Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte MG 1900 - idem 1995)
Pintor e escultor.
Amadeo Luciano Lorenzato começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza. No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman, com quem desenha nos fins de semana. Em 1928, ambos decidem viajar de bicicleta ao leste europeu, passando por Áustria, Eslováquia, Hungria, Bulgária e Turquia. Finda a viagem em 1930, o artista separa-se de Cornelius e muda para Paris, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial. Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura. Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
Comentário Crítico
Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, descendente de italianos, Lorenzato vive a infância no Brasil. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sua família resolve retornar à Itália. Aos 20 anos, ele passa a exercer a atividade de pintor da construção civil. Em 1925, estuda na Reale Accademia delle Arti, na Galleria Olimpica di Vicenza (atual Accademia Olimpica Vicenza). Seus primeiros quadros são realizados em excursões que faz aos domingos pelos arredores da cidade.
Em 1926, em Roma, conhece o pintor Cornelius Keissman. Por volta de 1928, acompanhado por Keissman, faz longa viagem de bicicleta por diversos países da Europa. Vive da venda de pequenos guaches e aquarelas e de cartões impressos com a foto dos dois artistas ao lado de suas bicicletas. Em Bruxelas e Paris, permanecem por mais tempo. Em Paris, Lorenzato trava amizade com o pintor italiano Gino Severini (1883 - 1966) e aproveita para ampliar seu conhecimento sobre a obra dos impressionistas, pelos quais revela profunda admiração. Ele afirma ter também grande fascínio pelos trabalhos dos mestres renascentistas italianos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), retorna ao Brasil em 1949 e se fixa com a família em Belo Horizonte. Sofre um acidente em 1956, devido ao qual se aposenta. Passa então a dedicar-se inteiramente à pintura. Para a estudiosa Cláudia Giannetti Nölle, em sua pintura o artista prescinde dos detalhes e se concentra nas linhas e cores essenciais, procedimento freqüente em pintores próximos ao primitivismo. Começa a utilizar um pente de metal comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, com o qual funde as camadas de tinta na tela. O resultado é a apresentação de linhas tortuosas e leves reentrâncias dispersas por todo o quadro.
Lorenzato retira seus temas da realidade cotidiana tanto nas paisagens quanto nas naturezas-mortas e retratos. Utiliza freqüentemente novos materiais como a tela de arame, madeira e papelão, assim como pratos, caixas e abajures que servem de suporte para sua pintura. Realiza também esculturas, trabalhando com argila e, nas obras maiores, com cimento. Na escultura apresenta tendência à redução a formas básicas e linhas essenciais, embora imprima às figuras grande intensidade e força de expressão. Para Nölle, sua obra é sobretudo uma criação espontânea, na qual os elementos se fundem naturalmente.
Acervos
Fundação Clóvis Salgado - Belo Horizonte MG
Museu de Arte da Pampulha - MAP - Belo Horizonte MG
Críticas
"(...) A disposição de elementos e cores atende a um jogo de equilíbrio que dinamiza suas representações contemplativas e estáticas. Da mesma forma consegue imprimir vigor às abstrações frequentemente geometrizadas dos elementos que compõem o quadro através do emprego de um recurso técnico desenvolvido por ele. O resultado são ondas breves, de linhas tortuosas gravadas na tinta, eminências e depressões não muito salientes que se dispersam por todo o quadro, se tornando mais intensas sobretudo nos elementos que servem de fundo (paredes, céus, montanhas). Este pente, único exemplar adquirido em Paris, era utilizado anteriormente na ornamentação de lambris que imitavam mármore ou madeira, muito em moda até meados do século, principalmente no desenho das veias e nervuras. (...) Seus temas são tirados diretamente da realidade cotidiana. Buscando continuamente novos materiais,já trabalhou em tela de arame, madeira, papelão".
Cláudia Giannetti Nolle
LORENZATO. Lorenzato: 90 anos. Belo Horizonte: Manoel Macedo Galeria de Arte, 1990.
"Por muito tempo a obra de Amadeu Luciano Lorenzato esteve associada à tradição popular. Contribuiu para isso a freqüência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos, Porém, uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que sal pintura tem de mais importnate.
Se o artista elege s temas populares é para deles retirar as formas, cores e luzes que sintetizam a própria essência do trabalho. Seu interesse está na reflexão sobre os próprios meios da pintura, na construção de uma linguagem que se relacione acima de tudo com ela mesma, e não com a representação de um tema específico. Seu objetivo é construir formas e imagens que permitam experimentar o mundo de uma maneira nova; diferente daquela que o cotidiano puro e simples oferece.
Nesse sentido sua obra dialoga com a pintura moderna, ao reafirmar sua condição de construção de sentidos por meio da própria linguagem plástica e permitir a experiência estética para além da literalidade do tema.
Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa, temdo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX.
Como artista desejoso em investigar o próprio fazer, produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos, criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros".
Janaina Alves Melo
MELO, Janaina Alves. Apresentação. In: LORENZATO; SILVA, Fernando Pedro da (coord.); RIBEIRO, Marília Andrés (coord.). Lorenzato - Depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 96 p., il. p&b. color. (Circuito Atelier, 8). p. [3-4].
