Cássio M'Boy (Mineiros do Tietê SP 1903 - São Paulo SP 1986)
Pintor, escultor, decorador, designer, figurinista e vitralista.
Inicia os estudos nas aulas de desenho e anatomia do pintor alemão Georg Elpons (1865-1939) em São Paulo. No Rio de Janeiro, assiste às aulas da Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Durante a década de 1920, toma contato com o grupo dos modernistas paulistas e produz estampas para tecidos, design de móveis e decoração. Na mesma época, vive no Embu, São Paulo, onde esculpe imagens de santos. Em 1934, participa do 1º Salão Paulista de Belas Artes, na categoria artes aplicadas. Três anos depois, é premiado na Exposição Internacional de Artes e Técnicas de Paris com a escultura Fuga para o Egito. Em 1938, apresenta trabalhos no Salão de Maio. Nesse período atua como decorador. Realiza sua primeira individual em 1950 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Em 1950, participa do Salão de Tóquio, Japão, e, em 1952, integra a comitiva brasileira à 26ª Bienal de Veneza. Realiza duas outras individuais em 1961 e 1970, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e no Paço das Artes, em São Paulo, respectivamente. Após sua morte, os tapetes por ele desenhados na década de 1930 integram as mostras: Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP, em 1998, e no MAM/RJ em 1999; e O ArtDeco Brasileiro: coleção Fulvia e Adolpho Leirner, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp), em 2008.
Comentário crítico
O trabalho de decoração de Cássio M'Boy, criando desenhos para mobiliário, tapeçaria e pequenas esculturas, orienta sobretudo pelo estilo art déco. Nos tapetes abstrato-geométricos da década de 1930, a composição se dá pela justaposição, em sentidos diversos, de semi-círculos e retângulos cujas cores geram sensação de volume e profundidade. Nas pequenas esculturas, como em Figura, déc.1930, uma linha contínua e alongada, elegante, define um corpo que se curva para amarrar uma pena ao tornozelo.
Na mesma época, trabalha com temas religiosos, esculpindo imagens de santos passando então, em pouco tempo, a dedicar-se integralmente à pintura de temas populares e religiosos. Aparentemente, M'Boy separa as soluções formais, empregadas nas "artes aplicadas", dos procedimentos plásticos que organizam o restante de sua produção artística. A lógica compositiva desses trabalhos aproxima-se da chamada pintura "ingênua" ou "primitiva", apesar do artista possuir instrução formal e buscar deliberadamente esse tipo de solução plástica. Nessa produção, a imagem torna-se menos ilusionista.
M'Boy é conhecido principalmente por essa fase de sua obra, compreendido como um pintor de temas folclóricos, a ponto de Mário de Andrade (1893-1945) afirmar que M'Boy seria a incorporação do próprio folclore. Segundo o critico José Geraldo Vieira, essa interpretação se deve, sobretudo, ao "ambiente doméstico bem caipira" e aos "processos toscos" e "temas singelos" de que faz uso1.
Notas
1 PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969, p.351.
Críticas
"Insiste-se ainda em incluir Cássio M´Boy entre os pintores ingênuos ou primitivos. Tal lenda decorre mais do seu ambiente doméstico bem caipira e dos processos toscos que usa em temas singelos do que da sua arte propriamente individual (...). A verdade é que Cássio M´Boy se firmou como pintor de assuntos hagiológicos e folclóricos, dos quais nunca se afastou em seu atelier de hibernação bucólica. Inicialmente desenhista de figurinos e escultor de tarimba artesanal, não demorou a adquirir virtuosismo quanto a linhas, formas, volumes, cores e composição. Mas as cenas, as figuras humanas bem como os episódios, complementarmente os bichos, as flores, os montes, as estradas, as cachoeiras; tudo é desenhado e colorido mediante mentalidade populista e singela".
José Geraldo Vieira
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
Exposições Individuais
1950 - São Paulo SP - Primeira individual, no Masp
1958 - São Paulo SP - Individual, na Galeria da Folha de S. Paulo
1960 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luiz
1961 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no MAM/RJ
1970 - São Paulo SP - Individual, no Paço das Artes
1985 - São Paulo SP - A Pintura Caipira de Cássio M'Boy, na Galeria Encontro das Artes
Exposições Coletivas
1934 - São Paulo SP - Participa, com duas Esculturas e um Painel em feltro, da Exposição de Flávio de Carvalho fechada pela polícia
1934 - São Paulo SP - 1º Salão Paulista de Belas Artes, na Rua 11 de Agosto
1937 - Paris (França) - Exposição Internacional de Artes e Técnicas de Paris - medalha de ouro
1938 - São Paulo SP - Salão de Maio
1952 - Veneza (Itália) - 26ª Bienal de Veneza
ca.1952 - Tóquio (Japão) - Mostra Internacional de Pintura
1960 - São Paulo SP - Coleção Leirner, na Galeria de Arte das Folhas
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ
1985 - São Paulo SP - A Arte do Imaginário, na Galeria Encontro das Artes
Exposições Póstumas
1996 - Osasco SP - Expo FIEO: doação Luiz Ernesto Kawall, no Centro Universitário Fieo
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
2002 - São Paulo SP - Pop Brasil: a arte popular e o popular na arte, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Santa Ingenuidade, na Unifieo
Fonte: Itaú Cultural