Arnaldo Ferrari (São Paulo SP 1906 - idem 1974)
Pintor, desenhista, professor.
Seguindo a profissão do pai, trabalha como pintor decorador, realizando frisos decorativos para residências. Estuda artes decorativas no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, entre 1925 e 1935. Em 1934, divide um ateliê com amigos no edifício Santa Helena e, pela amizade com o pintor Mario Zanini (1907 - 1971), aproxima-se dos demais integrantes do Grupo Santa Helena. Como Alfredo Volpi (1896 - 1988), faz decorações para palacetes, dedicando-se à pintura esporadicamente. Freqüenta também o curso livre de pintura e desenho na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde tem aulas de desenho e pintura com Enrico Vio (1874 - 1960), entre 1936 e 1938. Sua produção inicial aproxima-se daquela dos pintores do Grupo Santa Helena em relação aos temas e realiza paisagens dos arredores de São Paulo, naturezas-morta e nus. Entre 1950 e 1959, integra o Grupo Guanabara, com Thomaz (1932 - 2001), Tomie Ohtake (1913), Tikashi Fukushima (1920 - 2001) e Oswald de Andrade Filho (1914 - 1972), entre outros. Na metade da década de 1950, interessa-se pela obra do pintor uruguaio Joaquín Torres-García (1874 - 1949), e volta-se para a pintura abstrata e construtivista. É apresentada retrospectiva de sua obra em 1975, no Paço das Artes, em São Paulo, e catálogo com textos de Theon Spanudis (1915 - 1986), José Geraldo Vieira (1897 - 1977) e Mário Schenberg (1914 - 1990), entre outros.
Comentário Crítico
Arnaldo Ferrari estuda desenho no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1925 e 1935. Também em torno de 1930, freqüenta o curso livre de desenho e pintura da Escola de Belas Artes de São Paulo, onde é aluno de Enrico Vio (1874-1960). Até a década de 1950, acompanha o Grupo Santa Helena, produzindo naturezas-mortas e paisagens dos arredores de São Paulo, que apresentam grande simplificação formal e uma paleta de tons escuros.
A partir da metade da década de 1950, aproxima-se do Grupo Guanabara, também de São Paulo. Nessa época, começa a pintar paisagens urbanas, principalmente fachadas de casas, cujo tratamento formal tende cada vez mais à abstração, como em Casario (1960) e em Igrejas e Casas (1962). Sua pintura passa a vincular-se ao construtivismo geométrico, revelando a apreciação da obra do pintor uruguaio Joaquín Torres-García (1874-1949). Predomina em suas obras um ritmo visual vibrante, dado pela freqüência de curvas e contracurvas ou pelo jogo de ortogonais, em composições cuidadosas. Os quadros revelam uma pulsação interna forte, dada também pelo uso da gama cromática, densa e profunda, mais do que impactante. Na opinião do historiador da arte Walter Zanini (1925), na obra do artista está presente sempre uma espiritualização em tudo aquilo que compõe o seu universo.
Críticas
"As conexões culturais não podem todavia nos influenciar no julgamento de considerar Arnaldo Ferrari como um artista alicerçado à base de si mesmo. Suas composições laboriosas e depuradas não são menos frutos de impulsos primordiais, de forças inconscientes ou irracionais. Intuitivamente ele rege suas composições organizadas segundo princípios topológicos rigorosos mas onde finalmente formas, contornos e cores ordenam-se como se ganhassem o direito da própria iniciativa para encontrar e caracterizar sua dimensão mais natural. Indefectivelmente, este pintor que se descobriu em plena maturidade tende à linguagem dinâmica. Não apenas ela é vibrante pela frequência das curvas e contracurvas e das linhas diagonais ascendentes e descendentes, porém também pela extrema vivacidade na utilização das cores primárias. (...) Se há um vigor inegável nessa límpida organização gráfica e plástica não é menos verdade que a emocionalidade recôndita do pintor o leva muito além da fixação nos limites visuais da forma. Theon Spanudis fala-nos de sua ´mensagem mística´. Prefiro, mais genericamente, referir-me a uma espiritualização de tudo aquilo que compõe seu universo dinâmico e entretanto sóbrio e refletido".
Walter Zanini
ARNALDO Ferrari. Apresentação de Walter Zanini. Texto de Daisy Peccinini de Silva. São Paulo: Portal Galeria de Arte, s.d.
"Foi em meados da década de 1950, estimulado pelo conhecimento do ´universalismo construtivo´ do pintor uruguaio Joaquín Torres García e pela convivência com o predomínio crescente da abstração geométrica entre nós, que Ferrari tratou de dirigir-se mais insistentemente, primeiro para a depuração do real, em paisagens que se arquitetam com poucos e rarefeitos elementos, e depois para o descarte total da figura, em composições que quase sempre se situam no ponto de encontro da razão com a emoção da geometria com a visceralidade. (...) Fez também com que o nosso olho nunca visse nas suas retas e curvas a precisão absoluta da régua e compasso, dotando cada encontro de áreas de uma pulsação interna muito forte, originária de regiões para além do puramente mental. Quis que as formas se unissem umas às outras como se estivessem em constante movimento de sístole e diástole. E à cor, de índole carregada, deu profundeza, mais do que impacto. Tudo isto revelando o acordo da liberdade com a ordem, sincronia do emocional com o racional, a conjugação do intuitivo com o construído, numa pintura geralmente densa, espessa e pulsante, alimentada de terra e não de ar. Pintura que a crítica ainda tem por tarefa descobrir e conhecer melhor".
