Arthur Nísio (Curitiba PR 1906 - idem 1974)
Pintor, desenhista, gravador e professor.
As histórias de alguns artistas estão bastante ligadas às suas terras de origens, que ficamos sem saber ao certo o que é mais importante, o lugar que deu origem à obra, ou a obra que eternizou o lugar. Parece que por uma questão ética, ou de ideal mesmo, é impossível desvencilhar algumas associações artistas/lugares. Arthur Nísio e o Paraná são uma dessas agradáveis simbioses. Quando se aprofunda na história de um, acaba-se inexoravelmente desvendando a história do outro.
Independente da veia latente de regionalidade que emana da obra de Arthur Nísio, somos meio que apanhados pelo conjunto de sua obra. Ela é tão sincera e real, que parece dividirmos aqueles lugares em algum canto escondido de nossa memória. Um canto de quintal que guarda um cheiro de infância, a lida rotineira de seus personagens, que parecem a nossa própria lida... Tudo, tudo ali representado com tanta energia e vigor, que fica impossível não se envolver por sua obra.
Arthur José Nísio nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 15 de maio de 1906. Essa interrelação que foi mencionada acima, do artista e sua terra, já tinha antecedentes que impediriam que as coisas se formassem de outra maneira. Não só a sua história, mas a de toda a sua família, tem uma ligação estreita com a história do Paraná. Seu avô paterno, um mecânico italiano, e seu avô materno, um ferreiro alemão, chegaram ao Brasil contratados pela empresa francesa encarregada da construção da estrada férrea Curitiba-Paranaguá. No alvoroço dessa que foi uma das obras de engenharia mais importantes da história do estado, estreitaram-se os laços das famílias Nísio e Reimann. Jélio Reginato Nísio e Reimann Nísio, pais de Arthur, tiveram seis filhos. Nos tempos difíceis das duas primeiras décadas do século XX, mudaram-se para Porto Alegre, em 1918, mas já em 1923, regressaram à Curitiba.
A aptidão nata ao desenho concedeu ao jovem artista, uma bolsa de estudos. Já aos 17 anos, encaminha-se para o Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre. Era apenas o começo da trajetória de um dos maiores artistas do estado do Paraná. Em 1924, retornando a Curitiba, Nísio torna-se aluno do ateliê de Lange de Morretes, artista temperamental, mas muito inteligente e tecnicamente preparado. Entre 1925 e 1927, também freqüenta o ateliê de João Turin, para se especializar em escultura e modelagem.
Sua primeira exposição se deu entre os dias 1 e 16 de maio de 1928, onde apresentou desenhos, xilogravuras e paisagens. Apesar de bem recebidos, os trabalhos não vendiam. Nísio se desestimulava, e quando tudo parecia perdido, recebeu a visita de um casal que logo comprou duas telas. Ao olhar no livro de assinaturas, constatou que se tratava de Dr. Afonso Camargos, governador do estado, e sua esposa. Um belo incentivo, que lhe trouxe bons frutos futuros.
Aos 22 anos, procurando evoluir em seus estudos, parte para a Alemanha. Muitas visitas a museus e galerias faziam parte constante de sua rotina. Mas, foi com Max Bergmann, da Academia de Belas Artes de Munique, que herdou um traço inconfundível na pintura de animais, tanto que Arthur Nísio é conhecido mundialmente como um dos mais preciosos talentos da pintura animalista. Também estudou nesse período: figuras, nus, paisagens e naturezas mortas. Em 1934, na Renânia Palatinada, freqüentou conferências sobre “A figura na paisagem”, proferidas por Homeisen e Eugen Osvald.
