Antônio Souza Pinto (Porto, Portugal, 1846 - Rio de Janeiro, RJ, 1921)
Pintor, professor, caricaturista e litógrafo.
Irmão do pintor José Júlio de Souza Pinto (1856-1939), Antônio Alves Vale de Souza Pinto chegou ao Brasil por volta de 1862.1 Supõe-se que tenha estudado na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), no entanto não se encontram quaisquer registros nos cadernos de matrícula da instituição.
Ainda no Império participa das Exposições Gerais de Belas Artes de 1876, 1879 e 1884. Na de 1876, recebe menção honrosa. Em 1879, medalha de prata. Em 1884, segunda medalha de ouro. Em 1882, participa da Exposição do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Durante a República expõe trabalhos em dez edições das Exposições Gerais de Belas Artes, entre 1890 e 1919. Em 1900, faz parte da Exposição Artístico-Industrial Fluminense. Em 1870 funda, dirige e ilustra a revista O Lobisomem. Em 1871, a revista é absorvida pela O Mosquito, onde passa então a colaborar. Nesse ano também inicia colaboração na Vida Fluminense, de Augusto de Castro e Antônio de Almeida, onde trabalha Angelo Agostini (1843-1910).
Durante os anos 1870 torna-se professor no liceu, lá permanecendo por décadas. Entre 1890 e 1893, é vice-diretor da instituição. Entre 1875 e 1893, colabora para as ilustrações da revista O Mequetrefe, ao lado dos ilustradores Candido Faria, Pereira Neto e Joseph Mill, e dos redatores Olavo Bilac (1865-1918), Artur Azevedo (1855-1908), Lopes de Mendonça e Filinto de Almeida (1857-1945), entre outros. Alterna essa atuação com a que faz em O Mosquito. Entre 1889-1890, funda com Teixeira Rocha e Hilarião a efêmera revista O Monóculo. Em 1911, colabora na nova edição da revista Brazil Artístico, da Sociedade Propagadora das Belas Artes, ligada ao liceu. Durante toda sua carreira, até sua morte, oferece aulas particulares de desenho e pintura.
Comentário crítico
Antônio Souza Pinto é um caso exemplar de como são pouco conhecidos alguns artistas brasileiros do século XIX, apesar de sua assídua participação no cenário nacional.
Artista atuante por mais de 40 anos no Rio de Janeiro, Souza Pinto não apenas participa de quase todas as Exposições Gerais de Belas Artes entre 1876 e 1919 (atravessando vários anos do Império e também da República), como tem responsabilidade na consolidação da imprensa ilustrada no Brasil e no ensino das artes gráficas, capacitando profissionais para trabalhar nestas publicações.
Em sua produção destacam-se inúmeros retratos realizados em lápis, pastel (suas especialidades) e óleo, ao lado das incontáveis caricaturas publicadas em revistas como O Lobisomen, O Mosquito, O Mequetrefe e A Vida Fluminense.
Tem uma obra que chama pouca atenção da crítica carioca, mais voltada às pinturas históricas, de gênero e, no fim do século XIX, de paisagem. Os poucos comentários sobre Souza Pinto ao longo de sua carreira tratam de sua mestria na execução dos seus trabalhos. Para o crítico Gonzaga Duque (1863-1911), "dotado de verdadeira vocação para a arte, é sempre com esmero e consumado gosto que [Vale] conclui os seus quadros"2. Para outro crítico, Felix Ferreira (1841-1891), o artista, em suas obras, "prefere a semelhança e o movimento a essa finura a que os artistas chamam desenho lambido"3.
Se a importância de Souza Pinto parece residir mais na contribuição à cultura visual do seu tempo do que especificamente no debate das "belas" artes, não se deve esquecer que, no século XIX, esse mesmo debate mostra-se recorrentemente no âmbito da cultura visual por meio da divulgação daquelas revistas ilustradas. Por isso sua importante participação, de forma direta ou indireta, no fomento do cenário artístico brasileiro do período.
Notas
1 Segundo sugerem as notas de imprensa sobre o seu falecimento. Esse dado contraria a bibliografia atual, que acusa 1859 como o ano de chegada do artista ao Brasil.
2 DUQUE, Gonzaga. Arte Brasileira. Introdução e Notas: Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p.220.
3 FERREIRA, FELIX. Belas artes: estudos e apreciações. Introdução e notas de Tadeu Chiarelli. Porto Alegre: Zouk, 2012. p.119.
Exposições Coletivas
1876 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1879 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1894 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1895 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1902 - Rio de Janeiro RJ - 9ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1907 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1911 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1913 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1916 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1917 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1919 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
Exposições Póstumas
1946 - São Paulo SP - 12º Salão Paulista de Belas Artes, na Galeria Prestes Maia
1959 - Rio de Janeiro RJ - Coletiva, na Pinacoteca do Museu Imperial
Fonte: Itaú Cultural