Bárbara Xumaia (Berlim, Alemanha - 1936)
Bárbara Elizabeth Schulmayr Guzzi
Há muitas maneiras de conhecer o Brasil. É possível viajar pelas suas praias, cidades e igrejas, descobrindo novas visões em cada visita. Outra possibilidade é a leitura de livros clássicos sobre a cultura nacional de romancistas, historiadores e sociólogos. Mas existe ainda uma terceira via, que não exclui as anteriores, e revela muitos segredos: a arte naïf de Barbara Xumaia.
Embora nascida em Berlim, em 7 de julho de 1936, Barbara Xumaia (Schulmayr) tem uma maneira toda própria de entender o Brasil, para onde veio com seus pais, em 1955. Interessada por arte, ela realizou aulas da técnica de batik com o artista Toyota em meados da década de 1960, mas seu talento para pintar se desenvolveu no contato com as crianças.
Barbara lecionou, de 1960 a 1980, no Jardim Escola São Paulo, instituição que adota o método Montessori, que se caracteriza pela liberdade dada às crianças para que desenvolvam as suas potencialidades. Com a artista, ocorreu o mesmo, pois ela foi, gradualmente, apresentando, em seus trabalhos, uma forma própria de ver o País.
Seus motivos brasileiros, permeados de festas já foram apresentados em exposições individuais na África do Sul, EUA, Alemanha e Japão, além de numerosas coletivas no Brasil e no exterior, caracterizadas pela apresentação de um Brasil repleto de alegria e cores intensas.
A partir dos anos 1990, quando as litogravuras saíram de moda, Barbara, hoje radicada no Guarujá, no litoral paulista, começou a ter mais dificuldade para comercializar a sua obra, vivendo hoje da produção caseira de porta-copos, jogos americanos, bandejas, bolsas e chapéus, tudo com reproduções de seus trabalhos.
Uma das marcas registradas do trabalho de Barbara é o intenso azul do céu que coloca em suas obras, assim como um pontilhismo muito particular presente nos telhados das dezenas de casas que coloca em suas pinturas. Essas imagens geralmente são acompanhadas de um sol intenso, em cores quentes, que estabelece um clima alegre, revelando um Brasil cada vez mais difícil de encontrar no mundo real.
Seja em telas nas quais enfoca o samba, a Igreja do Bonfim, na Bahia, festas juninas ou colheitas, nas quais cada pincelada branca equivale ao produto de um algodoeiro, Barbara revela um estilo naïf bem pronunciado, observável nas desproporções entre os diversos elementos do quadro e numa perspectiva muito peculiar, gerada mais em função da obediência a princípios próprios de bom gosto estético do que a regras acadêmicas pré-estabelecidas.
Uma tela como A lagoa azul revela bem essa desproporção, com a presença de patos quase do tamanho de crianças. Em Os namorados, por sua vez, borboletas e beija-flores também surgem com um tamanho imenso, ganhando destaque numa obra que apresenta uma antológica árvore, trabalhada com primor, repleta de vigor.
Caminho para o litoral consegue, ainda nessa mesma linha estilística de composição de imagens fiéis a si mesmas em sua coerência interna, a expressão de dois mundos com igual expressividade: o dos carros descendo a Serra do Mar para o litoral paulista e os barcos sobre as plácidas águas do mar.
Barbara Xumaia ama o detalhe e isso oferece um elemento diferenciador às suas telas. Isso se torna bem visível no retrato que ela faz do bairro paulistano do Itaim Bibi, onde residiu. Diversas lojas são identificadas como elementos que integram um cotidiano que a artista conhece bem e do qual consegue captar a atmosfera.
Algo semelhante ocorre na tela Natal. O célebre presépio é apresentado em uma versão caipira,com José de chapéu de palha e margaridas e girassóis compondo o ambiente bem brasileiro de um momento de união entre o nascimento do menino Jesus e a natureza em pleno esplendor.
As telas geralmente repletas de imagens de Barbara Xumaia são uma festa para os olhos. Os balões e estrelas sobre o azul do céu são os traços de uma artista que trabalha cada elemento como a parte plena de um todo, atingindo densas imagens em jogos cromáticos que beiram o expressionismo.
O resultado é a criação de um universo mágico, que parte de situações cotidianas, seja no universo rural ou no urbano, e as transforma pictoricamente num universo de cores intensas e belas e poéticas imagens de um Brasil que quase não existe mais, mas que sobrevive nas mãos de artistas como Barbara, capaz de ver melhor, pois utiliza os olhos da sensibilidade e da intuição.
Fonte: Oscar D'Ambrosio - crítico de arte