Carlos Antônio Mancuso
O Mestre da História da Arte - Criar é dar sentido à vida
Carlos Mancuso nasceu em Porto Alegre em 1930. Muito jovem, iniciou sua formação artística sendo aluno do professor José de Francesco. Aos 14 anos descobriu a aquarela com João Faria Viana e nunca mais abandonou os pincéis. Em entrevista concedida na década de 90, justificou sua preferência pela técnica: &ldquo senti na aquarela a alegria da espontaneidade, a leveza da linguagem, a rapidez da execução , ela se liga muito ao meu temperamento, com essa possibilidade de transparência, de luminosidade&rdquo. 
Ainda adolescente, conquistou, como prêmio em um concurso escolar, uma bolsa no Instituto de Artes que, na década de 40, além das artes plásticas, abrigava o curso de arquitetura. Foi lá que começou a &ldquonamorar a arquitetura&rdquo e decidiu tornar-se arquiteto, graduando-se em 1956. A partir de então, seus desenhos de prédios antigos da cidade, seus projetos e plantas jamais dispensaram a aquarela.
Ao longo de sua trajetória nas artes, Mancuso obteve inúmeros prêmios. Em 1947, no V Salão Infantil de Desenho, recebeu o Grande Prêmio Fortunato Pimentel. Na década de 50, como integrante do Clube de Gravura, dividiu com Scliar, Danúbio, Bianchetti, Vasco Prado e Glauco Rodrigues o Prêmio Pablo Picasso da Paz, pelo álbum &ldquoGravuras Gaúchas&rdquo. Raramente participava de exposições coletivas e, por opção, realizava individuais esporádicas. Em sua primeira mostra individual, aos 19 anos, teve como comprador o escritor Érico Veríssimo.
Mancuso ingressou como professor na UFRGS em 1957, assumindo o cargo de assistente do prof. Ângelo Guido, na disciplina de História da Arte e Estética. No ano seguinte, fez viagem de estudos à Europa e, logo depois, excursionou pelo interior do Brasil com alunos da Faculdade de Arquitetura. Ministrou cursos e palestras sobre arte e cultura e sobre história da Arte. Publicou obras e artigos em jornais e realizou pesquisa sobre temas como: a pintura brasileira do séc. XVI ao séc. XX o processo de urbanização e evolução arquitetônica do RS e a evolução iconográfica da cidade de Porto Alegre.
Em 1969 partiu para Portugal, como bolsista da fundação Calouste Gulbenkian, onde se aprofundou no estudo do Barroco, tema de seu livro, &ldquoAspectos do Barroco&rdquo, publicado pela editora Sulina em 1972. Nas décadas de 70 e 80, seu nome esteve ligado à chefia da equipe que restaurou o Theatro São Pedro. 
Mancuso trabalhou também na restauração do Solar dos Câmara, na década de 90. Como artista plástico, era conhecido por suas minuciosas aquarelas, sobretudo paisagens e naturezas-mortas. Aposentado de sua carreira universitária, Mancuso continuou residindo em Porto Alegre e registrando em suas aquarelas a paisagem urbana da capital.
Texto
Soube hoje, 16 de fevereiro de 2010, que meu mestre, Carlos Antônio Mancuso, faleceu em 2 de outubro de 2009, de infarto, sendo velado e sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre. Não poderia deixar de lhe prestar uma última homenagem.
Tenho certeza que a maioria de nós, seus ex-alunos do Instituto de Artes da UFRGS, não sabe que ele se foi. Éramos alunos vindos de todos os cantos do estado, sabe-se lá onde todos estão. Nunca mais nos encontramos nos últimos 40 anos.
Mancuso, como o chamávamos, acompanhou todo o meu curso de Professorado de Desenho, de Arte Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entre 1966 e 1969 quando me formei. Lecionou História da Arte Universal por 3 anos, História da Arte Brasileira e Estética por 1 ano. Foi nosso Paraninfo na Formatura e nosso lema foi ele que nos deu: &ldquoCriar é dar sentido à vida&rdquo.
Mancuso foi um professor muito moderno e disciplinador. As suas aulas são inesquecíveis tanto quanto ele. Lembro que não queríamos perder nenhuma de sua orientações e foram suas aulas as primeiras que gravamos, numa época em que ter um gravador era coisa de rico. Uma de minhas colegas, porto-alegrense, de família abastada, tinha um gravador. Então ficávamos ouvindo, perguntando e fazendo anotações, enquanto o gravador salvava as aulas inteiras. Uma por semana, do nosso grupo, levava o gravador para casa e transcrevia, a mão, toda a fita. Repassávamos umas para as outras manuscritas mesmo, ou via Xerox, que já estava entrando no mercado. Assim, tínhamos os conteúdos completos. Acho que ainda tenho estes cadernos em casa.
Nós o amávamos e todos os dias que tínhamos aulas com ele, ele nos acompanhava nos intervalos, para o barzinho da escola, no 8º andar e lá, muitas vezes, em meio ao cafezinho, ele nos dava outra aula de amor ao belo, jamais aprendidas daquela maneira informal. Era alegre e comunicativo e com um sorriso fantástico, contagiante. Na realidade, éramos todas, apaixonadas por ele.
Todas as exposições significativas para nosso curso ele animava que fossemos e até acompanhava para nos fazer ver a arte de perto, com olhar comprometido. Era um companheirão, como diria Ziraldo.
Quando casei, em 1971, ele veio ao meu casamento e deve ter feito isto com a grande maioria de seus alunos. Era impossível a gente não pensar nele naqueles tempos. Mas o tempo é imprevisível e todos tomamos rumos que nem imaginávamos naqueles tempos de anos dourados. 
Nos vimos muitas vezes depois da formatura pois ele vinha muito a Gramado. Mas em determinado momento, a gente não conversou mais.
Tenho certeza que a maioria de nós não sabe que ele se foi. Éramos alunos vindos de todos os cantos do estado, sabe-se lá onde todos estão. Nunca mais nos encontramos nos últimos 40 anos.
Em 1996 fiz contato com o Professor Mancuso para um aconselhamento sobre a preservação e restauração da Casa Seidl, em Gramado. Seu parecer, nesta época, foi de grande valia para que aquele bem especial de nossa arquitetura histórica se mantivesse íntegra. (anos depois seria deformada e definitivamente maculada em sua essência de tombamento histórico). 
Carlos Mancuso era uma importante referência na preservação do patrimônio cultural e lembro que ele ficou dos mais felizes em ver que eu havia seguido por este caminho em minhas opções de trabalho em prol da arte.
E agora, o que dizer para desculpar-me diante de sua partida sem nosso adeus? 
O que posso dizer é que seus ensinamentos e seus convívios não foram esquecidos. 
Bastou ouvir seu nome para que aquela gavetinha se abrisse e tudo voltasse a ser presente, mesmo sendo passado. 
Dizer que seu legado, deixado em cada aluno seu do Belas Artes e da Faculdade de Arquitetura, não pereceram, não desapareceram. Seu legado está dentro de nós, nos desenhos de nossas letras, nos olhares à natureza, na análise de uma obra arquitetônica, na paisagem urbana, num conceito de cor e forma, na ética e na estética de nossas vidas, numa viagem de turismo para um dos lugares já apresentados por ele, 40 anos atrás. 
Guardamos a imagem daquele jovem professor mais maduro que nós, sorridente, que nos transmitiu segurança e confiança no futuro dos que amam a arte e o belo. Que ele não foi esquecido.
Obrigada, Professor Mancuso.
Fontes: Portal do Margs, Site da Zero Hora