Roberto Pontual
5 Mestres brasileiros. trad. Judith Hodgson. BIEZUS, Ladi. Roberto Pontual. Rio de Janeiro, Kosmos, 1977.
Acervos
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP - São Paulo SP
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil - São Paulo SP
Exposições Individuais
1961 - Campinas SP - Individual, na Galeria Aremar
1962 - São Paulo SP - Individual, no Clube dos Artistas
1963 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria La Ruche
1964 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Novas Tendências
1973 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Portal
1969 - São Paulo SP - Individual, no MAC/USP
1969 - Belo Horizonte MG - Individual, no Museu de Arte de Belo Horizonte
1969 - Juiz de Fora MG - Individual, na UFJF
Exposições Coletivas
1944 - São Paulo SP - 9º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
1949 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1952 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - medalha de prata
1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso Nacional de Intelectuais
1954 - São Paulo SP - 3º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1955 - São Paulo SP - 4º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1958 - São Paulo SP - 7º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - pequena medalha de prata
1959 - São Paulo SP - 8º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - prêmio aquisição
1960 - São Paulo SP - 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1960 - São Paulo SP - Expõe com Geraldo de Souza, Trindade Leal e Geza Heller, na Galeria de Arte das Folhas
1961 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Arte Moderna
1961 - São Paulo SP - 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - prêmio de viagem ao país
1962 - Rio de Janeiro RJ - 11º Salão Nacional de Arte Moderna
1963 - São Paulo SP - 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1963 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - prêmio aquisição
1965 - São Paulo SP - 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1966 - Brasília DF - 3º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal
1966 - Campinas SP - 2º Salão de Arte Contemporânea de Campinas
1966 - Estados Unidos - Itinerante Dezessete Pintores Latino-Americanos da 8ª Bienal Internacional de São Paulo
1966 - Salvador BA - 1º Bienal Nacional de Artes Plásticas
1966 - São Paulo SP - 15º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia - medalha de ouro
1966 - São Paulo SP - Três Premissas, no MAB/Faap
1967 - Campinas SP - 3º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, no MACC
1967 - São Paulo SP - 9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1968 - Santo André SP - 1º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no Paço Municipal
1968 - São Paulo SP - 17º Salão Paulista de Arte Moderna
1969 - São Paulo SP - 10ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1971 - Santo André SP - 1º Salão de Arte Contemporânea - 1º prêmio
1971 - São Caetano do Sul SP - 2º Salão de Arte Contemporânea
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Mostra de Arte Sesquicentenário da Independência e Brasil Plástica - 72, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
1975 - São Paulo SP - Arnaldo Ferrari: retrospectiva, no Paço das Artes
1978 - São Paulo SP - Construtivistas e Figurativos da Coleção Theon Spanudis, no Centro de Artes Porto Seguro
1979 - São Paulo SP - Coleção Theon Spanudis, no MAC/USP
1981 - São Paulo SP - Arte Transcendente, no MAM/SP
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1990 - São Paulo SP - Figurativismo/Abstracionismo: o vermelho na pintura brasileira, no Instituto Cultural Itaú. Centro de Informática e Cultura
1991 - Belo Horizonte MG - Figurativismo/Abstracionismo: o vermelho na pintura brasileira, no Instituto Cultural Itaú. Núcleo de Informática e Cultura
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1993 - Campinas SP - Figurativismo/Abstracionismo: o vermelho na pintura brasileira, no Instituto Cultural Itaú. Centro de Informática e Cultura II
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1996 - Rio de Janeiro RJ - Tendências Construtivas no Acervo do MAC USP: construção, medida e proporção, no CCBB
1996 - São Paulo SP - Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP
1996 - São Paulo SP - O Mundo de Mário Schenberg, na Casa das Rosas
1998 - São Paulo SP - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/SP
1999 - Rio de Janeiro RJ - Arte Construtiva no Brasil: Coleção Adolpho Leirner, no MAM/RJ
2002 - Rio de Janeiro RJ - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2002 - São Paulo SP - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - Brasília DF - Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2006 - São Paulo SP - Arnaldo Ferrari: 100 anos, na Galeria Berenice Arvani
2008 - São Paulo SP - Ruptura, Frente e Ressonâncias, na Galeria Berenice Arvani
2009 - São Paulo SP - Anos 50 - 50 Obras, na Galeria Berenice Arvani
2010 - São Paulo SP - Preto no Branco: do concreto ao contemporâneo, na Galeria Berenice Arvani
2010 - São Paulo SP - 6ª sp-arte, na Fundação Bienal
2011 - São Paulo SP - 7ª SP-Arte, no Pavilhão da Bienal
Fonte: Itaú Cultural