Depoimento
Como surgiu a idéia de utilizar o pente para pintar?
Eu era pintor, especialista em decoração com estambres marmorizados, fingimento de mármore e madeira; se fazia o fundo de óleo, depois as veias em amarelo, vermelho, preto, e depois com o pente a gente arrematava. Para fazer as veias das madeiras eu comprei uma coleção de pentes para decorador em Paris. Depois voltei para Belo Horizonte e já não usava mais esse negócio. Um dia tive a idéia, forrei um papelão e depois com o pente comecei a mexer e deu um troço qualquer. Isso foi mais ou menos há uns dez anos atrás. Assim eu então comecei. Eu tinha seis pentes, mas perdi os outros e ficou só um, que é esse aqui, que eu dividi no meio, porque era muito largo. Primeiro eu pinto, espalho a tinta de diversas cores, e depois com o pente eu vou fundindo. Uso o pincel para espalhar a tinta e o pente para fundir as cores.
Quais são os motivos que o senhor mais gosta de pintar?
Gosto muito de céu, árvores e estradas. Percorri muitos quilômetros a pé pelas estradas, toda a Toscana, a Áustria; as estradas não estavam asfaltadas e havia muitas árvores de fruta: cerejeiras, pereiras e macieiras.
O que é a arte para o senhor?
Bem, a arte para mim é um passatempo, é uma terapia que me ajuda a viver. Quando estou pintando, esqueço tudo. Até aconteceu algo inusitado outro dia: estávamos fazendo um churrasco aqui, eu comprei um quilo e meio de lingüiça e pus no fogo para fritar e fui fazer um trabalho lá em baixo, uma escultura, e esqueci de tudo. Quando senti o cheiro de queimado, corri e tinha virado carvão.
Qual é o estilo que o senhor pinta?
Eu nem sei que estilo que é. É pintura! Dizem que é primitivo, que é ingênua, que é surrealista, eu não sei... Eu pinto aquilo que vejo, que me interessa.
Texto extraído do depoimento do artista, publicado no livro Lorenzato - Circuito Atelier, Editora C/Arte, Belo Horizonte, 2004. p. 31 a 34.
Exposições Individuais
1964 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1967 - Belo Horizonte MG - Individual, no Minas Tênis Clube
1971 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Chez Bastião
1973 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Arte Livro
1976 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Guignard
1977 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria Memória Cooperativa de Arte
1981 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Brasiliana
1984 - Belo Horizonte MG - Individual, na Casa dos Contos
1986 - Belo Horizonte MG - Individual, no Espaço Asal
1988 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1990 - Belo Horizonte MG - Individual, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1991 - Belo Horizonte MG - Individual, na Itaugaleria
1994 - Belo Horizonte MG - Individual, na Galeria da Caixa
1995 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
Exposições Coletivas
1965 - Belo Horizonte MG - Fim de Ano, no Minas Tênis Clube
1965 - Belo Horizonte MG - Salão Jovem, no Minas Tênis Clube
1970 - Belo Horizonte MG - Cinco Primitivos, na Galeria Guignard
1970 - Belo Horizonte MG - Coletiva, na Galeria Minart
1970 - Belo Horizonte MG - Semana do Folclore, na Galeria Minart
1973 - Bratislava (Eslováquia) - 3ª Trienal de Bratislava
1976 - Belo Horizonte MG - 1º Salão do Pequeno Quadro, na Galeria Guignard
1976 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares na 4ª Festa do Folclore Brasileiro, na Galeria Otto Cirne
1980 - Belo Horizonte MG - Primitivos Mineiros, na Mandala Galeria de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - 1ª Exposição de Arte Popular e Artesanato, no Shopping Center
1982 - Bauru SP - 1ª Mostra Nacional de Pintura Popular, na Galeria de Arte Sesc
1984 - Belo Horizonte MG - 1º Salão de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, na Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1985 - Belo Horizonte MG - Lorenzato e Valentim Rosa, na Galeria do Palácio das Artes
1988 - Roma (Itália) - Intercâmbio Cultural Itália-Brasil
1992 - Belo Horizonte MG - A. Poteiro, Lorenzato, Rodelnégio, na Manoel Macedo Galeria de Arte
1994 - Belo Horizonte MG - 5ª Feira de Arte, na Galeria Guignard
1994 - Belo Horizonte MG - Grandes Artistas Brasileiros, na Galeria Guignard
1994 - Ouro Preto MG - A Indentidade Virtual, A Pedra Sabão, no Museu da Inconfidência
1994 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Arte Popular do MEC, no MEC
1995 - Belo Horizonte MG - Exposição, no MAP
Exposições Póstumas
1996 - Belo Horizonte MG - Artistas Populares de Belo Horizonte, no Centro Cultural UFMG
2001 - Belo Horizonte MG - Individual, na Escola Guignard
2001 - Belo Horizonte MG - Lorenzatices, na Pace Galeria de Arte
Fonte: Itaú Cultural e Comar