Boris Kossoy (São Paulo SP 1941)
Historiador da fotografia, professor, fotógrafo, museólogo, arquiteto.
Conclui o curso de arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em 1965. Dedica-se desde jovem à fotografia. Em 1968, funda o Estúdio Ampliart, e atua nas áreas de jornalismo, publicidade e retratos, paralelamente a uma carreira autoral. Publica em 1971, pela editora Kosmos, a série Viagem pelo Fantástico, com seus trabalhos fotográficos. Torna-se doutor em história e iconografia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP, em 1979. Entre 1980 e 1983, dirige o Museu da Imagem do Som de São Paulo - MIS/SP. Lança em 1980, pela editora Duas Cidades, o livro Hércules Florence, 1833: A Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil, que tem repercussão internacional. Desde 1991, é membro do Conselho Consultivo da Coleção Pirelli-Masp de Fotografia. Assume a diretoria do Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura - Idart/SMC de 1995 a 1997. Em 2000, presta concurso para livre-docência na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP e, em 2002, para o cargo de professor-titular. Como historiador, investiga a história da fotografia no Brasil e na América Latina e o emprego da iconografia como fonte de pesquisas nas ciências humanas e sociais aplicadas.
Comentário Crítico
Boris Kossoy destaca-se, sobretudo, pelos trabalhos que desenvolve sobre a teoria e a história da fotografia. Sua atuação como historiador é inovadora, no sentido de tornar a história da fotografia brasileira um campo de estudo sistemático, complementando ações isoladas, a exemplo de Gilberto Ferrez (1908 - 2000), que, em 1946, realiza estudos inaugurais no Brasil.
Na década de 1970, Kossoy estuda as invenções fotográficas independentes de Hercule Florence (1804 - 1879), realizadas em 1833, portanto, anteriores à notícia, de 1839, da descoberta de Louis Jacques Mandé Daguerre (1789 - 1851), reconhecido como inventor da fotografia. Esse estudo torna-se, então, um importante ponto de partida para a compreensão da história da fotografia brasileira.
Do mesmo modo, suas pesquisas sobre o caráter documental da imagem fotográfica são de grande relevância para a constituição de uma disciplina. Kossoy apresenta diferentes metodologias de abordagens para o entendimento, por exemplo, da fotografia como fonte histórica.
A preocupação como teórico expande-se a trabalhos desempenhados quando diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS/SP e do Departamento de Informação e Documentação Artísticas - Idart, em São Paulo. Suas ações estão centradas na valorização do tratamento dispensado a documentos fotográficos e na forma como são utilizados em trabalhos históricos.
Entre os trabalhos fotográficos de Boris Kossoy, destaca-se a série Viagem pelo Fantástico, de 1971. As imagens em preto-e-branco revelam diferentes personagens que se apresentam de forma fantástica, como a noiva sentada segurando o buquê em uma estação de trem vazia. Um anúncio publicitário fixado na parede tem a palavra Jundiaí, cidade do interior de São Paulo. Essa é a única pista dada pelo fotógrafo. Nessa série, Kossoy busca situações solitárias e angustiantes que remontam a cenas cinematográficas.
Acervos
Bibliothèque Nationale - Paris (França)
Conselho Mexicano de Fotografia - Cidade do México (México)
George Eastman House International Museum of Photography and Film - Rochester (Estados Unidos)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp - São Paulo SP
Museum of Modern Art - MoMA - Nova York (Estados Unidos)
Smithsonian Institution - Washington D.C. (Estados Unidos)
The Metropolitan Museum of Art - Met - Nova York (Estados Unidos)
Críticas
"Não se vale da escrita, ou de um quanto-basta de palavras para que o leitor entenda e não confunda uma sinalização esquelética de caminhos. É um estado de espírito particular em busca de inquietações, de porções de fantástico, de realidades mágicas, a não confundir com aquelas fugas no abstrato, um tempo tão em moda. Tons de realidade, de materialismo que a natureza e o homem combinam para o poeta colher à sua vontade e talento.