Arthur Nísio se encontrava na Alemanha em pleno auge da Segunda Guerra Mundial. Não foram momentos fáceis. Teve que enviar 5 obras para análise da Gestapo e recebeu autorização para que pudesse continuar seu trabalho. Diferentemente da crise social e política que reinava no continente europeu, começou a obter sucesso com seus trabalhos. Participou de diversas exposições em várias cidades alemãs e em 1938, recebeu o convite para participar de uma exposição organizada pela nova prefeitura de Landau Rhein-Pfalz, onde recebeu inclusive uma sala especial. Com apenas 1 hora de exposição, já havia vendido todas as suas 5 telas. Um grande êxito, afinal estavam expostos mais de 2 mil trabalhos. Mesmo em um aparente estado de tensão social, pela guerra que se intensificava cada vez mais, viveu um período muito produtivo, vendendo tanto quanto executava e nunca conseguindo atender a tantos pedidos. Casa-se em 1940 com Katharina Nísio. Os horrores começaram mais severamente em 1942. Bombardeios forçaram suas saídas de Munique. Em meio a todo esse caos, nasce Gudrun, a filha do casal. Em 1943 se viu obrigado a abandonar a arte e trabalhar nas lavouras, afinal toda mão de obra era necessária, para alimentar os fronts da guerra. Após 1944, fugiu para próximo à Munique, numa localidade de nome Haimhausen. Perdera tudo que havia acumulado nos seus 18 anos de Europa. Da Alemanha foram enviados para um campo de refugiados na França, de onde seriam transferidos para a América do Sul. A vontade de continuar com a arte era tanta, que chegou a vender o sobretudo em Paris, para comprar tintas e pincéis. Desenhou e pintou de tudo, até trabalhos para joalherias. Mas queria imensamente voltar ao Brasil.
De volta ao Brasil em 1946, recomeça dificilmente em Curitiba. A família foi a âncora no momento que mais precisava. Perdeu tudo de material que havia conquistado, mas voltou com uma bagagem de conhecimentos que jamais teria conseguido, sem as experiências em terreno europeu. Não lhe faltavam admiradores. Seu trabalho já se consolidava com uma força insuperável. Voltou para, definitivamente, marcar a história das Artes Plásticas no Paraná. Participou da Fundação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e ocupou várias cadeiras de ensino daquela instituição. Sempre sonhou com uma arte paranaense própria e coesa para todos os artistas de sua geração. Faleceu no dia 26 de abril de 1974, depois de vários meses de internação. Seus pincéis só foram abandonados duas semanas antes de sua morte.
Dono de uma pincelada inconfundível e de um bom gosto extremo para as colorações, Nísio aliou técnica com expressão. É certamente um dos maiores nomes da arte desse país.
Livro sobre biografia e obra do artista.
Lançado pela Posigraf Editora Ltda, em 2003, com textos de Angela Wank.
Exposições Coletivas
s.d. - Keiserslanter, Landau, Luduwigs, Hafen e Baden-Baden (Alemanha) - Grande Exposição da Escola Geral de Max Bergmann
1931 - Munique (Alemanha) - Glass Palace de Munich
1947 - Curitiba PR - 4º Salão Paranaense de Belas Artes, no Edifício do Orfeão da Escola Normal de Curitiba - medalha de ouro
1950 - Curitiba PR - 7º Salão Paranaense de Belas Artes, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto
1951 - Curitiba PR - Salão da Primavera
1953 - Curitiba PR - 10º Salão Paranaense de Belas Artes, na Exposição Internacional do Café e Feira de Curitiba - Tarumã
1954 - Curitiba PR - Salão Paranaense de Belas Artes - prêmio de viagem
1955 - Curitiba PR - 8º Salão de Belas Artes da Primavera, no Clube Concórdia - Prêmio Prosdócimo
1956 - Curitiba PR - Salão Paranaense de Belas Artes - prêmio aquisição
1957 - Curitiba PR - Salão Paranaense de Belas Artes - prêmio aquisição
1958 - Curitiba PR - 10º Salão de Belas Artes da Primavera, no Clube Concórdia
1960 - Curitiba PR - 12º Salão de Belas Artes da Primavera, no Clube Concórdia
1968 - Paraná - 5 Mestres da Pintura do Paraná
1972 - Curitiba PR - Coletiva de Artistas Paranaenses, na Galeria Cocaco
1973 - Paraná - Mostra Itinerante da Pintura do Paraná
Exposições Póstumas
1976 - Curitiba PR - Retrospectiva Arthur Nísio, no Salão de Exposições do BADEP
1986 - Curitiba PR - Tradição/Contradição, no MAC/PR
1987 - Curitiba PR - Verão Arte, na Galeria Acaiaca
1988 - Curitiba PR - 8ª Mostra de Gravura, no FCC
1988 - Curitiba PR - 8ª Gravadores Paranaenses das Décadas de 50/60, no Museu Municipal de Arte
1989 - Curitiba PR - Uma Arte Singular Arthur Nísio, no MAC/PR
1991 - Curitiba PR - Museu Municipal de Arte: acervo, no Museu Municipal de Arte
1999 - Curitiba PR - Retratos, no EMBAP
2004 - Curitiba PR - A Paisagem Paranaense e seus Pintores, na Casa Andrade Muricy