Dante Dado De Giácomi (Brescia, 1930)
Brescia, cidade da Lombardia aos pés da Maddalena, montanha que pertence ao pré Alpe Italiano, vê nascer Dante de Giácomi.
Até os 3 anos de idade, no jardim de infância, só desenhava casinhas, montanhas e árvores, até que um dia, como por encanto e para o espanto da sua professora, de suas mãos, brotam um anjo que cai. Anos mais tarde, de volta a Itália, Dado (como é chamado pelos amigos) visita sua antiga escola e revê seu desenho guardado pela sua ex-professora, agora madre superiora da instituição.
Tem uma infância saudável, tropeçando em monumentos romanos, renascentistas e barrocos mas, o que chama a atenção é a "Vittória Alata", estátua de bronze de uma mulher, segurando entre as mãos um espelho, "Provavelmente, para perpetuar sua beleza", diz Dado. Aos 5 anos já fazia bonecos de argila. Nada tirou de Dado a vontade de viver para a arte. Desde muito cedo costumava visitar seu tio avô (mestre Giuseppe Mastrocchio) escultor de renome, conhecido por criar diversos monumentos e pela beleza de seus anjos. Com ele aprendera a arte de manipular o barro; os segredos do bronze; a magia das esculturas e a arte clássica barroco-lombarda.
Segunda Guerra Mundial - Brescia torna-se um entreposto nazista e sofre 88 com bombardeios aéreos. Das memórias nasce "Bomba e la Farfalla", livro que escreve com seu cunhado das tristes lembranças, e dos tristes dias de ocupação de sua cidade. Curiosamente, este período não influenciou o futuro de suas obras.
Terminada a guerra, a Itália sofreu o antes, o durante, e agora o depois. Aos poucos e da maneira possível, a vida ia entrando nos eixos. Dado estuda e continua a frequentar o atelier de seu tio Mastrocchio; o barro fascina, dele viemos e o sopro do artista lhe dá a vida.
Mal sabia Dado que o seu futuro estava sendo traçado por sua mãe. Nos planos estudar farmácia. Com os estudos ajudaria o irmão de seu pai, próspero comerciante de distribuição de sais farmacêuticos à toda região. Mesmo a contra gosto, ingressa na Universidade de Parma e depois em Bologna, onde anos mais tarde, forma-se farmacêutico. Nada porém, o faz abandonar a arte. Ao mesmo tempo, no período da noite estuda no Liceu de Artes.
Foi então em uma noite fria, cansado de fazer cópias de outras obras, nasce seu estilo. Ao fazer um busto, seu mestre grita: "Pare!... não mexa mais. Este é o estilo de Dante Dado de Giácomi !" A beleza da forma alongada, talvez venha dos genes etruscos, a perfeição das mãos e dos pés, talvez de Michelângelo, mas a poesia dos movimentos vem de sua alma.
Novamente o destino dá as cartas. Morre seu tio e tutor, levando consigo a última possibilidade de fazer de Dado um farmacêutico. Mesmo assim, ele termina a faculdade e sem possibilidade de emprego, numa Itália difícil, tem que mudar os planos de sua mãe e o seu.
A única chance é a imigração, como muitos de seus antecedentes "tentar fazer a américa". A primeira tentação é ir para a Venezuela, onde alguns conhecidos já estavam estabelecidos. Andando e pensando, da de encontro com uma exposição de desenhos de Oscar Niemeyer, para a construção de Brasilia, na estação de trem de Milão. Apaixona-se e somando às imagens do filme "O Cangaceiro", muda de idéia e ruma para o Brasil em 1957.
Chegando aquí, tenta trabalhar em um laboratório farmacêutico. Quando se dá conta da liberdade que tem e o que conquistara ao imigrar sozinho a outro continente, demite-se. Dado quer mesmo ser escultor, frequenta o atelier de Gian Domenico De Marchis e Maximo Rossi, e depois abre seu próprio atelier. Para sobreviver faz azulejos decorados dos quais foi um dos precursores aqui no Brasil. Trabalhou também com cerâmica decorativa, e cobre esmaltado, produzindo painéis exclusivos.
Aos poucos, o barro, a terracota e o bronze vão tomando mais e mais o seu tempo, tornando os ladrilhos uma lembrança remota. A arte faz por completo a essência de sua vida, como sempre quis.
Dado busca inspirações no cotidiano, nas memórias, nas lembranças, nas paixões, na sua alma. Faz do seu trabalho um eterno prazer, com isto torna-se um artista introspectivo que pouco aparece. Porém, quem conhece seu trabalho jamais esquece. Nenhuma de suas obras é estática; é justamente o movimento que faz de Dado a diferença entre muitos escultores... além de ser impossível imaginar suas estátuas sem vida.
Fonte: Site do artista.