Viagem fantástica de personagens humanos e fabricados à procura da paz que não encontram, submetidos a circunstâncias incongruentes e excepcionais. Casos do externo proibido a todos pela concordância com determinada lei do bom costume, casos dos esconderijos em que o homem maltrata a rotina praxe de todos e dele mesmo, quando opera no conjunto para afirmar na solidão, verdadeiramente, liberdades para ele não esquisitas: íntimas, até passagens momentâneas ou permanentes de esquizofrenia.
(...) Kossoy escolhe símbolos inéditos ainda não divulgados. O próprio vedor pode descobri-los a seu modo, talvez identificando pensamentos, contrições, aspirações, maluquices e tudo o que entra e sai das cabeças".
Pietro Maria Bardi
Viagem pelo Fantástico, Boris Kossoy, Livraria Kosmos Editora, 1971
"Boris Kossoy-homem, BK-fotógrafo: ambos se fundem a fim de conseguir transmitir, nas imagens, a ambigüidade fundamental que constitui seu ser. E Boris Kossoy consegue. A ambigüidade, a ambivalência, se infiltra e permanece nas cenas, nas imagens, deixando entrever a possibilidade do possível. É o ´seu olho´ que vê por detrás da câmara, e a câmara - apenas um mediador na captação do real-possível - dominada inteiramente pelo olho. O acreditar no inacreditável não é uma necessidade; faz parte do seu ser, do seu cotidiano, talvez desde que sentiu em si os conflitos gerados pela vida: inexplicável e ambígua.
(...) Ele próprio afirmou: ´(...) Acredito que fotografando o ego se vê a alma - uma espécie de radiografia do subconsciente e dos sonhos, sonhos, todavia, de coisas bem expressivas - nada de abstração: fantasmas que têm braços, mãos e pernas, escondidos, ameaçadores, por detrás de uma paisagem de concreto, ou não, da cidade grande´. (...) Tudo muito insólito e ao mesmo tempo muito cotidiano. . . Suas fotos não trazem, dessa forma, a paz do ´eterno´, a estabilidade do ´definitivo´.
(...) Suas fotos são, em síntese, a instauração do ambíguo, do indefinido e do indefinível, do que tentamos explicar e é inexplicável. Suas fotos são um ´jogo´, como nos diz Caillois, ´um jogo com o medo, um jogo com o horror, e um jogo até mesmo com o repugnante´".
Alice Kyoko Miyashiro
Revista IrisFoto Cine Som, julho, 1974, nº 266.
"Kossoy é um observador atento da realidade - que transforma, segundo a ação de René Magritte, o mestre que o inspirou indelevelmente, em imagens trágicas dominadas pelo terror das condições mais degradantes que o homem impõe a si e aos outros".
Vasco Granja
Revista IrisFoto Cine Som, julho 1974, nº 266.
"O surrealismo fantástico de Boris parte de objetos cotidianos, reais e corriqueiros, casas, camas, manequins, homens, mulheres, ambientes, tudo conhecido do dia-a-dia, visto e classificado".
Georges Racz
Revista IrisFoto Cine Som, julho, 1974, nº 266.
Exposições Individuais
1967 - São Paulo SP - Individual de desenho, na Galeria Artécnica
1971 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Universidade de Nova York
1973 - São Paulo SP - Individual, no Masp
1998 - Curitiba PR - Mundos Paralelos, na Bienal de Fotografia de Curitiba
Exposições Coletivas
1971 - São Paulo SP - Fotógrafos de São Paulo, no MAC/USP
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1996 - São Paulo SP - 6ª Coleção Pirelli/Masp de Fotografias, no Masp
2004 - São Paulo SP - São Paulo 450 Anos: a imagem e a memória da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, no Centro Cultural Fiesp
Fonte: Itaú Cultural