de seu espaço: ela o inscreve nesse universo feérico de cores ´fauves´ (aplicadas à tela por um pequeno estilete) e ele escorre no ritmo ondulatório do desenho de impressionante peculiaridade psicológica. Somos captados por essa atmosfera de despaisamento, sentimo-nos nos limites da alucinação. Uma organicidade lógica aferra, porém, todas essas imagens oscilantes que na evolução da artista partem sempre de sua vivência interior, razão de sua admirável autenticidade".
Walter Zanini
PINTURAS e desenhos de Eli Heil. Introdução de Walter Zanini. São Paulo: MAC/USP, 1966.
"Sendo todo o seu trabalho em arte uma forma de conjurar fortíssimas pressões mentais a que está submetida, observa-se nele a presença frequente de estruturas mandálicas e o recurso à animização do inanimado (o casario se transforma em gente, janelas-olhos nos fixando), além de uma característica fauna fantástica acompanhando esses rostos extremamente intensos em cor, espanto e tensão. É curioso observar ainda, na evolução do desenho e da pintura de Eli Heil, a obediência intuitiva ao rumo de superação do plano pelo espaço tridimensional, inclusive como meio de atenuar a violência alucinatória das figuras que ela diz ´saírem´ do papel ou da tela, envolvendo-a no ato de criar. Assim, após os primeiros trabalhos em superfície inteiramente bidimensional, as pinturas vieram adquirindo relevo no manejo de sulcos na tinta, até chegar ao acréscimo mais recente de bonecos de enchimento aplicados sobre o plano trabalhado da tela; nesse caminho, suas peças mais elaboradas são as tapeçarias-objetos atuais, onde continua preservando a deformação ingênuo-expressionista nas máscaras de alucinação violentamente coloridas, como registro direto do inconsciente fluindo".
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.
Exposições Individuais
1962 - Florianópolis SC - Individual, na Galeria Baú
1963 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos - Ibeu
1963 - Brasília DF - Individual, na Aliança Francesa
1964 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Ibeu
1964 - Florianópolis SC - Individual, na Universidade Federal de Santa Catarina. Faculdade de Direito
1966 - Florianópolis SC - Individual, no Museu de Arte de Santa Catarina - Masc
1966 - São Paulo SP - Individual, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP
1967 - Paris (França) - Individual, na Galeria Solstice
1967 - Florianópolis SC - Individual, na Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas
1968 - Ibiza (Espanha) - Individual, na Galeria Ivan Spence
1968 - Paris (França) - Individual, na Galeria M. Benezite
1968 - Porto Alegre RS - Individual, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli - Margs
1969 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Galeria Espace
1969 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1971 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1971 - Paris (França) - Individual, na Galeria Solstice
1971 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Barcinski
1971 - Amsterdã (Holanda) - Individual, na Galeria Espace
1971 - Blumenau SC - Individual, na Galeria Açu-Açu
1973 - Copenhagen (Dinamarca) - Individual, no Museu Lousiana
1973 - Oslo (Noruega) - Individual, no Museu Sorya Henis Onstad
1973 - Paris (França) - Individual, na Galeria Debret
1973 - Paris (França) - Individual, na Galeria L'Oeil de Boeuf
1973 - Paris (França) - Individual, na Galeria M. Benezite
1974 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1974 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Oca
1977 - Paris (França) - Individual, na Galeria L'Oeil de Boeuf
1978 - Paris (França) - Individual, na Galeria L'Oeil de Boeuf
1982 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1984 - Florianópolis SC - Retrospectiva Eli Heil, no Masc
1984 - Paris (França) - Individual, na Galeria L'Oeil de Boeuf
1986 - Brasília DF - Retrospectiva, no Museu de Arte de Brasília
1986 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1989 - Paris (França) - Individual, na Galeria L'Oeil de Boeuf
1990 - Florianópolis SC - Individual, no Masc
1992 - Florianópolis SC - 30 anos de Arte, no Associação Catarinense dos Artistas Plásticos - Acap
1993 - Florianópolis SC - Individual, no Espaço Cultural da Aabb
1995 - Florianópolis SC - 66 Anos de Vida, no Banco do Desenvolvimento de Santa Catarina - Badesc
Exposições Coletivas
1965 - Blumenau SC - 1º Salão Pró Arte Nova - 1º prêmio de referência especial
1967 - Brasília DF - 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, no Teatro Nacional Cláudio Santoro
1968 - Campo Grande MS - 28 Artistas do Acervo do MAC/USP de São Paulo, na Galeria do Diário da Serra
1968 - Florianópolis SC - 1ª Exposição Nacional de Artes Plásticas, no Masc
1968 - Caen (França) - Coletiva, no Théâtre Maison la Culture de Caen
1969 - Fortaleza CE - 28 Artistas do Acervo do MAC/USP de São Paulo, no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela
1969 - Genebra (Suíça) - Salão Beauregard
1969 - Florianópolis SC - Salão de Arte da Rádio Diário da Manhã
1970 - São Paulo SP - Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 - Blumenau SC - Salão Catarinense
1971 - Curitiba PR - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná
1971 - Florianópolis SC - 12 Artistas Catarinenses, no Museu de Arte de Santa Catarina
1971 - Belo Horizonte MG - 11º Salão Nacional de Artes Plásticas
1971 - Blumenau SC - 2ª Coletiva de Artes Plástica Barriga-Verde
1971 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, no Museu de Arte Moderna - MAM/RJ
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
1972 - Bratislava (Tchecoslováquia - atual Eslováquia) - Trienal de Bratislava
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1972 - Blumenau SC - 3ª Coletiva de Artes Plástica Barriga-Verde
1973 - Paris (França) - Coletiva, na Galeria Debret
1975 - Rio de Janeiro RJ - Instituto e Criatividade Popular, no Mnba
1974 - Curitiba PR - Coletiva de Artistas Plásticos Catarinense, na Galeria do Centro Cultural Brasil Estados Unidos - Ccbeu
1976 - São Paulo SP - 8º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1978 - São Paulo SP - 1ª Bienal Latino-Americana de São Paulo. Mitos e Magia na Arte Catarinense: Eli Heil e Franklin Cascaes, na Fundação Bienal
1980 - Florianópolis SC - Quatro Damas da Arte Catarinense, no Masc
1981 - Curitiba PR - 3ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Teatro Guaíra
1981 - Nápoles (Itália) - Mito e Magia Del Colore
1981 - São Paulo SP - 16ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1984 - São Paulo SP - Arte de Santa Catarina, na Faap
1990 - Aracaju SE - Arte em Contraste, no Shopping Riomar
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: 100 Anos de Arte Moderna, no Mnba
1993 - Florianópolis SC - Família Heil, na Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina - Alesc
2000 - Miramas (França) - Collection Cérès Franco - Peintures, Sculptures, Sculptures Objects, no Miramas Château de Belval
2000 - Florianópolis SC - Salão Nacional Victor Meirelles - sala especial
Fonte: Itaú Cultural