Agostinho da Motta (Rio de Janeiro RJ 1824 - idem 1878)
Pintor, litógrafo e professor.
Matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, em 1837. Em 1850, Agostinho José da Motta recebe o prêmio de viagem ao exterior, concedido pelas Exposições Gerais de Belas Artes, e viaja para a Europa no ano seguinte. Reside em Roma de 1851 a 1855, onde estuda com o pintor francês Jean-Achille Benouville (1815 - 1891) e realiza algumas paisagens, como Vista de Roma. De volta ao Brasil, em 1856, é um dos fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes do Rio de Janeiro. Dois anos mais tarde, pinta os retratos de corpo inteiro do casal imperial, dom Pedro II (1825 - 1891) e dona Teresa Cristina (1822 - 1889). Ensina no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, em 1857, e na Aiba, entre 1859 e 1878, onde incialmente dá aulas de desenho e depois, de paisagem. Em 1872, é condecorado pelo imperador dom Pedro II com o título de Oficial da Ordem da Rosa.
Comentário Crítico
A maior parte da produção artística de Agostinho da Motta é composta de paisagens e naturezas-mortas. Sua interpretação da paisagem brasileira está entre as que melhor representam os ideais da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, na qual é aluno e, depois de estudar em Roma com Jean-Achille Benouville (1815 - 1891) e de lecionar no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, torna-se professor. Representa os ideais da Aiba tanto no que diz respeito à formação de uma imagem nacional como na formação da imagem do império, por meio de retratos, como os do casal imperial dom Pedro II (1825 - 1891) e dona Teresa Cristina (1822 - 1889), e de registros do cenário da época. É relevante o fato que a paisagem não seja tomada pelos acadêmicos brasileiros como um gênero secundário, embora fosse hierarquicamente inferior no modelo da academia francesa, na qual a Aiba se inspira. E a chamada pintura histórica sirva para criar uma imagem edificante do império e reafirmar a monarquia em território nacional, enquanto as paisagens e as naturezas-mortas produzidas na Aiba reafirmam a idéia de um país exótico e de diversidade natural.
Motta é um dos pintores que mais buscam retratar o caráter exótico da fauna e da flora brasileiras. Sua pintura de flores - ele foi um dos pioneiros do gênero no país - é calcada nessa idéia de diversidade. Há em cada tela uma grande variedade de espécies, dispostas de maneira a ressaltar as formas, as cores e a exuberância dessa flora. O mesmo acontece, de modo ainda mais acentuado, em suas pinturas de frutas, tema mais utilizado em sua produção de naturezas-mortas. Nelas vê-se como, embora certos artistas da Aiba, em especial Debret (1768 - 1848), tenham aclimatado para o Brasil ditames da academia francesa, o rigor formal importado da Europa predomina em quase toda a produção acadêmica da época. As frutas de Motta gozam de popularidade na corte, o que lhe comissiona muitos trabalhos. Predomina nelas mais uma vez a variedade de espécies: mangas, jacas, frutas-do-conde, pêssegos, carambolas, abacates, quase sempre recortadas de modo a exibir camadas e cores, em transições tonais que Motta aproveita para exibir seu domínio técnico de perspectiva e o uso competente das sombras para realçar o volume dos objetos.
São as paisagens, no entanto, a face mais conhecida da obra do artista. O gênero tem início no Brasil com os pintores que chegam com Maurício de Nassau no século XVII, mas sua popularização está diretamente relacionada com a fundação da Aiba, em 1826. A paisagem é um gênero hierarquicamente inferior, segundo as diretrizes da academia francesa. Os pintores estrangeiros, no entanto, adaptam algumas dessas regras à realidade brasileira. As paisagens de Motta são marcadas pela precisão topográfica, pelo registro exato das dimensões dos cenários - que o formalismo do artista, no que diz respeito à perspectiva, só faz por ressaltar - e pela competência com que capta as transposições entre as muitas cores que compõem os exteriores trabalhados. Paisagem do Rio de Janeiro, 1857, é um exemplo claro de como os cenários escolhidos pelo pintor, embora representados dentro de todas as regras que dita o academicismo francês, conferem a seus quadros a dimensão de identidade nacional, que a Aiba reforça em seus alunos, e o público aceita sem restrições.
Acervos
Coleção Brasiliana - Fundação Estudar, São Paulo
Museu Imperial, Petrópolis, Rio de Janeiro
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, Rio de Janeiro
Críticas
"Na paisagem e em natureza-morta (flores e frutos) Agostinho da Motta não tem com quem possa sofrer confronto, posto que não tivesse um toque vigoroso e seguro, um estilo tenso e nobre. O temperamento de Motta não lhe permitiu ser criador e arrojado, mas brando, manso e delicado, e, por isso, a feição mais tenra e suavemente poética que existia na natureza brasileira ele a apanhou e traduziu como ninguém ainda, até em nossos dias, a tem compreendido e interpretado com maior saber e igual talento".
Gonzaga Duque
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
"O intérprete mais original da paisagem brasileira na geração seguinte foi, sem dúvida, Agostinho José da Motta. (...) Em Vista de Roma, do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, demostra como tinha observado e estudado atentamente as obras dos paisagistas franceses como sede habitual na capital papal: ali se vislumbra a lição daquela 'precisão de toque' que era o lema de Corot e que Agostinho, como nenhum outro artista brasileiro, saberá utilizar na paisagem e na natureza-morta. Entretanto, seu maior mérito é o de ter aplicado esse delicado conceito da pintura aos temas e paisagens nacionais. (...) Em Fábrica Capanema em Petrópolis, no mesmo museu do Rio, estamos, pela primeira vez, diante de uma paisagem brasileira totalmente imune ao exotismo. (...) É a lição maior legada às gerações dos Da Costa, dos Pinto Bandeira e dos Parreiras, que irão renovar a pintura de paisagem no final do século".
Luciano Migliaccio
MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO (2000 : SÃO PAULO, SP), AGUILAR, Nelson (org. ), SASSOUN, Suzanna (coord. ). Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. 223 p. il. color.
Exposições Coletivas
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes - medalha de ouro
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1862 - Rio de Janeiro RJ - 15ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1865 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1868 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1870 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1872 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1875 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
Exposições Póstumas
1879 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Imperial das Belas Artes
1948 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva da Pintura no Brasil, no Museu Nacional de Belas Artes
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no Museu Nacional de Belas Artes
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional de Belas Artes
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1992 - Rio de Janeiro RJ - Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil
1998 - São Paulo SP - Brasil Século XIX: uma exuberante natureza, na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal
2000 - São Paulo SP - Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - São Paulo SP - Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana, na Pinacoteca do Estado
2005 - Fortaleza CE - Arte Brasileira: nas coleções públicas e privadas do Ceará, no Espaço Cultural Unifor
Fonte: Itaú Cultural